Folha de S. Paulo


'Alckmin terá que arrebatar o coração dos eleitores', diz Doria

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), diz que vai declarar neste sábado (9) na convenção do PSDB, em Brasília, que seu candidato à Presidência pelo partido "é Geraldo Alckmin".

É o capítulo final de uma disputa que os dois travaram pela indicação da legenda à candidatura.

Doria diz que não está frustrado já que "nunca" teria pleiteado a indicação.

Ele agora estaria lutando para ser o candidato tucano ao governo de São Paulo. Questionado, repete: "Meu foco é a Prefeitura de São Paulo". Sem, no entanto, descartar a ideia de forma taxativa.

Abaixo, trechos da entrevista que Doria concedeu à Folha em seu gabinete na Prefeitura de São Paulo:

*

Folha - Geraldo Alckmin será eleito presidente do PSDB neste sábado (9), o que fortalece o nome dele como o candidato do partido à Presidência da República. O senhor ficou frustrado já que também era cogitado como presidenciável?
João Doria - Não. Me sinto feliz. Primeiro pelo gesto do governador Marconi Perillo [de Goiás] e do senador Tasso Jereissati, que tiveram a grandeza de abrir mão de suas candidaturas [ao comando do partido] em prol de Geraldo Alckmin. E o governador teve grandeza de aceitar.

Foram gestos que vão trazer unidade para o partido.

Geraldo Alckmin será aclamado, e eu espero que, na sequência, sua candidatura à Presidência se cristalize.

E o senhor?
Nunca me apresentei como pré-candidato, no PSDB ou fora dele. Se houvesse essa obstinação, esse desejo, talvez eu tivesse aceitado o convite para me lançar [à Presidência] por outra legenda. Não fiz. Continuo no PSDB.

Atitudes do senhor foram interpretadas como uma tentativa de viabilizar seu nome. O senhor viajou pelo Brasil, conversou com lideranças nacionais. Por que fez isso se não era candidato?
São Paulo é global, a cidade mais brasileira do país, com o maior contingente de nordestinos, nortistas, sulistas fora de suas regiões. Então o fato de fazer viagens, principalmente quando se recebem homenagens, não significa fazer qualquer tipo de pleito.

O senhor não percebia que havia essa leitura? Aliados do próprio Alckmin chamaram o senhor de traidor.
Erroneamente. É compreensível a reação deles. Mas nunca houve ruptura nem distanciamento com o Geraldo. Nunca. Nunca. Tenho um grande respeito por ele, por sua trajetória, biografia, decência, honestidade.

Não sou dono dos institutos de pesquisas nem daqueles que manifestaram posições [favoráveis à sua candidatura]. Mas me ative sempre à minha condição de prefeito.

Não há uma frase, uma manifestação minha, uma gravação em que eu tenha admitido que poderia ser ou que era pré-candidato à Presidência.

Meu candidato à Presidência da República pelo PSDB é Geraldo Alckmin. Vou dizer isso na convenção inclusive.

Ele é um candidato competitivo? Há dúvidas se ele consegue ganhar as eleições.
Bom candidato ele é. Honesto, experiente, humilde. [Quanto a] ser competitivo, a campanha é que vai dizer. O Geraldo sabe que é importante que ele transmita confiança para a população. Sobretudo para os que não querem Lula nem [Jair] Bolsonaro.

Ele terá que arrebatar o coração desses eleitores, assim como o coração dos outros partidos, para que eles possam convergir para uma candidatura única. Os partidos de centro, com visão liberal, não terão chance com candidaturas fracionadas. Se isso ocorrer, vamos entregar a eleição.

O senhor incluiria o PMDB nessa grande aliança?
Incluiria. É um partido de centro, com proposta liberal nos planos econômico e político. Há vários PMDBs, mas eu acredito que essa visão do PMDB do [presidente Michel] Temer, do [senador] Romero Jucá, poderá ser convertida para uma candidatura única para vencer as eleições.

Eles condicionam o apoio à defesa do chamado legado de Temer, que tem 3% de aprovação, segundo o Ibope. É fácil defendê-lo?
Eu entendo que é o legado do Brasil. E o governador Alckmin sempre defendeu que temos que avançar nas propostas importantes.

O governo Temer avançou em várias delas. Fez a reforma trabalhista. A reforma da previdência, se aprovada, também será uma conquista.

A definição clara a favor das privatizações é outro ponto. O governador Alckmin foi desestatizante aqui em SP.

Temer deveria subir no palanque de Alckmin?
Não creio que isso seja necessário. O presidente desejará que seu sucessor tenha respeito por aquilo que foi feito na economia brasileira.

E por que não seria necessário subir no palanque?
O presidente não é candidato à própria sucessão. O PMDB, até aqui, não tem candidato. Não vejo razão para que isso seja objeto de palanque.

Alckmin deve defender as ideias mas não necessariamente estar ao lado de Temer?
Caberá ao governador Alckmin tomar essa decisão.

São inúmeras as informações de que o senhor quer agora concorrer ao governo de SP.
O meu foco continua sendo a prefeitura de São Paulo. Ao longo desses 11 meses [de gestão], acertamos muito mas também cometemos equívocos. Eu tenho que reconhecer isso com humildade, bom senso e equilíbrio, para corrigir o que for necessário. Já estamos fazendo isso. Portanto, nosso foco é a prefeitura. E, nesse momento, é também apoiar o Geraldo. A questão estadual será discutida em 2018.

Mas o senhor não descarta se candidatar?
O meu foco é a cidade de São Paulo.

Ou seja, não descarta.
[risos] O meu foco é a cidade de São Paulo.

Ainda vou insistir já que o senhor não diz claramente "não sou candidato".
Eu não encarto nem descarto. Eu sou prefeito de São Paulo. A minha dedicação é à prefeitura.

E o que o senhor acha da eventual candidatura do senador José Serra ao governo de São Paulo pelo PSDB?
Serra é um grande nome, do PSDB e da política brasileira. Merece respeito.

O senhor apoiaria ele?
É um homem que merece respeito. Ele merece respeito.

Mas apoiaria?
Ele merece respeito. Por merecer respeito, tem a minha consideração. Ele e tantos outros [pré-candidatos]. Luiz Felipe d'Ávila merece respeito. Floriano Pesaro merece respeito. Cauê Macris, José Aníbal. São cinco nomes entre os que circunstancialmente podem se apresentar.

O senhor está na frente de todos eles nas pesquisas.
Não faço avaliação de pesquisas. Apenas transmito o meu respeito por todos esses nomes, em especial o do senador José Serra.

Pesquisa do Datafolha mostrou que 55% dos paulistanos acham que o senhor deve cumprir o mandato até o fim.
O que é um bom sinal. Ninguém deseja que alguém ruim fique [no cargo].

Uma outra pesquisa do Datafolha mostrou que 39% dos paulistanos consideram sua gestão ruim ou péssima.

Mostrou também que a aprovação é de 60%, entre ótimo, bom e regular. É um número respeitável.

Mas devemos compreender o recado, interpretar o sentimento das pessoas. É exatamente o que estamos fazendo.

Quais foram seus maiores erros? O lançamento da farinata, por exemplo, estaria na lista?
Sim. A farinata, como princípio, não é ruim. A cúria metropolitana de São Paulo tem isso como princípio basilar de apoio à redução da fome. Mas erramos na comunicação.

Houve precipitação?
A contraposição a isso foi eficiente. Nós erramos na comunicação, o que determinou um recuo. Para não ficar numa polêmica interminável, nós simplesmente cessamos o processo. Por outro lado, autorizamos o aumento no programa de alimentação orgânica na merenda escolar, com mais frutas, mais verduras e o aumento de proteínas.

Há muitas queixas em relação à zeladoria urbana.
Nunca me queixei. Mas há um fato real: a gestão anterior nos deixou um déficit de R$ 7,5 bilhões. Não é dizer que a culpa foi da gestão anterior. É apenas um registro. É importante que as pessoas saibam.

Eles contestam esses números apresentados pelo senhor.
Não contestam. Eles apenas dizem que deixaram dinheiro no caixa. De fato, deixaram. Mas deixaram um déficit de 15% do orçamento.

Depois de um ano de mandato, as pessoas acham que agora é com o senhor.
A partir do segundo ano de fato será conosco. A partir de 1° de janeiro o orçamento é nosso, a responsabilidade é inteiramente nossa.

Uma dos problemas que afetam o cotidiano do paulistano é o dos semáforos quebrados.
Houve um retardamento enorme do Tribunal de Contas, que segurou [o edital de licitação para o conserto dos aparelhos].

É mais difícil ser prefeito do que o senhor imaginava?
É. É. É mais burocrático e tem muitas intersecções. Essa questão dos semáforos: levamos nove meses para liberar o contrato de recuperação deles. Nove meses! É uma eternidade. É uma gestação.

Não é como no setor privado.
É diferente, embora você tenha princípios do setor privado que podem e devem ser aplicados ao setor público. Um dos grandes males é a burocracia. Nós estamos aqui fazendo um esforço grande, digitalizando processos, tirando o papel, economizando tempo, reduzindo o tamanho da máquina pública.

Um outro episódio marcante foi a divulgação do vídeo em que o senhor afirmou que o tucano Alberto Goldman era um fracassado de pijamas. O senhor se arrepende?
Ele já pediu desculpas a mim e eu já falei com ele também. Estamos equalizados. Eu não desrespeito a história nem a biografia de Goldman.

O que aconteceu com o senhor naquele dia?
Uma sucessão de fatos. Não cabe aqui [esmiuçá-los]. Eu não deveria ter feito o vídeo, assim como ele também se desculpou. Quantas vezes também você não escreveu, falou ou teve uma atitude em que disse depois: "Poxa, eu não deveria ter feito aquilo"?


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