Folha de S. Paulo


Para não constranger Alckmin, Aécio vai à convenção, mas só para votar

Pedro Ladeira/Folhapress
O senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do PSDB, fala com a imprensa após destituir o senador Tasso Jereissati (CE) da presidência interina do partido
O senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do PSDB, após o afastamento de Tasso Jereissati da chefia do partido

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) informou a aliados que irá comparecer à convenção do PSDB que escolherá o governador Geraldo Alckmin (SP) como seu sucessor na presidência do partido, da qual está licenciado. Mas evitará constrangimentos ao tucano: deverá votar na eleição da nova Executiva da sigla e provavelmente deixará o evento, em Brasília.

Com isso, o principal temor dos tucanos foi aplacado: o de um discurso de Aécio ou, pior, da presença do mineiro na tradicional foto consagradora da eleição de Alckmin —que, na prática, está sendo ungido o presidenciável do PSDB em 2018, apesar da insistência do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, em disputar prévias com eles.

Isso porque Aécio caiu em desgraça pública, sendo investigado pela Operação Lava Jato, e isso poderia manchar o que levantamentos internos apontam como maior ativo de Alckmin, a imagem de honestidade pessoal.

Aécio se licenciou da presidência do PSDB em maio, após a revelação de que pediu R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. Chegou a ter o mandato suspenso e recolhimento noturno determinados pelo Supremo Tribunal Federal, mas uma intrincada operação política levou o Senado a restituir suas prerrogativas parlamentares. Ele teve sigilos fiscal e bancário quebrados nesta semana.

Mesmo afastado, Aécio manteve grande influência sobre o PSDB, que dirigia desde 2013, quando começou a preparação para a campanha presidencial que quase ganhou no ano seguinte. Sua presença, fortemente criticada pela ala mais jovem do partido e lideranças como o senador Tasso Jereissati (CE), que viria a substitui-lo interinamente, tornou-se um fardo público.

A rejeição a Aécio cresceu, praticamente empatando com a de políticos como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas sem o ainda grande apoio popular em intenção de voto que o ex-presidente tem.

Aécio, como artífice da aliança do PSDB com o governo de Michel Temer (PMDB) na esteira do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, continuou sendo a principal ponte entre a sigla e o Palácio do Planalto. Tanto foi assim que operou ativamente em favor de Temer nas votações da admissibilidade das denúncias contra o presidente na Câmara.

Todo o processo desgastou grandemente o PSDB, que se viu cobrado pelo apoio a Temer, segundo pesquisas internas do partido. Mesmo líderes próximos a Aécio reclamaram de sua insistência em permanecer na berlinda. Seu último grande ato foi a destituição de Tasso, que manobrava para presidir o partido. O movimento foi fortemente estimulado pela cúpula do tucanato paulista, embora tenha precipitado a ameaça de um racha que obrigou Alckmin a aceitar a presidência do partido, o que ele relutava em fazer.

Nos últimos dias, lideranças tucanas vinham tendo dificuldade em fazer chegar a Aécio o pedido para não estar na foto com Alckmin. Primeiro, pela história do tucano no partido. Segundo, porque temiam que ele se sentisse humilhado e acabasse insistindo em participar —o que ele poderia, se quisesse, por ser integrante da atual Executiva.

Com o acerto intermediário, salvo intercorrências até a manhã do sábado, a situação parece estar resolvida. Seu grupo deverá ser representado com cargos de direção na Executiva tucana, também, o que ajuda a compor o quadro.


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