Folha de S. Paulo


PSDB deve tirar poder de filiados em prévia

O PSDB estuda um modelo de prévias para a escolha do candidato a presidente que reduz o poder de decisão dos filiados e dá maior peso a políticos com mandato.

Pela regra proposta, 25% da palavra final cabe a senadores e deputados federais, 25% a governadores e prefeitos, 25% a deputados estaduais e vereadores e 25% a filiados.

Apesar de o cronograma inicial estipular que, na convenção marcada para este sábado (9), os pré-candidatos a presidente já se inscrevessem para as prévias, a definição foi postergada.

Decidiu-se que será a nova Executiva partidária, comandada pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, que definirá a metodologia da eleição interna, que ele próprio deverá disputar caso o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, não recue da intenção de buscar o Palácio do Planalto.

Em uma reunião no último dia 30, voltada ao debate da reformulação do estatuto do PSDB, o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido, relatou os formatos cogitados.

O primeiro deles, extensivo a 1,2 milhão de filiados em todo o país, foi descartado. Alegou-se que apenas 800 mil estão hoje "contactáveis".

A prévia com esse universo, da mesma forma, foi desaconselhada. Sampaio argumentou que, por urna eletrônica, eventuais fraudes seriam inverificáveis. O voto impresso é considerado impraticável.

Após apresentar o modelo dos quatro quartos, Sampaio relatou que, "na conversa com o presidente Fernando Henrique, ele defendeu a tese que fosse 25% desses que estão aqui elencados".

Virgílio tem insistido com a Executiva tucana que se faculte a prévia a todos os filiados. "Eu quero uma pessoa, um voto", repete.

Sampaio disse, na reunião, que levou a sua preocupação a Alckmin "e ele concordou perfeitamente".

Públicas e reiteradas vezes o governador paulista defendeu a consulta aberta a todos os filiados, embora interlocutores tenham relatado que ele acenou positivamente para uma proposta que restringia o voto a cerca de 12 mil filiados, em setembro. Ele negou.

Alckmin e Virgílio se falaram por telefone e, segundo apurou a Folha, o governador paulista disse que seria uma "honra competir" com o prefeito de Manaus. Os dois combinaram de se encontrar pessoalmente na véspera da convenção, em Brasília.

Virgílio afirma que a decisão de disputar o posto de presidenciável é "inarredável" e observa que "seria difícil dizer não a Fernando Henrique", mas que não recuaria mesmo assim.

Na reunião de novembro, quando Sampaio fez a ponderação da dificuldade de ampliar o colégio eleitoral, tucanos presentes concordaram com o deputado federal Marcus Pestana (MG), que chamou a proposta de "uma loucura".

"A qualidade da filiação partidária no Brasil é muito ruim em todos os partidos, tem uma dimensão muito cartorial. Se tivesse a figura do militante que participa regularmente, contribui financeiramente, [faria sentido], mas não existe isso", argumentou Pestana, aliado do presidente afastado do PSDB, Aécio Neves (MG).

Se consumado o acordo que o levará à presidência do PSDB a partir de sábado, Alckmin ditará o ritmo de definição do modelo e da data da eleição interna.

A comissão que formula o novo estatuto estipulou que as prévias, se ocorrerem, deverão estar concluídas antes da janela partidária de março de 2018.

O objetivo é evitar que grupos deixem o PSDB se considerarem que eventual indefinição do presidenciável até lá os prejudicaria na eleição.


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