Folha de S. Paulo


Publicidade no Rio seguia critérios de Cabral, diz marqueteiro

TV Folha

O marqueteiro Renato Pereira, por dez anos responsável pelas campanhas do PMDB do Rio, afirmou à Procuradoria-Geral da República que as verbas de publicidade da gestão Sérgio Cabral (PMDB) eram distribuídas segundo "critérios políticos" do ex-governador.

Ele mencionou as TVs Record, Bandeirantes e a rádio Tupi como beneficiárias de propaganda oficial do Estado numa proporção acima da fatia da audiência que tinham.

"O critério técnico raramente era seguido. Havia veículos de comunicação, como a Record e a Bandeirantes, que acabavam tendo uma remuneração próxima à Globo. Enquanto a audiência da Globo era maior que a deles", disse ele, em delação.

A TV Bandeirantes negou ter relações políticas com o ex-governador. A TV Record e a rádio Tupi não responderam à reportagem.

A delação de Pereira foi devolvida pelo ministro Ricardo Lewandowski à PGR sem ser homologada. Lewandowski discordou da competência do Ministério Público para negociar uma pena. O coordenador da Lava Jato no Rio, procurador Eduardo El Hage, defendeu que o acordo com o marqueteiro seja mantido por abrir novas frentes de investigações na área de comunicação do governo Cabral.

Além de fazer todas as campanhas do PMDB desde 2006, Pereira assumiu as contas publicitárias do Estado em 2007, primeiro ano da gestão Cabral. De acordo com ele, a licitação foi dirigida para que sua empresa, a Prole, fosse uma das cinco vencedora.

Em relação à TV Bandeirantes, o marqueteiro disse que "havia uma relação mais estreita do governador".

"A TV Bandeirantes recebia mais do que deveria receber pelo share [pacela] que ela tinha na audiência."

A Bandeirantes já havia sido citada nas investigações sobre o caso Cabral. A quebra do sigilo fiscal da Objetiva, empresa de consultoria do ex-governador fundada após sair do governo, mostrou que a emissora pagou R$ 638 mil à consultoria.

"A Record também. Ia lá o representante da Record conversar com Cabral, fazia o seu lobby e conseguia um determinado acordo", disse Pereira, em seguida.

O marqueteiro afirmou ainda que "a rádio Tupi sempre era privilegiada com verbas generosas porque havia uma relação política para que falasse bem do governo do Estado".

O governo do Rio não divulga quanto pagou em publicidade para cada emissora. Durante os sete anos e três meses da gestão Cabral, o Estado gastou mais de R$ 1 bilhão em propaganda oficial.

Segundo o marqueteiro, havia também repasse para "jornais e rádios ligadas a políticos que recebiam verba regularmente através da Subsecretaria de Comunicação".

"Havia jornais, determinados veículos irrelevantes do ponto de vista de audiência, mas relevantes pelo juízo político do governador", disse.

O marqueteiro afirmou que a definição sobre veículos que receberiam publicidade oficial vinha do próprio governador e do subsecretário de Comunicação, Ricardo Cota.

As investigações do Ministério Público já apontaram que houve pagamento de propina por meio de rádio. O deputado Edson Albertassi (PMDB), segundo a Procuradoria, recebia R$ 60 mil por mês via a emissora da família do peemedebista.

OUTRO LADO

A TV Bandeirantes negou, em nota, qualquer vínculo político com Sérgio Cabral e disse que "cobra até hoje faturas em aberto emitidas durante a gestão do ex-governador ". A emissora também negou que a propaganda oficial interferisse no noticiário. "Com toda certeza, não. Porém, pairam dúvidas sobre a cobertura da Folha de S.Paulo", diz a nota, sem se estender sobre a insinuação contra o jornal.

A TV Record não respondeu. A Folha não conseguiu contato com a rádio Tupi.

O advogado de Cabral disse ser "clara a intenção de se ajustar ao discurso dominante para a obtenção dos benefícios legais".

Ricardo Cota disse que a distribuição da verba de publicidade seguia "critérios técnicos".


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