Folha de S. Paulo


PMDB usa gravação de Joesley na TV e diz que 'prova falsa' causou crise

Divulgação PMDB
Presidente Michel Temer e o marqueteiro Elsinho Moco em gravação de programa do PMDB
Presidente Michel Temer e o marqueteiro Elsinho Mouco em gravação de programa do PMDB

O presidente Michel Temer autorizou o PMDB a divulgar um programa com gravações de conversas entre o empresário Joesley Batista e seus advogados, com o objetivo de desqualificar a delação de executivos da JBS e a atuação do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

O vídeo de dez minutos, ao qual a Folha teve acesso, será veiculado a partir desta terça-feira (28) em rede nacional com a tese de que uma "falsa prova" utilizada por Janot ao apresentar as duas denúncias contra Temer "provocou uma das maiores crises políticas" do país.

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Na peça, o PMDB mostra reportagens sobre a alta do dólar e a queda na bolsa em meados de maio –quando a delação da JBS veio a público– para justificar a ideia de que a gravação de um diálogo entre Temer e Joesley, no qual Janot interpretou que houve aval do presidente para comprar o silêncio de Eduardo Cunha, causou um "estrago grande", mas logo "esvaziou-se".

"Além de atentar contra a honra do presidente, a falsa prova provocou uma das maiores crises políticas, paralisando uma agenda positiva e importantíssima para a recuperação econômica", diz a apresentadora do programa.

Em seguida, o vídeo estampa foto de Joesley e divulga o áudio de uma conversa entre ele e seus advogados. Nela, o empresário diz que Janot "quer ou ser presidente da República, ou ele indicar quem vai ser".

Segundo aliados, Temer decidiu atacar nominalmente Joesley e o ex-procurador-geral, mas ordenou que sua equipe de criação, chefiada pelo publicitário Elsinho Mouco, delegasse as falas à apresentadora, para não desgastar ainda mais sua imagem à frente do Palácio do Planalto.

O programa faz ainda uma referência irônica a um "auxílio luxuoso" do ex-procurador Marcelo Miller aos irmãos Batista para fechar a delação com a Procuradoria-Geral da República, e ao vazamento de uma conversa entre Joesley e Ricardo Saud, que resultou na revisão do acordo e na prisão de ambos.

"Foi bebendo do próprio veneno, entre outros tragos, que Joesley e Saud gravaram a própria conversa e revelaram toda trama armada contra o presidente", diz a peça.

Temer só aparece no fim do vídeo, com discurso curtíssimo. Diz que "ter a honra atacada dói, dói bastante, mas não se compara à dor do desemprego, da sobrevivência e da injustiça social".

"As mudanças que estamos fazendo têm um único objetivo, diminuir com a desigualdade para acabar com essa dor", finaliza Temer.

GESTÃO 'DESASTROSA'

Ainda a pedido do presidente, o programa do PMDB ataca os governos do PT e traz um quadro nomeado "pare e compare" com dados sobre inflação, juros, safra agrícola e balança comercial.

Auxiliares do Planalto avaliam que os números da economia melhoraram nos últimos meses e, no início de 2018, podem ser um motor para aumentar a popularidade de Temer, hoje em 5%.

"Já está mais barato para viver e poderia estar ainda melhor não fossem as tentativas de desestabilizar e paralisar o governo", repete a apresentadora.

Caciques do PMDB como Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado, e o presidente da casa, Eunício Oliveira (CE), aparecem em defesa do presidente e no ataque às gestões petistas, classificadas como "desastrosas".

Há, por fim, um esforço para colocar mulheres na peça. Temer é criticado por adversários por compor um ministério formado predominantemente por homens brancos.

A senadora Marta Suplicy (SP), ex-petista, e a secretária Fátima Pelaes (Mulheres), além da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, ex-mulher de Jucá, foram escaladas para cumprir a cota feminina.


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