Folha de S. Paulo


Odebrecht pediu 'contribuição' para aprovar MP, diz empresária

Rodolfo Burher - 20.jun.2015/Reuters
Marcelo Odebrecht (R), the head of Latin America's largest engineering and construction company Odebrecht SA, and Otavio Marques Azevedo (L), CEO of Brazil's second largest builder Andrade Gutierrez, are escorted by federal police officers as they leave the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, June 20, 2015. Brazilian police on Friday arrested Odebrecht and accused his family-run conglomerate of spearheading a $2.1 billion bribery scheme at state-run oil firm Petrobras. Police also apprehended Azevedo as the probe into corruption at Petrobras spread to the highest level of Brazilian business. REUTERS/Rodolfo Burher ORG XMIT: BRA107
Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, é escoltado ao deixar o IML de Curitiba

Em depoimento à Polícia Federal, a presidente da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar) disse ter ouvido do diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, que seria necessária a "contribuição" de empresários do setor para aprovação de uma medida provisória no Congresso.

Elizabeth Farina, presidente da entidade, foi intimada a depor pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da Procuradoria-Geral da República, porque Melo Filho disse em sua delação que a MP favorecia também o setor sucroalcooleiro. Segundo Farina, o pagamento não foi efetuado. A Unica representa cerca de 60% da indústria da cana processada no país.

A aprovação da MP 613, segundo a delação premiada de executivos da Odebrecht, gerou pagamento de propina de cerca de R$ 7 milhões a diversos parlamentares.

Aprovada em agosto de 2013, a MP concedeu incentivos tributários aos produtores de etanol e à indústria química por meio de crédito presumido e da redução de PIS/Pasep e Cofins.

Segundo os delatores da Odebrecht, essa MP beneficiava a Braskem, braço petroquímico da empreiteira.

São alvos do inquérito os senadores Romero Jucá (RR), Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE), todos do PMDB, e os deputados Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Eles negam irregularidades.

Segundo Melo Filho, durante as negociações para a aprovação da medida, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) "alegou que tinha divergências na discussão da MP 613" e também "externou que tinha problemas de relacionamento com o representante da Unica em Brasília". Melo Filho disse que relatou o problema ao então presidente da companhia, Marcelo Odebrecht.

A presidente da Unica afirmou à PF que Melo Filho não trouxe "detalhes acerca de que tipo de 'contribuição'", mas que o pedido "posteriormente chamou a atenção da depoente [Farina], fazendo-a pensar que tal 'contribuição' pudesse estar além de esforços de convencimento dos parlamentares que votariam contra a aprovação da MP".

Farina disse ter ouvido de dirigentes da entidade que "era certo que a Unica não trabalhava realizando contribuição financeira para que leis de interesse da entidade pudessem ser aprovadas pelo Congresso Nacional" e que, por isso, não houve repasse.

Em seu depoimento, ela disse que um dos trabalhos da Unica era "conscientizar agentes públicos e políticos sobre a importância de uma política pública para o setor".

Farina explicou que, quando uma alteração legislativa passa a ser debatida no Congresso, a Unica "intensifica sua agenda em Brasília".

Tal agenda "pode envolver, inclusive, encontro com parlamentares em seus gabinetes", do qual participam a diretoria da Unica e "eventualmente executivos de grandes indústrias sucroenergéticas e presidentes de outros sindicatos da categoria".


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