Folha de S. Paulo


Garotinho diz ter sido agredido na prisão; secretaria aguarda laudo

O ex-governador Anthony Garotinho, preso desde a última quarta-feira (22) no Rio, alegou na manhã desta sexta-feira que foi agredido em sua cela durante a madrugada.

Segundo o advogado Carlos Azeredo, Garotinho relatou que foi agredido com um porrete por uma pessoa que invadiu a sua cela. Ele não identificou o suspeito como agente penitenciário ou detento.

Garotinho foi levado no fim da manhã para a 21ª DP (Bonsucesso) para prestar depoimento. Ele teria chegado com ferimentos no pé e no joelho. O político passará por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal antes de retornar ao cárcere.

Garotinho está há dois dias presos na cadeia pública Frederico Marques, em Benfica, zona norte do Rio. O local ficou conhecido como "cadeia da Lava Jato no Rio" e é onde estão, por exemplo, o ex-governador Sérgio Cabral, o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani e o empresário de ônibus Jacob Barata Filho.

O ex-governador, contudo, foi preso por uma ação na Justiça Eleitoral. Ele é investigado pela operação Chequinho, de suspeita de compras de votos por meio do programa social Cheque Cidadão. O ex-governador nega as acusações.

A investigação do Ministério Público Eleitoral do Rio e da Polícia Federal já havia levado o ex-governador à cadeia por duas vezes. Nesta quarta, também foi presa a mulher de Garotinho, Rosinha Matheus, também ex-governadora do Rio.

O inquérito apura crimes de corrupção, organização criminosa e fraude na prestação de contas eleitorais. Há também a suspeita de contratos fictícios entre a JBS e campanha de Garotinho ao governo do Rio em 2014.

Garotinho alega que o processo é parte de um complô contra ele criado em reação às denúncias que fez contra Cabral e a cúpula política do Rio no últimos anos.

O ex-governador alega que revelou os esquemas de corrupção entre a cúpula do PMDB as empresas de ônibus que resultaram nas prisões da Lava Jato. Foi o blog do Garotinho, por exemplo, quem divulgou as fotos da chamada "farra dos guardanapos", durante um jantar de Sérgio Cabral, aliados e empresários em Paris, ocorrida em 2009. Oito dos presentes à festa estão presos pela Lava Jato.

A defesa de Garotinho critica o fato de ele ter sido levado para a prisão onde estão seus desafetos políticos. A deputada federal Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador, disse temer pela integridade física do pai na cadeia.

Segundo um agente penitenciário ouvido pela Folha, Garotinho estaria em uma cela no mesmo andar onde estão Cabral e Picciani, mas em uma galeria diferente, sem contato entre os presos.

O ex-governador estaria em uma cela sozinho na galeria B, onde haveria outras cinco celas, todas vazias. Já Cabral dividiria celas com outros presos na galeria A, onde também estaria Picciani, em cela separada. Ainda de acordo com esse agente, políticos do PR e do PMDB não fazem banho de sol juntos.

Procurada, a Secretaria de Administração Penitenciária afirmou que aguardará o resultado do exame do IML (Instituto Médico Legal) para se pronunciar.

O Ministério Público do Estado pedirá a transferência de Garotinho para outra cadeia. Um pedido será protocolado na Vara de Execuções Penais. Segundo a Promotoria, haveria motivo para a transferência do ex-governador em razão da natureza de seus supostos crimes, que não têm relação com a Lava Jato.


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