Folha de S. Paulo


Paes, Pezão e Cabral atuaram para direcionar licitações, diz marqueteiro

José Lucena/Futura Press/Folhapress
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, negociou acerto com agências, diz Pereira
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, negociou acerto com agências, diz Pereira

O marqueteiro Renato Pereira afirmou em sua delação premiada que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, seu antecessor no cargo, Sérgio Cabral, e o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, todos do PMDB, participaram diretamente de negociações para direcionar licitações de publicidade.

Nos depoimentos prestados à PGR (Procuradoria-Geral da República), ele relatou reuniões e conversas com os três peemedebistas para combinar fraudes nos processos de concorrência.

Pereira disse que, em 2015, foi aberto um novo edital para selecionar as agências prestadoras de serviço para o governo do Rio.

"Indiquei diretamente a Fernando Pezão as agências Propeg e Nacional, que se sagraram vencedoras, juntamente com a Prole e outras três, após direcionamento do certame", contou.

Pezão teria solicitado que um de seus subordinados, na Secretaria de Comunicação, fosse avisado do "acerto". Como parte da negociação, segundo ele, a Propeg repassaria à Prole parte de seus ganhos com o contrato.

Trechos da delação foram antecipados pelo jornal "O Globo". Na terça (14), o STF (Supremo Tribunal Federal) levantou o sigilo do caso.

Pereira explicou que as fraudes começaram logo que Cabral chegou ao Palácio da Guanabara, em 2007.

Naquela ocasião, o então governador, atualmente preso pela Lava Jato, teria indicado já na primeira concorrência as agências que ganhariam contas oficiais, entre elas a Prole. "Tal procedimento licitatório foi direcionado e as cinco agências vencedoras foram previamente escolhidas pelo próprio governador", disse Pereira.

Ele afirmou que as agências, uma vez contratadas, precisavam que os órgãos encomendassem campanhas. Por isso, era necessário fazer uma espécie de "leilão de propinas" para que as autoridades responsáveis efetivamente demandassem os serviços.

Pereira disse que Cabral determinava até o montante a ser repassado a veículos de mídia, com base em interesses políticos. Assim, emissoras de TV vinculadas a políticos poderiam, por exemplo, receber verbas desproporcionais à sua audiência.

O colaborador também implicou Paes nas supostas negociatas. Num dos depoimentos, contou que, em 2015, reuniu-se com ele para convencê-lo a dar um contrato de acompanhamento das Olimpíadas à FSB Comunicação.

"Marquei um encontro com Eduardo Paes na prefeitura e o convenci sobre a pertinência de selecionar a FSB. Minha argumentação foi acatada e o procedimento foi direcionado em favor da FSB."

Segundo ele, a partir disso, o então prefeito entrou em contato com um de seus subordinados, que teria passado a dirimir dúvidas ou solicitar informações. Um outro contrato da FSB, para atuar em mídias digitais, também teria sido direcionado.

OUTRO LADO

A Nacional negou envolvimento em qualquer acerto de licitação. A Propeg informou que as "supostas acusações" são "irresponsáveis, sem fundamento e que jamais negociou qualquer acordo com a Prole". A agência acrescentou que "todas as licitações das quais participa" são em conformidade com a lei.

A FSB disse, em nota, que são "absolutamente inverídicas" as afirmações de Pereira. Informou que as duas concorrências da prefeitura do Rio foram fiscalizadas pelos "órgãos de controle e jamais foram objeto de qualquer questionamento". Afirmou também que, caso a Prole tivesse o poder de "direcionar" contrato, "faria mais sentido que ela própria disputasse a licitação", o que não ocorreu.

"Pautamos nossa atuação por um código de conduta e ética baseado em normas de compliance. Por tudo isso, estamos permanentemente à disposição para prestar esclarecimentos sobre nossa atuação", acrescentou a FSB.

Paes respondeu que "a Prefeitura do Rio realizou a licitação para publicidade obedecendo às regras da lei, em processo aprovado por órgãos de controle interno e externo do município, como Procuradoria Geral do Município, Controladoria Geral do Município e Tribunal de Contas do Município".

"Certamente a comissão de licitação e o próprio procedimento licitatório poderão esclarecer que não houve qualquer interferência minha (Eduardo Paes) na escolha de qualquer empresa."

A Folha não localizou nesta quarta (15) as assessorias de Pezão e Cabral.

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POR TRÁS DAS CAMPANHAS
O que diz o marqueteiro e delator Renato Pereira sobre disputas do PMDB

Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

> Segundo Pereira, de fevereiro a junho de 2010 ele recebeu do executivo Leandro Azevedo, da Odebrecht, parcelas de R$ 300 mil mensais em dinheiro vivo para despesas da pré-campanha

> Na campanha, orçada em cerca de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões, valor foi pago oficialmente e por meio de caixa dois

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> Pereira diz que Paes lhe disse para procurar Azevedo para ele pagar o caixa dois da pré-campanha, orçada em R$ 400 mil

> Campanha de R$ 20 milhões foi acertada em reunião entre o marqueteiro, Paes e o deputado federal Pedro Paulo. Pereira diz ter recebido ao menos cinco pagamentos em dinheiro vivo de Guilherme Schleder, assessor de Paes

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> Segundo Pereira, a pré-campanha saiu por R$ 5 milhões, valor acertado com Pezão, que indicou Hudson Braga (ex-secretário estadual de Obras) para operacionalizar os pagamentos

> A campanha ficou em R$ 40 milhões, valor acertado com Cabral e seu braço direito, o ex-secretário Wilson Carlos. Parte do pagamento teria sido feito pela Andrade Gutierrez

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> Pereira diz que, em reunião com a senadora e seu marido, Márcio Toledo, orçou a pré-campanha em R$ 70 mil, e mais R$ 160 mil para o Instituto Ideia, que fez pesquisas. Valor teria sido pago pela agência CDN

> Na campanha em si, Pereira diz que foi consultor e recebeu R$ 316 mil do marqueteiro oficial de Marta

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> Pereira diz que orçamento da pré-campanha, em 2015, ficou em R$ 360 mil por mês. Parte foi paga regularmente, parte em dinheiro vivo e outra parte (três parcelas de R$ 300 mil) por Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde

> Já na campanha, orçada em R$ 25 milhões, Paes disse, segundo o delator, que o caixa dois seria quitado pela construtora Carvalho Hosken e pelo Grupo Guanabara, do empresário Jacob Barata -que nega a acusação

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> Pereira diz que conheceu o presidente da Fiesp em 2014, mas não assumiu sua campanha ao governo paulista. Em fevereiro de 2015, o delator diz que Skaf ofereceu a conta do sistema Fiesp/Sesi/Senai, em licitação direcionada

> O trabalho para entidade, na verdade, consistia em pesquisas e ações para projetar o nome de Skaf para uma eventual disputa em 2018


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