Folha de S. Paulo


Base rejeita critério de reforma ministerial proposta por Temer

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 13-11-2017, 12h00: O presidente Michel Temer e o ministro das cidades Bruno Araújo durante cerimônia de entrega do cartão reforma no palácio do Planalto. O ministro Bruno entregou à Temer uma carta de demissão, desligando-se do ministério na tarde de hoje. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Temer e Bruno Araujo, que deixou o Ministério das Cidades na segunda-feira (13)

Os principais partidos da base de Michel Temer rejeitaram a decisão do presidente de demitir políticos que disputarão eleições em 2018 e ameaçam criar um impasse na reforma ministerial, considerada determinante para a última fase do governo.

Pelo menos cinco siglas da coalizão do presidente já manifestaram, nos bastidores, posição contrária ao critério estabelecido por Temer para a redistribuição de cargos de seu primeiro escalão.

O Palácio do Planalto quer antecipar para dezembro a saída de todos os ministros que vão se candidatar no ano que vem. Assim, o presidente pretende evitar substituí-los em abril, quando a legislação eleitoral os obriga a deixar seus postos.

A linha de corte, porém, provocou reação negativa entre dirigentes de PP, PSD, PR, DEM e PRB. Em caráter reservado, eles dizem que não aceitam exonerar agora os ministros que admitem disputar as eleições de 2018.

Integrantes dessas siglas consideram que os políticos que ocupam os principais postos do governo se expuseram ao longo dos últimos meses para defender um presidente de baixíssima popularidade e salvá-lo de duas denúncias criminais apresentadas contra ele pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Além disso, os ministros reclamam que a saída prematura de suas pastas, antes do fim do ano, os impediria de colher os benefícios dos projetos desenvolvidos pela máquina federal -primordiais para suas campanhas.

A proposta de Temer, baseada no critério eleitoral, foi classificada por esses partidos como uma "declaração de guerra", nas palavras de um dirigente. As siglas vão pressionar o presidente a recuar, manter os ministros até abril e só então substituí-los.

"Tirar agora quem só precisaria deixar o posto em abril não será visto com bons olhos pelos partidos que dão sustentação ao governo", disse o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL).

Com a quarta maior bancada, de 45 deputados, o PP quer ampliar seu espaço no governo -hoje comanda Saúde e Agricultura-, mas admite abrir mão da segunda pasta caso consiga emplacar o novo ministro das Cidades.

O PMDB também reivindica o posto, mas o presidente pode contemplar seu partido com a Secretaria de Governo, Turismo e Minas e Energia.

Temer vai conversar com os presidentes e líderes dos partidos até a semana que vem para traçar o novo mapa da Esplanada.

FATOR MEIRELLES

A promessa do governo de excluir Henrique Meirelles (Fazenda) da reforma ministerial –com o discurso de manter a estabilidade da economia- será usada por esses partidos como argumento.

Eles pedirão a Temer o mesmo tratamento dado ao chefe da equipe econômica, que pode deixar o governo em abril para se candidatar ao Palácio do Planalto.

Em conversas reservadas, o presidente alega que o caso não é uma exceção. Ele cita como exemplo a reforma ministerial de Itamar Franco antes da eleição de 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi mantido na Fazenda, e só deixou o posto alguns meses depois para disputar a Presidência.

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse à Folha que Meirelles hoje não é candidato. E que, caso ele venha a se declarar, deverá ter sua vontade respeitada e deixará o governo como os demais ministros.

"Caso o Meirelles seja candidato, a política econômica do governo, que ele comanda com tanto acerto será mantida integralmente", disse.

Assim como o ministro da Fazenda, outros integrantes do governo pretendem ficar no cargo enquanto não decidirem seus futuros políticos, como Gilberto Kassab (Comunicações), Marcos Pereira (Indústria) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores).


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