Folha de S. Paulo


Moral e costumes entram em foco em congresso do MBL

Bruno Santos/Folhapress
Camisetas vendidas no 2º Congresso do MBL (Movimento Brasil Livre) que ocorreu neste final de semana em SP
Camisetas vendidas no 2º Congresso do MBL (Movimento Brasil Livre), em 2016

"É a economia, estúpido!", slogan consagrado na campanha presidencial dos EUA em 1992, fazia mais sentido para ilustrar o foco do MBL (Movimento Brasil Livre) até o ano passado –quando as pautas político-econômicas ainda prevaleciam na agenda do grupo criado na esteira dos protestos de 2014 pró-impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Questões relacionadas a moral e costumes entraram na linha de frente do movimento e serão debatidas no 3º Congresso do MBL, que acontece sábado (11) e domingo (12), num complexo empresarial em São Paulo, com os prefeitos João Doria (PSDB-SP) e Nelson Marchezan Jr. (PSDB-RS).

Junto com "redução do Estado", "privatizações", "gestão da máquina pública" e "propostas para 2018", "valores da civilização ocidental" é um dos tópicos destacados na página de venda de ingressos para o evento (no primeiro lote, R$ 100 pelos dois dias).

São valores fincados no tripé "filosofia grega, direito romano e religiosidade judaico-cristã", afirma um dos líderes do MBL, Kim Kataguiri. Não que o tema seja inédito nos debates internos. "A pauta do movimento sempre abrangeu coisas além de política e economia."

Mas a discussão parece ter alcançado outro patamar. O que mudou? "Em 2017, as coisas acabaram tomando proporção diferente por causa do Santander."

Kataguiri se refere à mostra "Queermuseu", patrocinada, com incentivos fiscais, pelo Santander Cultural. Visitada por alunos, a exposição foi cancelada após protestos de grupos como MBL e religiosos, que viram ali apologia da pedofilia e da zoofilia.

"A direita sempre foi historicamente mais relacionada à moral, aos costumes, às tradições. Mas isso foi se invertendo. Os liberais conservadores passaram a se fechar em salas para discutir juros, inflação, coisas técnicas, numéricas e elitistas, e a esquerda passou a pautar os costumes", diz.

Esse distanciamento, segundo ele, "levou a uma derrota política acachapante para a direita, porque as pessoas, antes de se preocuparem com o que é economicamente viável, se preocupam com o que é justo. A gente esqueceu de focar no discurso da justiça –que o MBL trouxe de volta para o liberalismo e o conservadorismo brasileiros".

O caso Santander "não é questão de costumes", mas "de ofensa criminal", diz Pedro Ferreira –que, fora o MBL, faz parte da banda de funk Bonde do Rolê, na qual se apresenta de batom e toca hits como "Solta o Frango".

"Exibir para criança foto de alguém com sêmen no rosto não dá, né?", afirma Ferreira, que no congresso do ano passado comparou o potencial "transante" no espectro ideológico ("eu acho que essa esquerda não está transando tanto assim quanto a gente foi levado a acreditar pelo discurso de liberação sexual").

Entre os palestrantes deste ano: os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e José Medeiros (PSD-MT), os deputados da bancada evangélica Marco Feliciano (PSC-SP) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), o colunista da Folha Luiz Felipe Pondé e o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha.


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