Folha de S. Paulo


Em agenda secreta no Jaburu, Temer comunicou Segóvia sobre troca na PF

O presidente Michel Temer recebeu fora de sua agenda oficial, no sábado (4), o novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, para comunicá-lo de sua indicação para o cargo.

O encontro, no Palácio do Jaburu, aconteceu no mesmo dia e hora em que o ex-presidente José Sarney (PMDB), um dos principais fiadores de Segóvia, se reuniu com Temer para tratar do assunto, como revelou a Folha nesta sexta-feira (10).

Por meio de sua assessoria, Segóvia confirmou que esteve no Jaburu às 17h de sábado, porém, afirma que foi ao palácio sozinho e que não se encontrou com Sarney.

A reunião aconteceu quatro dias antes da oficialização do delegado para substituir Leandro Daiello, que comandava a PF há quase sete anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT).

Ex-superintendente da Polícia Federal no Maranhão, Segóvia teve sua indicação patrocinada por caciques do PMDB, entre eles Sarney e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

A escolha foi estratégia para o núcleo do governo, que desejava mudanças na condução das investigações da Operação Lava Jato. Desde maio, com a delação de executivos da
JBS, as apurações avançaram sobre o coração do Palácio do Planalto.

Segundo a Folha apurou, Sarney chegou ao Jaburu no fim da tarde de sábado, após reuniões entre Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), e o marqueteiro Elsinho Mouco. Todos se falaram e, depois, Temer e o ex-presidente conversaram a sós.

Procurado desde a tarde de quinta-feira (9) pela reportagem, o Planalto não respondeu sobre o encontro fora da agenda oficial do presidente.

INVESTIGAÇÕES

Sarney era investigado pela Lava Jato por obstrução de Justiça, mas teve o inquérito contra ele arquivado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.

A investigação —que também envolvia Jucá e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)- tinha como base áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, o delator Sergio Machado, em conversa com peemedebistas.

Em um dos diálogos revelados pela Folha em maio do ano passado, Jucá afirmava que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pelas investigações.

A pressão em prol da nomeação de Segóvia em detrimento de Rogério Galloro, número dois de Daiello e preferido do ministro Torquato Jardim (Justiça), contou ainda com o patrocínio do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes, também alvo de delação no âmbito da Lava Jato.

Padilha disse, por meio de nota, que a indicação do diretor-geral da PF é atribuição "exclusiva" do ministro da Justiça e que não indicou "nenhum delegado para exercício de tal cargo".

Torquato, por sua vez, afirmou que não fez qualquer indicação. Em nota, o Ministério da Justiça disse que "o presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando Segóvia".


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