Folha de S. Paulo


Ex-assessor de Cabral confirma pela primeira vez propina a ex-governador

José Lucena - 10.jul.2017/Futura Press/Folhapress
O ex-governador Sérgio Cabral deixa sede da Justiça Federal no Rio de Janeiro
O ex-governador Sérgio Cabral deixa sede da Justiça Federal no Rio de Janeiro

Principal auxiliar do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) de acordo com o Ministério Público Federal, o economista Carlos Emanuel Miranda confessou em depoimento nesta quarta-feira (8) que gerenciava a propina paga ao peemedebista por fornecedores do Estado. É a primeira vez que ele depõe num processo da Operação Lava Jato –nas outras seis oportunidades, ele permaneceu em silêncio.

Miranda depôs em ação penal em que é acusado por desvios no setor de saúde. Ele afirma ter ouvido de Cabral que o ex-secretário Sérgio Côrtes organizaria as vantagens.

"Fui informado pelo Sérgio Cabral que o Sérgio Côrtes iria organizar umas compras [no setor de saúde] e que dessas compras existiria um pagamento de propina", disse Miranda.

Côrtes afirmou que recebeu recursos, mas sem vínculos com seus atos no cargo. Cabral diz que os valores se referiam a caixa dois de campanha eleitoral, do qual ele reconhece ter usado para gastos pessoais.

O ex-assessor de Cabral negou a principal tese de defesa do peemedebista.

"Não [era contribuição para campanha política]. Eventualmente alguns valores foram gastos em campanha, mas não era contribuição para campanha", declarou ele.

Miranda é apontado pelas investigações como o principal responsável por gerenciar o recolhimento do dinheiro com fornecedores do Estado. Ele afirmou que tinha "encontros regulares" com Cabral para discutir o gerenciamento dos recursos.

O ex-assessor decidiu adotar a mesma estratégia de defesa de um dos principais recolhedores dos recursos a partir de 2011, Luiz Carlos Bezerra. Este já havia confessado os crimes em processo anteriores e conseguiu redução de pena nas condenações.

Até 2010, Miranda gerenciava e recolhia o dinheiro, segunda as investigações. Ele afirmou que deixou a função de buscar os recursos em razão de "rumores de que meu nome havia sido citado na Operação Castelo de Areia".

"Sérgio Cabral e Wilson Carlos me pediram para me afastar do recolhimento de dinheiro e colocar o Bezerra. Mas continuei gerenciando os recursos", disse Miranda.

O ex-assessor, assim como Cabral, já foi condenado em três processos. Ele soma pena de 47 anos de reclusão.


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