Folha de S. Paulo


Perpetuação de clãs na política do Paraná é estudada em universidade

Sergio Lima/Alexandre Severo/Fotomontagem
BRASILIA, DF, BRASIL 27-03-2012, 12h30 Senadores Alvaro Dias e Roberto Requiao durante sessao da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal, que aprovou o projeto de lei que cria o Funpresp (Fundo de Previdência Complementar para os Servidores Públicos). O projeto teve o apoio de senadores da base de apoio da presidente Dilma Rousseff e da oposição, sem dificuldades para o governo. A CAE tambem aprovou o fim do 14º e 15º salario dos senadores. (Foto: Sergio Lima/Folhapress PODER) // Londrina,PR,Brasil 16/06/2014 Eduardo Campos e governador do Paraná, Beto Richa, visitam o Hospital do Câncer de Londrina Foto: Alexandre Severo/ PSB ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O senador Roberto Requião (PMDB) e o governador Beto Richa (PSDB)

O que você fazia aos 22 anos? Maria Victoria (PP) garantia uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná.

Filha do ministro da Saúde, Ricardo Barros, e da vice-governadora Cida Borghetti, ela foi a mais jovem entre os deputados estaduais eleitos em 2014.

Para carimbar o passaporte na política do Estado, a ascendência familiar é fator de peso.

Os Barros, os Richa, os Requião e os Rocha Loures são apenas alguns dos grupos que se perpetuam no poder paranaense.

As múltiplas redes de parentesco na política estadual são objeto de investigação do Núcleo de Estudos Paranaenses da Universidade Federal do Paraná. O cientista político Ricardo Oliveira, coordenador do grupo e autor do livro "Na Teia do Nepotismo", afirma que o poder das famílias remonta ao período colonial.

"Todas as instituições políticas no Paraná são pesadamente atravessadas por interesses familiares, de grupos que estão no poder alguns desde a gênese colonial, no século 18."

O pesquisador afirma que aqueles que não pertencem a essas famílias se casam com um integrante e, assim, entram e se perpetuam na política do Estado.

Segundo ele, a presença dessas redes não é identificada apenas nos três Poderes, mas também em outros espaços, como no empresariado, no Tribunal de Contas, nos cartórios e na mídia.

"O senso comum é de que o nepotismo é um fenômeno nordestino, arcaico, do passado. A gente mostra que, ao mesmo tempo, é um fenômeno dos lugares considerados mais modernos do Brasil", diz.

Como exemplo do clã Macedo, um dos mais influentes na história paranaense, ele cita o capitão Manoel Ribeiro de Macedo, que viveu no século 19. Segundo estudos do núcleo, entre seus descendentes estão o prefeito de Curitiba Rafael Greca (PMN), o governador Beto Richa (PSDB), e a advogada Rosângela Wolff Quadros, mulher do juiz Sergio Moro.

O professor afirma que o cenário, que tem como base uma "sociedade extremamente desigual", promove um ciclo de exclusão. "Que ao mesmo tempo produz as famílias políticas que reproduzem essa desigualdade."

Oliveira ressalta que a perpetuação dos mesmos grupos nos espaços de poder estimula o clientelismo e "enfraquece a própria ideia republicana". "O Estado passa a ser negócio de família."

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CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Requião
CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Requião

FAMÍLIA REQUIÃO

  • 1. Prefeito de Curitiba em 1951
  • 2. Foi nomeado em 2008 secretário para Assuntos Portuários, no mandato de governador do irmão. Em 2016, foi condenado em ação de improbidade administrativa
  • 3. Foi eleito para o governo do Paraná três vezes e para o Senado, duas. Seu mandato na Casa acaba em 2019. É cotado para concorrer ao governo do Estado novamente
  • 4. Foi nomeada em 2008 para o comando do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, no mandato do marido no governo
  • 5. Eleito deputado estadual em 2014, também concorreu à Prefeitura de Curitiba na eleição de 2016, mas ficou apenas em quinto lugar

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CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Richa
CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Richa

FAMÍLIA RICHA

  • 1. Foi governador, deputado federal e senador pelo Paraná
  • 2. Nomeado pelo irmão para a Secretaria de Infraestrutura e Logística
  • 3. Governador do Paraná desde 2011, foi deputado estadual e prefeito de Curitiba
  • 4. Nomeada pelo marido para a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social
  • 5. Secretário de Esporte e Lazer de Curitiba, foi presidente nacional da juventude do PSDB

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CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Dias
CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Dias

FAMÍLIA DIAS

  • 1. Senador pelo Paraná no quarto mandato, é pré-candidato à Presidência pelo Podemos. Foi eleito governador do Estado em 1986. Concorreu novamente em 1994 e 2002 -perdeu na última vez para Requião
  • 2. Ex-senador por dois mandatos até 2011, concorreu ao governo em 2006 e 2010. Nesta última teve como vice Rodrigo Rocha Loures. Deve tentar novamente em 2018

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CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Barros
CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Família Barros

FAMÍLIA MAGALHÃES DE BARROS

  • 1. Foi deputado estadual, federal e prefeito de Maringá (PR)
  • 2. Eleito deputado federal cinco vezes, é ministro da Saúde do presidente Michel Temer. Um delator ligado a desvios de verba pública no Paraná afirma que negociou com o ministro a compra de um cargo no governo do Estado por R$ 15 mil mensais
  • 3. Vice-governadora do Paraná, é pré-candidata ao governo nas eleições de 2018. Foi deputada estadual e federal
  • 4. Nascida em 1992, foi eleita deputada estadual em 2014 e candidata à Prefeitura de Curitiba em 2016

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CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Rocha Loures
CLÃS NA POLÍTICA DO PARANÁ: Rocha Loures

FAMÍLIA ALVES DA ROCHA LOURES

  • 1. Foi deputado federal pelo Paraná em 1951, renunciando um ano depois para ser desembargador no TJ
  • 2. Elegeu-se deputado federal pelo Paraná em 1954
  • 3. Foi um dos fundadores da Nutrimental, empresa pioneira em barrinhas de cereal no Brasil. Em 2012, foi candidato à Prefeitura de São José dos Pinhais pelo PMDB
  • 4. Sobrinho de João e Josino, foi deputado estadual por quatro mandatos e elegeu-se deputado federal pelo PMDB em 1982
  • 5. Eleito deputado federal duas vezes pelo Paraná, era assessor de Michel Temer. Foi gravado recebendo mala com R$ 500 mil de um executivo da JBS. Teve a prisão convertida em domiciliar pelo STF em junho

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