O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bem que tentou dar ares de normalidade à sua relação com Michel Temer nesta terça-feira (24), véspera da votação da segunda denúncia contra o presidente da República.
Mas o discurso de paz não resistiu a uma provocação.
Pouco depois de voltar do Palácio do Planalto, onde reuniu-se com Temer, Maia sentou-se para conversar com um grupo de jornalistas no cafezinho anexo ao plenário da Câmara.
Questionado se a relação com Temer estava totalmente pacificada e se agora eram "amiguinhos para sempre", Maia reagiu: "Em política não tem amiguinho, muito menos para sempre."
Os atritos entre Maia e Temer se intensificaram quando o PMDB passou a assediar parlamentares do PSB que negociavam migração para o DEM, partido de Maia.
O presidente da Câmara disse não ter se incomodado com a ação do presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), mas com a presença dos ministros peemedebistas Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) na filiação do senador Fernando Bezerra Coelho (PE).
"O Palácio não podia ter participado disso", afirmou Maia.
Quando indagado sobre como seria o dia seguinte à votação da denúncia contra Temer, Maia disse ser melhor esperar.
"Amanhã [quarta-feira] falo sobre agenda", disse o deputado.
DENÚNCIA
Mesmo a ala mais otimista da base admite que Michel Temer pode ter uma vitória mais apertada nesta quarta-feira, já que calculam entre 260 e 270 votos a favor do presidente. O presidente livrou-se da primeira denúncia, em agosto, com 263 votos.
Aliados já dão como certa a falta de ao menos cinco deputados que se posicionariam favoravelmente a Temer. As justificativas vão de problemas de saúde a simples viagens.
Os insatisfeitos com o governo estão sendo procurados para conversar. Há reclamações em relação à distribuição de cargos, mas a principal queixa refere-se à liberação de verbas para que deputados irriguem suas bases a menos de um ano das eleições.
O discurso para tentar segurar a base agora tem um certo tom de ameaça. No Congresso, o tom é o mesmo de auxiliares de Temer no Palácio do Planalto.
"Quem não votou está fora", disse o vice-líder do governo Beto Mansur (PRB-SP).
O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), vai no mesmo tom: "Quem vota contra o presidente já se posiciona como oposição e tem que ser tratado como oposição."
Aliados já reconhecem que a base deve minguar e que o governo vai ter que se adaptar ao seu tamanho real nos próximos 14 meses.
O primeiro impacto deve ser na reforma da Previdência. Como se trata de uma PEC (proposta de emenda à Constituição), são necessários 308 votos.
Até mesmo os governistas mais fiéis ao presidente dizem que é melhor que ele concentre seus esforços em medidas que não alteram a Constituição e, por isso, precisam de um número menor de votos para aprovação, como os projetos de lei do ajuste fiscal.
"No day after, a gente vai medir a base e ver se dá para aprovar a [reforma da] Previdência. Se não der [vamos tentar aprovar] aquele pacote fiscal que deve vir por projeto de lei e a reforma tributária", disse Mansur.
"O governo deve gastar energia e focar em medidas que tenham impacto na economia e não precisem de quorum de PEC, como foi a TLP (taxa de longo prazo do BNDES, com menos subsídios)", afirmou o líder do PMDB, partido de Temer.
Ao contrário do que fez na primeira denúncia, o PMDB não fechou questão a favor do relatório que engaveta a denúncia contra Michel Temer.
Para Baleia Rossi, esta segunda denúncia é uma continuação da primeira e, por isso, vale o mesmo entendimento, e quem votar contra o governo pode ser punido.
A expectativa de peemedebistas é que o partido tenha os mesmos cinco votos contra Temer que na primeira denúncia.
No entanto, o partido espera garantir dois votos a mais para Temer: Osmar Serraglio (PR), que votou a favor do presidente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), e Alexandre Serfiotis (RJ), governista que faltou à primeira denúncia por causa de uma morte na família.