Folha de S. Paulo


Hospital confirma visita de contador do caso dos recibos de aluguel de Lula

Mateus Bonomi/Folhapress
O ex-presidente Lula
O ex-presidente Lula

O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde o empresário Glaucos da Costamarques esteve internado em período entre novembro e dezembro de 2015, confirmou em ofício três visitas do contador João Muniz Leite e afirmou que o nome do advogado Roberto Teixeira não consta nos registros.

Costamarques é suspeito de ter atuado como laranja na aquisição de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que mora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O apartamento, segundo a acusação, teria sido comprado com propina da Odebrecht, obtida por meio de contratos com a Petrobras.

O empresário afirma que só passou a receber os aluguéis do apartamento ao final de 2015. A defesa de Lula enviou à Justiça 26 recibos de aluguel com o objetivo de comprovar os pagamentos.

Costamarques diz que todos os recibos foram assinados no mesmo dia, quando estava internado. Segundo ele, após visita de Roberto Teixeira, advogado e amigo do ex-presidente, o contador João Leite teria ido ao hospital recolher sua assinatura.

No dia 5 de outubro, o Ministério Público pediu perícia nos recibos apresentados por Lula. Em nota, a Procuradoria afirmou que as provas já demonstram "que o contrato e o recibo são papéis criados para disfarçar a real titularidade do imóvel usado pelo ex-presidente, que foi comprovadamente comprado com recursos oriundos da Odebrecht".

Ainda assim, segundo entendimento da acusação, a produção de provas adicionais pode "corroborar o que já existe" e esclarecer alguns pontos, como se houve adulteração dos papéis e onde estavam os recibos, que não foram encontrados em procedimentos de busca e apreensão.

Em despacho nesta segunda-feira (9), Moro pediu que Lula entregue os recibos originais à Justiça, caso os possua.

O CONTADOR FALA

Em declaração apresentada pela defesa de Lula nesta quarta-feira (11), o contador João Leite afirma ter prestado serviços a Costamarques de 2010 a 2015 e ter recebido periodicamente recibos relativos aos pagamentos dos alugueis, a partir de 2011.

Ele diz que foi ao hospital tratar de "alguns assuntos", mas nega que na ocasião tenha colhido as assinaturas de todos os recibos.

"E sim em apenas alguns meses, que embora tivéssemos os recibos, os mesmos não estavam assinados."

A defesa de Lula também apresentou declaração em cartório da secretária de Lula Claudia Troiano, de Marta Cristina de Araújo, do setor administrativo do Instituto Lula, e de Marlene Lula da Silva, nora do petista.

Claudia afirma que, com a ajuda de Marta, foi responsável por procurar os recibos no apartamento do ex-presidente. Ela diz que entende que os recibos não foram encontrados antes porque "estavam abrigados em local improvável, que não chamava atenção". A declaração de Marta repete a mesma versão.

Marlene afirma que Lula disse que pediria a Claudia para procurar os recibos e confirma ter recebido as duas no apartamento do ex-presidente.

A única contradição entre as declarações é que Claudia diz que a busca ocorreu no dia 21 de setembro de 2017, e Marta e Marlene afirmam que ocorreu no dia 22.

OUTRO LADO

A defesa de Lula vem afirmando que os recibos são idôneos e que foram "emitidos regularmente pelo proprietário do imóvel".

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins lembrou que foi pedida a investigação de documentos apresentados pela força-tarefa da Lava Jato. "Para observar a igualdade, esperamos que o juiz Sergio Moro autorize a realização de perícia também nos documentos que o MPF apresentou e que tiveram a idoneidade questionada pela defesa do ex-presidente Lula."


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