Folha de S. Paulo


'O Trump serve de exemplo para mim', diz Bolsonaro em visita aos EUA

Silas Martí/Folhapress
Bolsonaro na coletiva com montagem dele com a faixa presidencial ao fundo
Bolsonaro durante evento nos EUA com montagem dele com a faixa presidencial ao fundo

"O Trump serve de exemplo para mim", disse o pré-candidato à Presidência, deputado Jair Bolsonaro, do PSC, numa viagem pelos Estados Unidos nesta semana. "Sei da distância minha para o Trump, mas pretendo me aproximar dele para o bem do Brasil e dos Estados Unidos. Serve para levar exemplos daqui para o Brasil."

Ele, que elogiou as bandeiras americanas nas ruas, ainda fez um esforço para espelhar a ideia de patriotismo do presidente local, dizendo que pretendia "botar a garotada para cantar o Hino Nacional" nas escolas do país e "pôr um ponto final na doutrinação e sexualização das crianças" do ensino público brasileiro.

Debaixo de chuva, sua recepção na cidade com uma das maiores comunidades brasileiras nos EUA foi menos efusiva do que em Miami, onde esteve no fim de semana, atraindo longas filas de espera para um encontro com ele.

Ele chegou a um estacionamento vazio e foi direto para uma reunião com líderes evangélicos, que o esperavam de mãos dadas, para uma oração, num estúdio fotográfico em cima de uma barbearia. Não houve gritos de "mito".

Muitos dos 60 pastores reunidos ali se diziam ex-militares e exigiram do deputado que mostrasse como faria para criar um governo "firme".

Bolsonaro, que evitou chamar de ditadura o "período de presidentes militares", dizendo apenas que "houve excessos, porque em guerras morrem inocentes", prometeu nomear um militar para o Ministério da Defesa e disse que convocaria outros membros das Forças Armadas para integrar o governo.

Em três horas de conversa, com os religiosos de Massachusetts, Estado americano onde vive uma das maiores comunidades brasileiras, o deputado contou que foi a um clube de tiro durante a viagem e defendeu o porte de armas para todos no Brasil, seguindo o exemplo dos EUA, mesmo no rastro do último massacre em Las Vegas.

Bolsonaro divulga vídeo de treino de tiros

"O que aconteceu aqui foi uma fatalidade, mais uma", disse.

"Mas, no Brasil, só tem arma quem não presta. Você não consegue ter paz dentro de casa. O povo clama por segurança, pela posse de armas de fogo dentro das residências. Quem quer cometer atos insanos comete. Povo desarmado é povo manipulado."

Nos momentos em que soou mais agressivo, Bolsonaro parecia conquistar a plateia de religiosos, que acenavam dizendo "yeah" ou "amém" a cada afirmação.

Mais tarde, numa entrevista coletiva num restaurante brasileiro em Boston, onde convidados tomavam caipirinhas e faziam perguntas em grande parte elogiosas, Bolsonaro repisou esses pontos.

O presidenciável, agora empatado com Marina Silva, da Rede, no segundo lugar das pesquisas de intenção de voto atrás de Lula, que chamou de "inimigo que ainda não é carta fora do baralho" e que "começou mais cedo com sua cachacinha", tentou se mostrar menos radical.

Talvez até humilde. "Não sou muito bom, não", afirmou, em relação a concorrentes na corrida presidencial. "Mas os outros são piores."

Tentando suavizar sua imagem agressiva, disse que há cinco anos "teria rachado no meio" o sujeito que o alvejou com um ovo em Ribeirão Preto, no interior paulista.

E, no encontro religioso, reconheceu ter "perdido a linha" ao dizer que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia, arrancando risos dos pastores. Ele ainda afirmou a uma pastora no encontro que "não teria problema nenhum" com a ideia de chamar mulheres para compor seu eventual ministério.

Sem entrar em detalhes na recente polêmica envolvendo ataques a exposições de arte acusadas de fazer apologia da pedofilia, o deputado desviou o assunto para economia, dizendo que acabaria com a Lei Rouanet para criar leis de pesquisa e fundar um "Vale do Silício brasileiro".

Também voltou a criticar brasileiros que abrem empresas no Paraguai e atacou as leis trabalhistas. "O trabalhador vai ter de escolher menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego", disse. "A gente não consegue fabricar um prego e colocar de forma competitiva no Paraguai, que tem uma CLT bem menos rígida que a nossa."


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