Folha de S. Paulo


Entidades criticam proposta que permite censura e pressionam Temer

Pedro Ladeira/Folhapress
Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante votação de proposta de reforma política, nesta quarta
Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante votação de proposta de reforma política

Entidades como ANJ (Associação Nacional de Jornais), ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) criticaram a emenda aprovada nesta quinta-feira (5) pelo Congresso que permite censura.

A medida, incluída na reforma política, obrigará sites a suspender, sem decisão judicial, a publicação de conteúdo denunciado como "discurso de ódio, disseminação de informações falsas ou ofensa em desfavor de partido ou candidato". A denúncia poderá ser feita por qualquer usuário de internet ou rede social.

Para a ANJ, que repudiou a iniciativa em nota conjunta com a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas), "a medida aprovada pelo Congresso é claramente inconstitucional, por se tratar de censura".

O Marco Civil da Internet, lembram as três organizações, prevê que suspensão ou retirada do ar de informações e opiniões só pode ocorrer mediante decisão judicial.

"As associações condenam o discurso do ódio e a disseminação de informações falsas, no ambiente da internet ou fora dele, mas assinalam que o combate a esses males só pode acontecer dentro da legalidade", diz o texto.

Para a ABI, além de ferir o marco civil, o Congresso tenta legislar com base em "ofensa a preceitos fundamentais do Estado de direito".

A Abraji, em comunicado, afirmou que "o Brasil não vive o fantasma de práticas tão explícitas de censura desde o fim da ditadura militar".

Para a associação, os termos da proposta abrem margem para que simpatizantes e apoiadores de uma candidatura denunciem as postagens em redes sociais de pessoas que apoiam adversários.

"Sites como o Facebook não teriam escolha senão suspender as postagens. O resultado seria um deserto informativo", disse a Abraji.

A ABI afirmou que a proposta é uma "grave ameça à liberdade de expressão do pensamento". Para a organização, a alegação de que a medida tem como objetivo conter abusos "chama atenção para o que se pretende, na verdade, ocultar: a implantação da censura na internet".

"Não se pode aceitar que, a pretexto de combater manifestações de intolerância de qualquer natureza, sejam criados mecanismos que na prática inviabilizem a livre circulação de ideias."

APELO A TEMER

Ao se manifestarem contra a medida, as entidades pressionaram o presidente Michel Temer a vetar o ponto da reforma que prevê a censura.

O texto será enviado para a avaliação dele, que decidirá sobre a sanção integral ou com vetos.

ANJ, Abert e Aner disseram esperar que o presidente, ao impedir a autorização para suspensão de conteúdo, "restabeleça a plena liberdade de expressão" no país.

A Abraji, que considera a aprovação do dispositivo "uma grave ameaça ao regime democrático", disse que somente o veto "pode garantir a liberdade de expressão na internet no pleito de 2018".

Chamando a decisão do Congresso de "atrapalhada", a ABI afirmou esperar que Temer "restaure as garantias ofendidas" e rejeite "uma emenda que envergonha a todos nós".

O Palácio do Planalto ainda não se manifestou sobre o assunto nem disse se o presidente pretende vetar algum item da proposta, incluindo, por exemplo, o da censura.


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