Folha de S. Paulo


Geddel Vieira Lima vendeu aeronave para grupo J&F

Evandro Filho / Flickr
A judoca Stefannie Arissa Koyama, que disputará o Mundial de Budapeste pela seleção brasileira
A aeronave Piper Seneca, que pertenceu ao ex-ministro Geddel Vieira Lima e foi comprada pela J&F

A J&F, holding que reúne negócios de Joesley e Wesley Batista e controla a JBS, comprou em 2012, por R$ 700 mil, um avião do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

O negócio foi realizado no período em que Geddel ocupava a vice-presidência de pessoa jurídica da Caixa Econômica Federal e era responsável por liberar empréstimos para empresas, incluindo as companhias da J&F.

Segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, Geddel atuou na liberação de empréstimos em troca de propina entre 2011 e 2013 e teria beneficiado empresas da J&F, como a JBS.

O ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer está preso preventivamente desde 8 de setembro, três dias após a Polícia Federal ter achado R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador que teria sido emprestado ao peemedebista.

A aeronave vendida por Geddel à J&F é uma Piper Seneca prefixo PT-WNP, declarada entre os bens do político nas eleições de 2006 e 2010. É um modelo com dois motores, voltado para a aviação executiva.

Documentos aos quais a Folha teve acesso mostram que a aeronave foi comprada por Geddel em 2003 por R$ 210 mil e revendida à J&F em 2012 por R$ 700 mil, numa valorização de 90% (já descontada a inflação).

Os documentos também apontam que, depois de ter sido comprada pela J&F, a aeronave mudou de mãos outras três vezes num período de pouco mais de três anos.

Primeiro, foi repassada em janeiro de 2013 para a empresa Rodopa Alimentos por R$ 651 mil, preço menor do que os R$ 700 mil pagos a Geddel.

O negócio foi feito quatro meses depois de Sérgio Longo, ex-diretor da JBS, ter comprado a Rodopa Alimentos. No ano seguinte, a JBS arrendou fábricas da Rodopa com anuência do Cade.

Em setembro de 2014, a aeronave foi recomprada pela J&F por meio da JBS.

Finalmente, em março de 2016, a JBS se desfez do avião e o vendeu para a Vegas Constutora, com sede no interior paulista.

AQUISIÇÃO

A aeronave esteve nas mãos de Geddel entre agosto de 2003 e fevereiro de 2012.

O peemedebista a adquiriu da Politec, empresa do setor de tecnologia da informação. Especialistas no mercado de aviação ouvidos pela Folha estranharam o preço baixo pago por Geddel. Afirmam que um avião deste modelo custaria em torno de R$ 800 mil. Já o valor de compra pela J&F, de R$ 700 mil em 2012, estaria nos padrões do mercado.

A Politec tem histórico de contratos suspeitos com o poder público. Foi denunciada na Operação Caixa de Pandora, que apurou irregularidades em contratos no governo do Distrito Federal e foi investigada na CPI dos Correios.

Ao ser questionado sobre seu avião pela Folha em 2009, Geddel não citou a Politec e afirmou que a aeronave havia sido doada por seu pai, o ex-deputado Afrísio Vieira Lima. Na época, a reportagem revelou que o piloto de avião de Geddel era lotado no gabinete de um aliado na Câmara dos Deputados.

A venda do avião não é a única ligação entre Geddel e J&F. Ele é dono de fazendas na região de Itapetinga (BA) e vende gado para a JBS, que tem um frigorífico na cidade.

Em sua delação, Wesley Batista afirmou que conhecia Geddel "apenas socialmente", mas disse saber que a JBS comprava cabeças de gado nas fazendas do ex-ministro e de seus familiares.

Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que foi preso novamente pela Polícia Federal
O ex-ministro Geddel Vieira Lima

OUTRO LADO

Em nota enviada à reportagem, a assessoria da empresa J&F confirma que comprou um avião pertencente ao ex-ministro Geddel Vieira Lima e diz que o negócio com ele foi "realizado a preço de mercado".

Questionada sobre a compra de gado nas fazendas de Geddel, a JBS, do grupo J&F, informou que "possui mais de 70 mil fornecedores em todo o país e todas as compras da empresa são negociadas conforme as condições de mercado".

Procurada pela Folha, a defesa do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima não se pronunciou.


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