Folha de S. Paulo


Em novo áudio, delatores da JBS dizem que PGR queria acabar com PMDB

Sérgio Lima - 7.set.2017/AFP
Joesley Batista, dono e presidente da JBS, o maior embalador de carnes do mundo, chega ao aeroporto depois de falar como testemunha do procurador-geral do Brasil, Rodrigo Jano, em Brasília, em 7 de setembro de 2017. Testemunho dos executivos da indústria de carnes, que dizem que administraram um enorme suborno rede, está no cerne do caso contra o presidente brasileiro Michel Temer
O executivo Joesley Batista

Prestes a fechar o acordo de delação premiada que lhe rendeu imunidade penal, Joesley Batista entrou no carro entusiasmado com a negociação com os procuradores da PGR (Procuradoria-Geral da República). Pretendia amanhecer o dia seguinte em Nova York.

O ânimo do empresário está registrado em uma conversa resgatada do gravador do sócio da JBS, divulgada nesta sexta (29) pela revista "Veja". O áudio sugere que ele havia acabado de entregar as gravações que fez do presidente Michel Temer (PMDB) e do senador Aécio Neves (PSDB).

Nessa nova peça, Joesley está no carro, a caminho do aeroporto, conversando com os advogados Fernanda Tórtima e Francisco de Assis e Silva e o executivo Ricardo Saud.

Os três avaliam a reação dos procuradores ("eles gostaram, querem evitar o máximo mostrar que gostaram, mas a pressa deles mostra", diz Tórtima; "eles gostaram pra cacete", opina Silva), especulam sobre o futuro e os efeitos da "bomba" que tinham acabado de soltar.

Também sugerem ter mais gravações, além das feitas por Joesley, que escolheram ocultar dos investigadores.

TRECHOS

"Você [Saud] quase pisou na bola, falou que gravou. Cai fora. Deixa só eu gravando", diz o empresário a seu funcionário.

"Sorte que não encompridou [sic] a conversa. Deixa que sou eu porque aí, pronto. Um filho da puta de plantão e acabou", disse o empresário.

No final do áudio, de cerca de meia hora, Joesley diz que tem que abastecer o carro. Murmura: "Quatro horas e quarenta de gravação".

Não contava que viriam a público os registros que iriam comprometer os benefícios legais, como a imunidade penal, que acordaram com a Justiça.

O acordo de delação dos empresários suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no início de setembro. Joesley e seu irmão, Wesley Batista, estão presos na carceragem da PF (Polícia Federal) em São Paulo.

Veja, abaixo, os principais temas abordados no diálogo.

DELAÇÕES

"Agora eu vou para Nova York. Vou amanhecer em Nova York. Eu vou ficar aqui, você tá louca? Soltar uma bomba dessas e ficar aqui fazendo o quê?".

Tórtima concorda que sair do país seria a melhor opção para o empresário. "Para eles, é bom que você se empirulite [sic] do Brasil. Se for para dar imunidade, é melhor que você fique fora. Você longe daqui, sumindo, as pessoas esquecem que você ganhou imunidade", opina a advogada.

Os efeitos dessa "bomba", explicou Joesley, começariam com o operador Lúcio Funaro, que acabaria fechando seu próprio acordo de delação premiada.

"O que eu vou provocar, além de tudo? Uma: quem gravou. Não é que foi o garçom que gravou, porra. Foi o maior empresário brasileiro, 11h da noite e tal", diz o empresário.

Ele se refere à conversa noturna em que gravou Michel Temer, no Palácio do Jaburu.

"O segundo é o seguinte: quando isso explodir, vai quebrar a aliança Eduardo Cunha e Lúcio [Funaro]. Vamos parar de pagar o Lúcio", continua Joesley.

Na conversa com o presidente, ele sugere que mantinha pagamentos a Cunha e Funaro, ao que o peemedebista responde "tem que manter isso aí".

Em outro áudio, também divulgado nesta sexta pela "Veja", Joesley Batista fala sobre como enxerga a "onda" de delações: "Começou os operadores, depois os empresários, agora os políticos. Depois dos políticos, não sei quem vai delatar. Vai ser o Judiciário". E ri.

Ainda animado com a perspectiva de acordo com a PGR, o empresário citou a possibilidade de anulação dos benefícios conquistados pela delação –o que acabou acontecendo.

Ele falava sobre a necessidade de tomar cuidado para não mencionar assuntos e pessoas –que poderiam vir a delatar– além do material que apresentavam ali aos procuradores.

"É a goleada deles [procuradores], sabe o que é? Você vir aqui, ajoelhar no milho, contar tuuuuudo e deixar um rabinho de fora. Aí vem outro, conta, e ele derruba seu acordo. Aí você ficou com cara de idiota. Ou seja: ele pegou tudo e te fodeu."

Em outra gravação, também divulgada nesta leva, o empresário defende a delação como alternativa para quem está comprometido com a Justiça.

Nos termos de Joesley: "Se você tem um problema e se o problema é, como se diz, batom na cueca... Ô, meu, corre lá e faz a porra dessa delação".

POLÍTICA

Ainda especulando se Rodrigo Janot aceitaria ou não o acordo de delação premiada, o empresário conversa com seus advogados sobre as relações políticas do ex-procurador-geral da República.

"Nós temos um risco. O risco é um: o comprometimento político de Janot com Temer", diz advogado Francisco de Assis e Silva.

"Eu acho que não existe... Pra mim, Janot quer ser o presidente da República... ou indicar quem vai ser", responde Joesley. Silva diz notar uma disposição dos procuradores em temas ligados ao PMDB.

"Eles querem foder o PMDB, eles querem acabar com eles", diz o advogado.

Minutos antes, Fernanda Tórtima tinha descartado a proximidade de Temer e Janot: "Ele não tem mais nenhum [compromisso], ele está saindo [da PGR]. E o candidato que ele gostaria de colocar no lugar dele, não vai conseguir".

O QUE DIZ A DEFESA

Em nota, a J&F (controladora da JBS) disse que os áudios divulgados pela revista já tinham sido recuperados dos aparelhos entregues há meses por Joesley Batista à Polícia Federal, e estavam com sigilo decretado pelo Supremo Tribunal Federal por se tratarem de diálogos entre advogados e clientes.

NOTA DO PLANALTO

"A cada nova revelação das gravações acidentais dos delatores da JBS, demonstra-se cabalmente a grande armação urdida desde 17 de maio contra o presidente Michel Temer. De forma sórdida e torpe, um grupo de meliantes aliou-se a autoridades federais para atacar a honradez e dignidade pessoal do presidente, instabilizar o governo e tentar paralisar o processo de recuperação da economia do país.

Agora, descobre-se que integrantes do Ministério Público Federal ficaram decepcionados com a gravação que usaram para embasar a primeira denúncia contra o presidente. "Eu acho, Fernanda, que precisam construir melhor a história do Temer. Não ficou muito claro. Eu acho que quando ouviram o Temer não gostaram muito. Tinham uma expectativa maior". E isso dito por Ricardo Saud, uma das vozes usada para atacar o presidente por dias, semanas, meses no noticiário nacional.

As acusações caem uma após a outra, revelando a verdade da conspiração que foi construída durante meses. "Eles querem foder o PMDB", sentencia o advogado Francisco de Assis, sem saber que está sendo grampeado por Joesley Batista. Mostrando todo planejamento da ação controlada que o grupo da JBS tentou fazer contra o país, Assis acrescenta:

"Viu, seguinte, Joesley, no momento certo, temos de dar sinal pro Lúcio pular dentro. Aí ele fecha a tampa do caixão". Falavam sobre Lúcio Funaro, delator que foi incluído numa segunda denúncia contra o presidente pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, cujas ambições de comandar o país são ressaltadas pelos delatores. "Janot quer ser o presidente da República, ou indicar quem vai ser", diz Joesley. Funaro, por sua vez, já havia enganado o Ministério Público Federal e a Justiça em delação anterior. Não mudou suas práticas.

O país não pode ficar nas mãos de criminosos e bandidos que manipulam autoridades, mercado, mídia e paralisam o país. É hora de retornar o caminho do crescimento e da geração de emprego. Não se pode mais tolerar que investigadores atuem como integrantes da santa inquisição, acusando sem provas e permitindo a delatores usarem mecanismos da lei para fugir de seus crimes. Cabe agora, diante de tão grave revelação, ampla investigação para apurar esses fatos absurdos e a responsabilização de todos os envolvidos, em todas as esferas.


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