Folha de S. Paulo


Joesley diz que Cardozo se arrependeu de lei contra organizações criminosas

Leonardo Benassatto/Reuters
Empresário Joesley Batista na sede da Polícia Federal, em São Paulo 09/08/2017 REUTERS/Leonardo Benassatto
O empresário Joesley Batista na sede da Polícia Federal, em São Paulo

Um novo áudio de Joesley Batista recuperado pela Polícia Federal contém relatos do empresário sobre o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.

A gravação, publicada pela "Veja", é de uma conversa do sócio da JBS, que está preso, com um interlocutor chamado "Gabriel". Segundo a revista, supostamente se trata do deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG).

A assessoria de Guimarães diz que "o deputado não vai se manifestar sobre conversas privadas sem interesse jurídico".

No trecho sobre Cardozo, Joesley relata diálogos com ele e sugere que o ex-titular da Justiça se arrependeu da lei das organizações criminosas, aprovada durante o governo Dilma Rousseff (PT) e hoje usada na Operação Lava Jato em processos contra políticos. Cardozo nega.

O empresário diz no áudio que, em um jantar com o ex-ministro dias antes, relembrou encontro anterior dos dois, aparentemente ocorrido em 2013, ano em que a lei foi implementada.

Nesse primeiro contato, Cardozo comemorava a aprovação da legislação, que seria "uma lei fantástica" para ajudar a combater grupos como o PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo o relato de Joesley.

"Coincidentemente eu janto com o Zé agora, um mês atrás, dois meses atrás. No iniciozinho, falei: 'Ô Zé, antes de começar a conversa: lembra aquela vez que a gente jantou? [...] Você lembra que tava feliz, comemorando da lei de combate ao crime organizado?", afirma Joesley no áudio.

Segundo o sócio da JBS, Cardozo respondeu: "Puuuta cagada, Joesley. Nos enganaram. [...] Aprovamos essa lei, pensando no crime organizado, no narcotráfico. Eu e a Dilma, rapaz, nos enganaram".

A fala seria uma referência do ex-ministro à aplicação posterior da lei na investigação de crimes praticados por políticos. Isso era visto pelo ex-titular da Justiça como "a fonte de todos os problemas", de acordo com o relato do empresário.

Cardozo disse à Folha que não pode comentar a conversa deste ano com Joesley, por sigilo profissional, já que o contexto era de relação entre advogado e cliente.

No entanto, o ex-ministro afirma que "nunca" disse a ninguém que ele e a ex-presidente Dilma Rousseff foram enganados com a lei.

"Não corresponde à verdade. Foi uma lei aprovada para o combate a organizações criminosas. Pode-se discutir hoje se está sendo bem aplicada ou não, mas isso é uma outra questão. É um debate que está sendo feito na comunidade jurídica, sobre aspectos dessa lei, inclusive sobre a delação premiada", diz Cardozo.

Sobre o primeiro encontro relatado por Joesley, o ex-ministro diz que esteve em reuniões sociais com o empresário e que não sabe a qual ocasião ele está se referindo.

Ele afirma que "sempre havia outras pessoas presentes" e que não se lembra de ter feito comentários com Joesley sobre a aprovação da lei.

Em nota, a J&F (controladora da JBS) disse que os áudios divulgados pela revista já tinham sido recuperados dos aparelhos entregues há meses por Joesley Batista à Polícia Federal e "estavam com sigilo decretado pelo Supremo Tribunal Federal por se tratarem de diálogos entre advogados e clientes".


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