Folha de S. Paulo


Filhos do senador Romero Jucá são alvos de operação da PF

Pedro Ladeira - 16.mar.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 16-03-2017, 12h00: O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no senado, durante entrevista à Folha em seu gabinete. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***
O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado

A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta quinta-feira (28) uma operação em Boa Vista que tem como alvos os filhos do senador Romero Jucá (PMDB-RR), Rodrigo e Marina, e as ex-enteadas Ana Paula e Luciana Surita. Foram expedidos mandados de busca e condução coercitiva contra todos.

O advogado da família, Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, afirma que o senador não é um dos investigados.

A Folha apurou que o mandado contra Luciana foi cumprido na casa da mãe dela, a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita. Os de Ana Paula e Marina foram cumpridos em Brasília. As duas foram levadas para depor da superintendência da PF na capital federal.

Também são alvos de condução e buscas Hamilton José Pereira, Elmo Teodoro Ribeiro e Francisco José de Moura Filho, ligados à CMT Engenharia.

Batizada de Operação Anel de Giges, ela apura o desvio de R$ 32 milhões que supostamente tiveram como origem o superfaturamento na aquisição da "Fazenda Recreio", localizada em Boa Vista e na construção do empreendimento Vila Jardim, do projeto Minha Casa Minha Vida no bairro Cidade Satélite, também em Boa Vista.

"São investigadas as transações decorrentes da venda da Fazenda Recreio para a construção do empreendimento Vila Jardim, bem como pela fiscalização e aprovação do empreendimento na Caixa Econômica Federal", diz a nota da PF.

Ao todo estão sendo cumpridos 17 mandados judiciais expedidos pela Justiça Federal de Roraima, sendo nove de busca e apreensão e oito de condução coercitiva em Boa Vista, Brasília e Belo Horizonte.

Apenas Rodrigo Jucá não estava em casa durante a operação. Ele aparece em inquéritos envolvendo a Odebrecht: o delator Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira, foi denunciado com Romero Jucá por supostamente ter ajustado e pago a propina por meio de doação oficial ao filho do senador, candidato a vice-governador de Roraima em 2014.

Rodrigo Jucá estava em São Paulo, onde prestou depoimento à PF durante a tarde. Ele foi ouvido durante cerca de duas horas, na superintendência da corporação, no Alto da Lapa (zona oeste).

Abordado pela Folha na saída do prédio, se manteve calado. Ele não respondeu às perguntas da reportagem sobre sua defesa e disse apenas que não tinha conversado com o pai sobre a investigação.

O nome da operação, segundo a PF, foi inspirado na citação existente no segundo livro de "A República", de Platão, na qual é discutido o tema da Justiça. O Anel de Giges permite ao seu portador que fique invisível e cometa ilícitos sem consequências.

A AÇÃO

Três dos quatro donos da fazenda Recreio, em Roraima, foram levados à PF para prestar depoimento em Boa Vista. O quarto, Rodrigo Jucá, filho do senador Romero Jucá (PMDB-RR), deve ser apresentar agora à tarde na sede da PF na capital paulista.

O delegado da PF Alan Robson Alexandrino Ramos disse que foram cumpridos três mandados de busca e apreensão e três conduções coercitivas em Brasília, além de um mandado de busca e apreensão em Belo Horizonte (MG).

Já em Boa Vista, as buscam foram nos bairros Cidade Satélite, Caçari e Paraviana. O superintendente da Caixa Econômica em Roraima, Severino Ribas, também prestou depoimento.

Nas buscas, foram encontradas uma pistola 45 e um fuzil 762, que estavam de posse do marido de Luciana Surita, ex-enteada de Jucá e filha da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita. Ele foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo e foi encaminhado à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.

"O marido de uma das investigadas estava de posse desse armamento, sem qualquer registro, sem qualquer documento. Essas duas armas e as munições foram apreendidas. É um crime que prevê pena de até seis anos de reclusão e é inafiançável", disse o delegado.

Também foram apreendidos documentos e muitas mídias digitais, que serão analisadas e confrontadas com os materiais que são investigados. "São dez laudas periciais que identificam esses desvios", afirmou.

O delegado disse ainda que não há políticos ou pessoas com foro privilegiado investigados na operação e que só os quatro proprietários da fazendo foram indiciados.

CAIXA

De acordo com o delegado, a CEF é apontada na operação, pois foram supostas falhas do banco em liberar recursos indevidos que possibilitaram desvios de R$ 32 milhões para a construção do empreendimento.

A malversação de dinheiro público, na avaliação dele, ocorreu na compra superfaturada da fazenda e na construção da obra. Conforme o delegado, no valor de mercado, os terrenos custavam aproximadamente R$ 3,5 milhões. Mas, segundo consta no processo, o imóvel foi vendido por R$ 4,5 milhões.

"Nos procedimentos de busca e apreensão já identificamos dois valores. Se fala em R$ 4,6 milhões e R$ 7,5 milhões. Espera-se que hoje, com as conduções coercitivas e os interrogatórios, se esclareça qual o valor que foi efetivamente vendido esse terreno da fazenda Recreio. É apenas uma parcela que foi vendida para a construção do empreendimento Vila Jardim", afirmou.

Conforme o delegado, os desvios são de R$ 1 milhão da venda do terreno e R$ 31 milhões da construção. O residencial Vila Jardim fica no bairro Cidade Satélite, possui 187 prédios com 16 apartamentos cada, totalizando 2.992 unidades e custou R$ 185 milhões aos cofres públicos.


Endereço da página:

Links no texto: