Folha de S. Paulo


Juíza condena revista 'Época' em R$ 400 mil por reportagens sobre caseiro que derrubou Palocci

Rodolfo Buhrer/Reuters
Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci

A juíza substituta da 14ª Vara Cível de Brasilia, Maria Rita Teizen Oliveira, condenou a editora Globo, que edita a revista "Época", ao pagamento de R$ 400 mil ao caseiro Francenildo Santos Costa, de Brasília, por suposto dano moral em virtude de reportagens publicadas em 2006. A decisão foi tomada no último dia 22 e divulgada nesta segunda-feira (25).

À decisão cabem diversos recursos, o primeiro deles à própria juíza, depois ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e, em caso de decisão desfavorável, ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Em 2006, o caseiro prestou um depoimento que desmentiu declarações dadas à CPI dos Bingos pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e vinculou o petista a uma casa alugada no Lago Sul, em Brasília, usada por lobistas para tentar influenciar decisões no governo. O depoimento do caseiro levou à queda do então ministro, hoje preso em Curitiba (PR) em decorrência da Operação Lava Jato.

Dias depois das revelações do caseiro, a revista "Época" divulgou extratos bancários da conta de Costa e levantou dúvidas sobre a sua motivação ao prestar depoimento à CPI. Os extratos mostravam que ele havia recebido R$ 38 mil na conta. Contudo, em seguida a defesa do caseiro e depoimentos de pessoas diversas confirmaram que os depósitos nada tinham a ver com o depoimento à CPI, mas sim que foram feitos pelo pai biológico de Costa, que morava no Piauí, como parte de um acordo entre os dois por reconhecimento de paternidade.

Em sua decisão, a juíza do Distrito Federal também determinou a aplicação de juros moratórios da data da publicação da reportagem, em 20 de março de 2006, no valor de 1% ao mês. Segundo o advogado que defende o caseiro, Wlicio Chaveiro Nascimento, o valor final poderá chegar a R$ 1 milhão.

O caseiro também já ganhou uma ação na Justiça Federal que arbitrou uma indenização de R$ 400 mil à Caixa Econômica Federal, mas até esta segunda-feira (25) não havia recebido nenhum recurso dessa decisão. O banco recorreu no processo, que continua sem resultado final, passados onze anos do caso de violação de sigilo das contas. Naquela época, o caseiro também havia aberto uma ação contra a editora Globo na Justiça comum, mas a Justiça Federal decidiu que os dois casos deveriam tramitar juntos. Mais adiante, entretanto, o Tribunal Regional Federal mandou que o processo contra a editora fosse retomado na Justiça comum.

Em sua decisão, a juíza argumentou que a notícia "ultrapassou os limites da divulgação da informação, expressão de opinião, por ter exposto indevidamente a intimidade de cidadão comum, com a consequente publicação de seu traumático histórico familiar, ao divulgar dados sigilosos de sua conta bancária, atrelando-a ao seu depoimento em CPI, o que, posteriormente, foi verificado não terem quaisquer relações".

A Folha não conseguiu localizar a assessoria jurídica da revista Época. Em entrevista à reportagem em 2009, quando do início da ação na Justiça, a Gerência Jurídica da editora Globo, que edita a revista, informou por e-mail: "A Editora Globo atuou de acordo com todos os princípios do bom jornalismo e está confiante na decisão da Justiça". Na ocasião, a assessoria jurídica também informou que não fez nenhuma proposta ao caseiro para encerramento do processo.

Em sua decisão, a juíza observou que a editora Globo "apresentou contestação, afastando, em síntese, a ocorrência de dano moral".


Endereço da página: