Folha de S. Paulo


Temer mantém no governo ministros denunciados por Janot

Leonardo Benassatto - 16.ago.2017/Reuters
Brazil's President Michel Temer reacts as he makes a presentation to investors at Santander bank in Sao Paulo, Brazil, August 16, 2017. REUTERS/Leonardo Benassatto ORG XMIT: SAO201
Presidente da República, Michel Temer

O presidente Michel Temer vai manter no governo os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), em um recuo de sua promessa de afastar auxiliares que fossem denunciados no âmbito da Lava Jato.

Padilha e Moreira foram denunciados nesta quinta-feira (14) pela Procuradoria-Geral da República, sob a acusação de participar de uma organização criminosa composta por integrantes do PMDB da Câmara.

Em fevereiro, Temer havia anunciado que afastaria temporariamente os ministros que fossem denunciados por crimes investigados pela Lava Jato.

A escalada do embate entre o presidente e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, levou Temer a rever essa "linha de corte", conforme noticiou a Folha em junho.

Esse recuo ganhou força no Palácio do Planalto depois que o próprio Temer passou a adotar o discurso de que a Procuradoria agiu politicamente ao investigar os relatos do empresário Joesley Batista e de outros executivos do grupo.

Nesse sentido, a equipe de Temer entende que o peemedebista deve preservar seus ministros, apelar para o espírito de corpo da classe política e defendê-los das acusações, a fim de garantir sua própria proteção contra as investidas da PGR.

Para justificar a mudança de comportamento, o governo trata a denúncia como um movimento pessoal e individual de Rodrigo Janot, que deixa o cargo de procurador-geral na próxima segunda-feira (18).

LINHA DE CORTE

Temer anunciou a regra de afastamento de ministros em em fevereiro, após a revelação do conteúdo das delações da Odebrecht. Àquela altura, antes do acordo de colaboração premiada da JBS, as principais suspeitas de corrupção da Lava Jato recaíam sobre os auxiliares do presidente.

Na ocasião, ele declarou que afastaria temporariamente do cargo qualquer ministro que fosse denunciado pela PGR no âmbito da Lava Jato. Caso a denúncia fosse aceita pelo STF e o ministro se tornasse réu, o afastamento se tornaria definitivo.

Àquela altura, essa "linha de corte" estabelecida por Temer funcionou como uma blindagem para auxiliares que haviam sido citados nas delações premiadas da Odebrecht e, em abril, se tornariam alvos de inquéritos.

Pelas regras apresentadas pelo presidente, não haveria motivo para afastar ministros apenas investigados. Segundo esse entendimento, só seria necessário que eles deixassem o governo se a Justiça os transformasse em réus.

Questionado pela Folha, em maio, se ele mesmo deixaria o cargo caso fosse denunciado pelo procurador-geral, Temer se diferenciou de seus ministros.

"Sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros, por evidente, não será a linha de corte para o presidente."


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