Folha de S. Paulo


Delator da JBS gravou Cardozo e enviou áudio ao exterior, diz Janot

Bruno Santos - 14.ago.2017/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 14-08-2017: Lancamento do livro Comentarios a uma sentenca anunciada - O processo Lula, escrito por varios advogados e juristas, na PUC - SP. Na foto, Jose Eduardo Cardozo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** FSP-PODER *** EXCLUSIVO FOLHA***
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo durante lançamento de livro

O executivo Ricardo Saud, delator da JBS, disse em depoimento na quinta-feira (7) à PGR (Procuradoria-Geral da República) que gravou conversa com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) e enviou o áudio para o exterior.

A informação consta do pedido de prisão dele, de Joesley Batista e do ex-procurador Marcello Miller, feito pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. Saud e Joesley estão presos temporariamente por determinação do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo a PGR, conversas como a de Cardozo "não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Publico Federal como foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades".

A informação de que os delatores enviaram áudios ao exterior foi revelada pelo "Painel".

JANTAR

Segundo o documento da PGR, Saud contou aos procuradores sobre um jantar com Marco Aurélio Carvalho, sócio de Cardozo, na casa de Joesley Batista, no Jardim Europa, em São Paulo.

De acordo com Saud, Marco Aurélio lhe disse que Cardozo voltaria a advogar e que a empresa precisava de alguém da área de compliance, e que então marcaram um encontro com Cardozo na casa de Joesley.

Esse encontro foi gravado, disse o executivo. "No jantar Marco Aurélio chegou antes e disse que José Eduardo Cardozo estava muito bem, era intocável pela reputação imaculada, querendo vender os serviços; que pagava a Marco Aurélio para ter uma 'reserva de boa vontade' caso precisasse de algo, que nunca ocorreu", informa o depoimento.

Saud diz que relatou essa conversa a Marcello Miller, "inflando o máximo" possível "para ver qual seria a reação" e o avisou que gravaria o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O executivo disse ainda que contou a Miller que gravou Cardozo e que ouviu do ex-procurador "que aquilo daria cadeia, que iriam para cima dele, depoente, e José Eduardo Cardozo".

Depois dessa conversa, Miller saiu da sala e mandou mensagens pelo celular, disse Saud, acrescentando que achou aquilo estranho. Ele afirmou que não mostrou a gravação de Cardozo a Marcelo Miller, "apenas mostrou um pen drive".

*

A DELAÇÃO DA JBS
Como foi fechado acordo com a empresa e a reviravolta da última semana

O ACORDO

Data do acordo
3.mai.2017

Período das irregularidades
2002 a 2017

Os delatores
Joesley Batista, Wesley Batista, Ricardo Saud e mais quatro pessoas

Os benefícios
Pelo acordo, ficava assegurado que os delatores, por terem contado o que sabiam, não seriam presos nem processados

Principais implicados
> Michel Temer
> Senador Aécio Neves (PSDB-MG)
> Deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor de Temer

Provas entregues
> Gravação de conversas telefônicas e presenciais
> Fotos e vídeos de investigados e de entregas de dinheiro (ação controlada)
> Planilhas com doações para campanhas
> Registros de ligações telefônicas

A REVIRAVOLTA

Na segunda-feira (4), Rodrigo Janot anunciou que iria rever a delação da JBS por causa de um áudio "gravíssimo", que ainda não tinha sido divulgado. O procurador-geral cita possíveis omissões dos delatores e a "conduta em tese criminosa" do ex-procurador Marcello Miller
> A gravação mostra Saud e Joesley falando sobre a negociação e dizendo que Miller ajudou a empresa no acordo quando ainda era procurador da República
> Os delatores e Miller foram ouvidos na última semana. Janot decidiu pedir a retirada dos benefícios e a prisão de Saud, Joesley e Miller

OS ARGUMENTOS

O que disse Janot ao pedir a prisão
> O áudio revela possíveis crimes não informados na delação e omissões
> Há indícios de má-fé por parte dos colaboradores
> Miller foi usado para "manipular fatos e provas, filtrar informações e ajustar depoimentos"

O que disse Fachin na ordem de prisão
> A prisão permite que se busque provas sobre a atuação de Miller
> A análise do áudio revela indícios suficientes de que os colaboradores omitiram informações sobre a ajuda de Miller
> Sobre Miller, ainda que sejam consistentes os indícios contra ele, não há, por ora, necessidade de prisão temporária


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