Folha de S. Paulo


Descubra o que é fato e o que é invenção no filme da Lava Jato

Inspirado na história da Operação Lava Jato, o filme "Polícia Federal - A Lei é Para Todos" estreia nesta quinta (7) nos cinemas brasileiros. Mas nem tudo o que está nas telas aconteceu tal e qual a vida real.

O longa, que retrata bastidores da investigação sob a ótica dos policiais federais, adicionou "uma camada de roteiro à realidade", como afirmou o próprio diretor, Marcelo Antunez.

O objetivo, segundo ele, foi contar a história da maneira mais palatável, emocionante e interessante possível. A licença poética, em algumas cenas, pesa mais do que os fatos.

Abaixo, a Folha faz um "fact checking" de algumas cenas, classificadas como "próximo da realidade", "exagero" ou "invenção".

Os protagonistas do filme: INVENÇÃO
Embora inspirados em policiais reais, e até fisicamente semelhantes a eles, os delegados retratados no filme têm nomes fictícios e, em alguns casos, misturam fatos e características de mais de um agente. O personagem de Antonio Calloni, por exemplo, foi fortemente inspirado no delegado Igor Romário de Paula, coordenador da Lava Jato no Paraná, mas é batizado de Ivan no longa e também conduz o interrogatório de Lula –algo que, na vida real, foi feito pelo delegado Luciano Flores de Lima. O drama pessoal de outro delegado do filme, Júlio César, também foi uma licença poética. No longa, ele tem um pai admirador do PT e, no passado, fez campanha para o partido. Não há notícia de nenhum delegado da investigação com esse histórico. Curiosidade: enquanto os investigadores têm nomes fictícios, os investigados, como Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa e o ex-presidente Lula, são retratados com seus nomes reais.

O batismo da Operação Lava Jato: PRÓXIMO DA REALIDADE
O nome da investigação foi, de fato, lançado no sistema processual quase que de improviso, depois de descoberta a conexão entre os doleiros investigados nas primeiras fases. Um deles, Carlos Habib Chater, tinha um posto de gasolina em Brasília, onde também havia uma casa de câmbio em que se lavava dinheiro. A criação foi da delegada Erika Marena, "interpretada" no longa por Flávia Alessandra (no filme, a personagem se chama Beatriz).

A prisão de Marcelo Odebrecht: EXAGERO
Embora tenha sido rodeada de tensão, com o deslocamento inclusive de um helicóptero em caso de tentativa de fuga, a prisão do empreiteiro Marcelo Odebrecht não aconteceu tal qual o filme. Algumas frases do personagem foram inventadas, a fim de caracterizar a comentada arrogância do empresário –como "cuidado com os meus tapetes". Curiosamente, na edição, o filme deixou de incluir uma cena que, segundo os policiais, de fato aconteceu: uma mala com roupas e artigos pessoais do empresário foi posicionada ao lado de um policial no momento da prisão, na expectativa de que o agente carregasse. No fim, o próprio Marcelo chegou à PF puxando a valise.

O interrogatório de Lula: PRÓXIMO DA REALIDADE
A produção do filme teve acesso a filmagens do dia em que o ex-presidente Lula prestou depoimento à Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, durante sua condução coercitiva. Os roteiristas procuraram reproduzir literalmente algumas frases de Lula, embora tenham editado a sequência e o tamanho das sentenças. Parte do diálogo do petista com os policiais também foi revelado em reportagem da revista "Veja", em fevereiro.

Extratos bancários queimados na churrasqueira: EXAGERO
A Polícia Federal encontrou, de fato, provas de destruição de documentos pela família de Paulo Roberto Costa. Mas não houve um extrato bancário da Suíça queimado na churrasqueira do ex-diretor da Petrobras.

A fuga de Alberto Youssef: EXAGERO
Embora o doleiro Alberto Youssef tenha, de fato, sido preso em São Luís (MA), não chegou a haver uma tentativa de fuga cinematográfica, como no filme. Os policiais ligaram, por acidente, para o quarto de hotel em que o doleiro estava hospedado, e Youssef desconfiou que fosse ser preso. Mas ele acabou permanecendo no local, onde foi detido na manhã do dia 17 de março de 2014.

A perseguição de um caminhão com carga de cocaína: INVENÇÃO
Não houve perseguição nem troca de tiros na apreensão de um caminhão carregado de cocaína, em novembro de 2013, cuja carga pertencia a um dos doleiros investigados nas primeiras fases da Lava Jato. A cena foi retratada com tiroteio e muita ação no longa.

Descoberta de contas na Suíça: EXAGERO
Quem fez a descoberta das contas de Paulo Roberto Costa na Suíça, passo decisivo para a primeira delação da Lava Jato, foi o Ministério Público Federal, e não a polícia –como aparece no filme. A descoberta surgiu com um pedido da Procuradoria brasileira. O Ministério Público Suíço informou, então, que havia bloqueado US$ 23 milhões em contas de Paulo Roberto Costa naquele país. O ex-diretor da Petrobras foi preso preventivamente na sequência, e acabou fechando o primeiro acordo de delação da Lava Jato meses depois.

O anúncio de Lula como ministro: EXAGERO
No filme, um dos delegados assiste, na cama, à noite, ao anúncio da nomeação de Lula como ministro no governo Dilma Rousseff –que, por sinal, usa imagens reais, em tom de documentário. O anúncio, porém, ocorreu às 16h de uma quarta-feira.

SERVIÇO:
POLÍCIA FEDERAL - A LEI É PARA TODOS
DIREÇÃO Marcelo Antunez
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
ELENCO Antonio Calloni, Flávia Alessandra, João Baldasserini, Marcelo Serrado, Ary Fontoura
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