Folha de S. Paulo


Políticos de MT guardam dinheiro em bolsos, mochila e caixa; veja vídeos

Ex-deputados estaduais e um deputado federal de Mato Grosso aparecem recebendo maços de dinheiro em vídeos entregues à PGR (Procuradoria-Geral da República) pelo delator Silval Barbosa (PMDB), ex-governador do Estado.

Bolsos do paletó, bolsa, mochila e até caixa de papelão são usados para guardar o dinheiro. Segundo a delação, os políticos recebiam um "mensalinho" para apoiar na Assembleia Legislativa o governo, tanto na gestão de Barbosa (2011-2014) como na de Blairo Maggi (2003-2010), do PP, atual ministro da Agricultura.

O deputado federal Ezequiel Fonseca (PP-MT) é um dos que foram filmados recebendo dinheiro das mãos de Silvio Araújo, ex-chefe de gabinete de Barbosa. Para acomodar os valores, eles esvaziam uma caixa de papelão.

Ezequiel Fonseca recebe dinheiro

O ex-deputado estadual Emanuel Pinheiro (PMDB), hoje prefeito de Cuiabá (MT), também foi flagrado recebendo dinheiro durante o governo de Barbosa. Pinheiro coloca os maços nos bolsos de seu paletó, enquanto conversa com o então chefe de gabinete, que também virou delator.

A Folha havia antecipado que o vídeo do prefeito fazia parte da delação do ex-governador.

Emanuel Pinheiro recebe dinheiro

Depois de Pinheiro, é a vez da atual prefeita de Juara (MT), Luciane Bezerra (PSB), pegar o suposto "mensalinho". À época, ela era deputada estadual de Mato Grosso.

Luciane Bezerra recebe dinheiro

Em seguida, no mesmo vídeo de pouco mais de 22 minutos, chega o ex-deputado estadual Alexandre Cesar (PT). Ele pega o dinheiro, coloca em uma mochila, se despede e deixa a sala.

Alexandre Cesar recebe dinheiro

O ex-deputado estadual Antônio Azambuja (PP) também aparece nas imagens entregues pelo delator aos investigadores da PGR. Azambuja guarda maços de R$ 20 em uma pasta e tem dificuldade para fechá-la, por causa do volume das notas.

Antônio Azambuja recebe dinheiro

Os irmãos Airton Português (PSD), deputado estadual à época, e Vanice Marques, ex-secretária estadual de Mato Grosso, guardam o dinheiro na bolsa dela, enquanto conversam com o ex-chefe de gabinete sobre assuntos do governo.

Airton Português e sua irmã, Vanice

Segundo a delação de Barbosa, o "mensalinho" foi instituído a partir de 2003 no governo de seu antecessor, Maggi.

"Esse mensalinho era uma vantagem indevida que era paga para cada deputado estadual do Estado de Mato Grosso, tendo começado no ano de 2003, em torno de R$ 30 mil reais por deputado", disse Barbosa.

Segundo o delator, foi feito um acerto entre a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e Maggi para que o governo aumentasse a mesada dos deputados.

"No ano de 2003 houve um acréscimo de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões no orçamento da Assembleia Legislativa para que pudessem retirar desse valor as vantagens indevidas", afirmou o ex-governador.

"Todas essas pessoas sabiam que o aumento do repasse para a Assembleia seria para os deputados receberem suas vantagens indevidas, as quais ocorriam através de serviços não prestados, sendo que em contrapartida a Assembleia apoiaria o governo nos projetos de seus interesses", disse.

Os vídeos de recebimento de dinheiro foram tornados públicos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (29). O relator do caso na corte, o ministro Luiz Fux, retirou o sigilo do material na última sexta (25), atendendo a pedido do procurador-geral, Rodrigo Janot.

ABERTURA DE INQUÉRITO

Também na sexta, Fux autorizou a abertura de inquérito para apurar se políticos com foro privilegiado, entre eles o ministro da Agricultura, participaram de uma suposta organização criminosa no governo de Mato Grosso para desviar recursos públicos de obras e serviços, com base na delação de Barbosa.

De acordo com Janot, a organização criminosa agia em diversas frentes: operação ilegal de instituição financeira, gestão fraudulenta de instituição financeira, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro.

Além desse inquérito, novas investigações ainda devem ser abertas no Supremo a partir dessa delação.

OUTRO LADO

O deputado federal Ezequiel Fonseca (PP-MT) negou as acusações de que recebeu o "mensalinho". "Contesto a informação de que na condição de deputado estadual, eu e outros cobrávamos vultosas quantias em troca da defesa do governo. Deixo claro que nunca solicitei qualquer quantia ilícita de quem quer que seja em troca da minha atuação no parlamento, tão pouco me foi entregue dinheiro para esse fim. As próprias imagens veiculadas pela impressa, mesmo editadas, demonstram isso", disse, em nota.

"Minhas posições, erradas ou certas, como pessoa pública, sempre foram pautadas pela justiça como é próprio de um homem simples e trabalhador. Não vou me manifestar pelos poucos minutos de vídeo veiculados, editados, com imagens deturpadas", declarou Fonseca, acrescentando que Justiça será feita.

Na semana passada, antes de os vídeos virem a público, o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), disse que nunca recebeu "mensalinho" ou dinheiro ilícito para apoiar o governo de Barbosa.

Pinheiro afirmou em nota que "refuta toda e qualquer ilação que possa ter sido alegada com intenção de enredá-lo nas supostas práticas criminosas".

A reportagem não conseguiu localizar nesta terça os demais ex-deputados estaduais filmados recebendo dinheiro.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), negou na sexta-feira (25) as diversas acusações feitas por Barbosa. Sua assessoria divulgou uma nota. Veja a íntegra da manifestação do ministro:

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"Deixo claro, desde já, que causa estranheza e indignação que acordos de colaboração unilaterais coloquem em dúvida a credibilidade e a imagem de figuras públicas que tenham exercido com retidão, cargos na administração pública. Mesmo assim, diante dos questionamentos, vimos a público prestar os seguintes esclarecimentos:

1. Nunca houve ação, minha ou por mim autorizada, para agir de forma ilícita dentro das ações de Governo ou para obstruir a justiça. Jamais vou aceitar qualquer ação para que haja "mudanças de versões" em depoimentos de investigados. Tenho total interesse na apuração da verdade. Qualquer afirmação contrária a isso é mentirosa, leviana e criminosa.

2. Também não houve pagamentos feitos ou autorizados por mim, ao então secretário Eder Moraes, para acobertar qualquer ato. Por não ter ocorrido isto, Silva Barbosa mentiu ao afirmar que fiz tais pagamentos em dinheiro ao Eder Moraes.

3. Repudio ainda a afirmação de que comandei ou organizei esquemas criminosos em Mato Grosso. Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas.

4. Sempre respeitei o papel constitucional das Instituições e, como governador, pautei a relação harmônica entre os poderes sobre os pilares do respeito à coisa pública e à ética institucional.

5. Por fim, entendo ser lamentável os ataques à minha reputação, mas recebo com tranquilidade a notícia da abertura de inquérito, pois será o momento oportuno para apresentação de defesa e, assim, restabelecer a verdade, pois definitivamente acredito na Justiça".


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