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Empresário enviou flores para Gilmar e mulher, diz Procuradoria

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Ministro do STF Gilmar Mendes durante evento em São Paulo
Ministro do STF Gilmar Mendes durante evento em São Paulo

O Ministério Público Federal no Rio enviou nesta terça-feira (29) ofício ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontando o que considera novo indício do "íntimo relacionamento" entre o empresário Jacob Barata Filho e o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os procuradores da Lava Jato no Rio identificaram no e-mail do empresário a confirmação de uma entrega de flores tendo como destinatários "Guiomar e Gilmar". O endereço indicado é o mesmo que aparece na agenda telefônica de Barata Filho como sendo da advogada Guiomar Mendes, mulher do ministro.

As flores foram enviadas no dia 23 de novembro de 2015 e custaram R$ 200,10.

A pedido da força-tarefa fluminense, Janot pediu à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, o impedimento, a suspeição e a incompatibilidade do ministro Gilmar Mendes nas decisões que resultaram na libertação de Barata Filho, um dos maiores empresários do setor de transporte coletivo no Rio.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, Gilmar foi padrinho de casamento da filha do empresário, Beatriz Barata, em 2013. Gilmar nega e afirma que apenas acompanhou sua mulher, Guiomar Mendes, ao evento -o noivo, Francisco Feitosa Filho, é sobrinho dela.

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Gilmar Mendes no casamento da filha de Jacob Barata, em 2013
Gilmar Mendes no casamento da filha de Jacob Barata, em 2013

A PGR também aponta vínculos na relação de sociedade entre Barata Filho e o cunhado do ministro. Além disso, a mulher de Gilmar, Guiomar Mendes, trabalha no escritório de advocacia Sergio Bermudes, que atuou para desbloquear bens de empresas citadas nas investigações da Operação Ponto Final.

Para Janot, a isenção e a imparcialidade de Gilmar ficam comprometidas por causa dessas relações.

Gilmar concedeu habeas corpus ao empresário, acusado de integrar uma organização criminosa que pagou propina de cerca de R$ 500 milhões a agentes públicos desde 2010.

Guiomar Mendes disse à Folha que nunca teve "o menor contato com ele". O nome da advogada foi encontrado na agenda telefônica do empresário.

"Cadê as ligações telefônicas? Cadê? Quantas vezes ele me ligou? E eu para ele? Nenhuma. Não tenho e nunca tive o menor contato com ele!", afirmou ela.

O ministro também já refutou se declarar como impedido nos casos envolvendo o empresário.

"Vocês acham que ser padrinho de casamento impede alguém de julgar um caso? Vocês acham que isso é relação íntima, como a lei diz? Não precisa responder", disse.

A presidente do STF pediu nesta segunda-feira (28) que Gilmar Mendes se manifeste sobre pedido de impedimento no caso do empresário. A Folha apurou que a ministra está estudando o caso e não descarta dar prosseguimento ao pedido. Nos bastidores, Cármen Lúcia tem ouvido colegas do tribunal reclamarem da postura de Gilmar de entrar em embates públicos com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A defesa de Jacob Barata afirmou que "repudia o vazamento de conteúdos desconexos de processos que tramitam em sigilo e a cujos conteúdos ainda não teve acesso".


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