Folha de S. Paulo


Falta de acordo pode levar Câmara a enterrar reforma política

Marcos Oliveira - 11.mar.2015/Agência Senado
BRASILIA, DF, 11.03.2015, BRASIL, Plenario do Congresso Nacional durante sessao solene para comemorar o Dia Internacional da Mulher, ocasiao em que e entregue o Diploma Mulher-Cidada Bertha Lutz 2015 em discurso, deputada Shéridan Oliveira (PSDB-RR). Foto: Marcos Oliveira/ Agência Senado ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Deputada Shéridan (PSDB-RR), que relatou uma das PECs da reforma

Líderes dos principais partidos governistas e de oposição se reuniram nesta terça-feira (29) para discutir a reforma política, mas, novamente, não houve acordo mínimo em torno dos principais pontos, o que pode levar a proposta definitivamente para a gaveta.

O encontro foi chefiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que exerce interinamente a Presidência da República devido à viagem de Michel Temer à China.

A atual reforma política já é discutida há meses e trata de quatro pontos essenciais: um novo modelo de financiamento das campanhas, o formato de eleição para o Legislativo, o fim das coligações entre partidos e regras para tentar barrar a proliferação das legendas.

Na reunião na residência oficial da presidência da Câmara, porém, ficou claro que permanecem as divergências em todos os pontos.

DESEMPENHO

O único acerto foi de procedimento: nesta quarta (30) o plenário da Câmara deve tentar votar a proposta de emenda à Constituição que acaba com as coligações e estabelece a chamada cláusula de desempenho (ou barreira) contra os nanicos.

Relatada pela deputada Shéridan (PSDB-RR), a PEC tem o objetivo de reduzir nos próximos anos o número de partidos hoje no país (35). Enfrenta, obviamente, forte resistência de partidos nanicos, pequenos e médios. Por se tratar de emenda à Constituição, é preciso o voto de pelo menos 308 dos 513 deputados.

Já a votação da criação de um novo fundo público de campanha e da mudança do modelo de eleição para o Legislativo –do "proporcional" para o "distritão" ou o "semidistritão"– ficou para setembro. Isso se houver acordo que possibilite real chance de aprovação. Caso contrário, as propostas serão enterradas e ficará tudo como está.

A repercussão negativa da possibilidade de mais gasto público para financiar candidatos dificilmente possibilitará a aprovação desse novo fundo.

Com isso, a tendência dos políticos é inflar o atual fundo partidário, que destina às legendas quase R$ 1 bilhão ao ano.

Para valer nas eleições de 2018, a reforma tem de ser aprovada por Câmara e Senado até o início de outubro.

*

REFORMA POLÍTICA EM CAPÍTULOS

Aprovado em comissão e em discussão

COLIGAÇÃO

Como é hoje
Partidos podem se unir para que os votos dados a todos os integrantes da aliança sejam contabilizados juntos para definir número de deputados eleitos. Assim, se o partido A estiver coligado ao partido B, os votos dados ao primeiro também ajudam a eleger candidatos do segundo

Aprovado em comissão
Deixa de existir nas eleições proporcionais de 2018

CLÁUSULA DE BARREIRA

Como é hoje
Não existe

Aprovado em comissão
> 2018: Terão acesso ao fundo partidário e à propaganda gratuita os partidos que obtiverem na Câmara 1,5% dos votos válidos em ao menos nove Estados, com mínimo de 1% em cada ou que tiverem elegido ao menos nove deputados em nove Estados
> 2022: Percentual sobe para 2% dos votos válidos em nove Estados com um mínimo de 1% em cada Estado ou 11 deputados eleitos em nove Estados. E assim progressivamente até 2030

FEDERAÇÃO

Como é hoje
Não existe

Aprovado em comissão
Partidos com "afinidade ideológica e programática" podem se unir em federações, com direito a acessar recursos do fundo partidário e tempo de rádio e televisão. Nos Estados, é possível fazer subfederações para as eleições

FUNDO ELEITORAL

Como é hoje
Fundo não existe

Em discussão
> Aos partidos: 2% divididos igualitariamente entre todas as legendas
> Aos candidatos: 50% ao candidato a presidente, governador ou senador; 30% aos candidatos a deputado federal; 20% aos candidatos a deputado estadual ou distrital

SISTEMA ELEITORAL

Como é hoje
Vigora o sistema proporcional. As cadeiras são distribuídas com base em um cálculo que considera todos os votos dados aos candidatos do partido ou coligação, além do voto na legenda

Em discussão
> Distritão: São eleitos os mais votados
> Semidistritão: Há voto em legenda, distribuído aos candidatos do partido. São eleitos os mais votados
> Distrital misto: Metade das cadeiras é preenchida pelo mais votado em cada distrito. A outra metade, pelo sistema proporcional: votação em candidatos avulsos ou em lista fechada pelos partidos


Endereço da página:

Links no texto: