Folha de S. Paulo


Empresário Adir Assad assina delação; PF aponta ligação dele com JBS

Sérgio Lima - 28.ago.2012/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL 28-08-2012, 19h00: CPI - Caso Cachoeira - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados ouve o depoimento do empresário Adir Assad, apontado como agente usado pela Delta e outras empresas para lavar dinheiro. (Foto: Sergio Lima/Folhapress PODER)
O empresário Adir Assad, preso no Paraná, assinou acordo de delação premiada nesta segunda (21)

O empresário Adir Assad, réu em ações penais derivadas da Operação Lava Jato no Rio e no Paraná, onde está preso, assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal nesta segunda-feira (21).

Tanto no Rio como em Curitiba, Assad é acusado de usar contratos fictícios firmados com empresas suas de fachada para "gerar" dinheiro vivo para empreiteiras pagarem propina a políticos.

Nesta terça (22), um relatório da Polícia Federal que pedia a prisão preventiva do ex-deputado petista Cândido Vaccarezza revelou uma nova ligação das empresas de Assad, agora com a JBS. A despeito do pedido da PF, o juiz Sergio Moro mandou soltar Vaccarezza.

Assad está preso desde março de 2015. Em setembro daquele ano, ele foi condenado por Moro a quase dez anos de prisão por organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Nesses dois anos, o operador vinha negando ter cometido crimes, até que no último dia 9 resolveu confessá-los ao juiz Marcelo Bretas, durante audiência no Rio. A estratégia da defesa mudou após o advogado Pedro Bueno de Andrade assumir o caso.

O irmão de Assad, Samir Assad, que estava preso no Rio havia um ano, também admitiu atos ilícitos e conseguiu ir para prisão domiciliar. Samir também é acusado de lavagem de dinheiro e, conforme a Folha apurou, tenta fazer um acordo de delação.

A confissão fez parte do acordo que Adir Assad estava negociando, e que agora foi assinado, com integrantes do Ministério Público Federal no Rio, em Curitiba e em São Paulo —onde o empresário também é suspeito de ter atuado em obras do PSDB.

Segundo a Folha apurou, a delação demorou a ser fechada porque procuradores chegaram a pedir R$ 100 milhões de multa, o que Assad sustentava não ter como pagar. O acordo foi firmado com multa de R$ 50 milhões.

A pena imposta pela Procuradoria foi de três anos em regime fechado —desse prazo será descontado o período em que ele já ficou na cadeia. O período é maior do que o imposto pela Lava Jato a Marcelo Odebrecht —dois anos e meio em regime fechado.

Agora, o acordo seguirá para homologação (validação) da Justiça Federal nos Estados. O empresário não citou diretamente políticos com foro privilegiado, segundo apurou a reportagem.

O empresário entregou aos procuradores mais de 50 anexos —documentos que detalham os temas que pretende abordar em sua delação. O teor do acordo está sob sigilo.

Nas ações a que responde, Assad já admitiu ter operado para as empreiteiras Delta e Carioca Engenharia.

A forma de atuação era relativamente simples: empreiteiras contratavam empresas de fachada de Assad e faziam pagamentos a elas. O operador descontava os impostos e a sua "comissão" e devolvia o restante do dinheiro em espécie. As empreiteiras usavam esse dinheiro para pagar propinas a políticos sem deixar rastros.

LIGAÇÃO COM JBS

Em relatório desta terça, a PF apontou que empresas de Assad usadas para lavagem, como a Legend Engenheiros Associados Ltda. e a SM Terraplenagem Ltda., receberam da JBS pagamentos no valor de R$ 2,877 milhões.

Os pagamentos, segundo a PF, estavam registrados em uma planilha obtida nos e-mails de Vaccarezza, que tiveram o sigilo quebrado.

"Os recebimentos pelas empresas de Adir Assad foram oriundos da JBS S/A e sintetizam, conforme o já identificado modus operandi do criminoso, geração de recursos em espécie, os quais totalizaram R$ 2.877.000,00, que possivelmente foram repassados a Cândido Vaccarezza", apontou a PF.

"O documento em posse do então parlamentar reflete, segundo aponta a investigação, alguma espécie de controle que possuía acerca de tais pagamentos", afirmou a polícia, que identificou as transações como tendo sido feitas em agosto de 2010.

OUTRO LADO

O advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, negou que o ex-deputado tenha cometido crimes e disse que o juiz Moro acertadamente resolveu soltá-lo. Pinto negou relação de Vaccarezza com Assad e com a JBS.

"Essa ligação é uma invenção da PF, e nós já demonstramos isso preliminarmente durante o depoimento dele. Vamos agora, ao longo da instrução processual, demonstrar os exageros cometidos pela PF durante a investigação", disse o advogado.

Segundo ele, a planilha encontrada com Vaccarezza circulou na CPI do Cachoeira, em 2012, e por isso o ex-deputado petista tinha o registro.

Andrade, advogado de Assad, disse que não comentaria o assunto.

A Folha não conseguiu localizar a JBS na noite desta terça. Em outras ocasiões, a empresa afirmou, por meio de sua assessoria, que está colaborando com todas as investigações. A JBS firmou acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República.


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