Folha de S. Paulo


Funaro assina acordo de delação e dará caminho do dinheiro para PMDB

Lula Marques - 28.abr.2010/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL 28-04-2010 11h40: ONGs - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, no Senado Federal, ouve Lúcio Bolonha Funaro, corretor de câmbio que intermediou operações para dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Local: Sala 2 da Ala Nilo Coelho. Politica. Foto: Lula Marques / Folha imagem.
O operador Lúcio Bolonha Funaro, que assinou acordo de delação com a PGR nesta terça (22)

O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, preso em Brasília, assinou nesta terça-feira (22) acordo de colaboração premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) que estava em negociação havia cerca de três meses.

Segundo pessoas envolvidas nas tratativas, Funaro, que foi transferido da penitenciária da Papuda para a carceragem da Polícia Federal nesta segunda (21), já deve começar a prestar os depoimentos. Para agilizar as oitivas, ele deve continuar sob custódia na sede da PF.

A defesa do corretor, capitaneada pelo advogado Antonio Figueiredo Basto, especialista em colaborações premiadas, passou a tarde na sede da PGR, apurou a reportagem.

O teor da delação é mantido em sigilo. O próximo passo será o envio do acordo para o STF (Supremo Tribunal Federal), que precisa homologá-lo para que ele tenha valor para as investigações.

Conforme a Folha apurou, Funaro, operador do PMDB ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se comprometeu a mostrar aos procuradores o caminho do dinheiro para o partido.

O foco central da delação é o grupo político conhecido como "PMDB da Câmara", do qual faz parte Cunha, que está preso no Paraná. Funaro terá de entregar contas usadas para receber propina e extratos de movimentações financeiras.

TEMER

A expectativa é que a PGR use partes da delação de Funaro nas investigações sobre o presidente Michel Temer, que devem gerar nova denúncia ao STF. O operador é figura central na delação de executivos da J&F, controladora da JBS, que atingiu o governo federal em maio, quando veio a público.

Temer foi gravado no Palácio do Jaburu na noite de 7 de março por Joesley Batista, um dos donos do frigorífico. No diálogo, segundo a investigação da PGR, Joesley diz a Temer que está pagando propina para manter Funaro e Cunha em silêncio na cadeia. Temer, então, dá aval aos pagamentos, conforme a investigação.

Segundo a reportagem apurou, Funaro vai dar detalhes de sua relação com Joesley e dos benefícios dados às empresas do grupo J&F com recursos do fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS).

Funaro é apontado como o principal operador financeiro do "PMDB da Câmara", que, segundo diferentes investigações, atuou na Petrobras e na Caixa Econômica Federal, banco que administra o FI-FGTS.

O corretor responde a uma ação na Justiça Federal em Brasília sob acusação de envolvimento em desvios no FI-FGTS, junto com Cunha e o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) –que também está preso. A ação penal derivou da Operação Sépsis, um desdobramento da Lava Jato em Brasília.

Além dessa ação, Funaro é um dos 15 alvos do inquérito que tramita no STF para investigar suposta formação de organização criminosa por membros do PMDB da Câmara, o chamado "quadrilhão". A delação firmada nesta terça deve auxiliar nesse inquérito, que está prestes a ser concluído pela PF.


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