Folha de S. Paulo


Antes de prisão, 'dr. Vaccarezza' teve aumento salarial e gravou propaganda

Luiz Carlos Murauskas - 10.ago.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 10-08-2016 15h24: O ex-deputado Candido Vaccarezza (PT_SP), lider do governo Lula e antigo colaborador de Marta Suplicy durante seu mandato de prefita (2001 a 2004), esta prestes a deixar o partido e voltou a se dedicar a carreira de medicina. ( Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, FSP - PODER ) ***RESTRICAO***
O ex-deputado Cândido Vaccarezza, em frente à unidade de saúde onde atende, em agosto de 2016

A prisão do "doutor Vaccarezza" virou o assunto do dia em um posto de saúde da zona leste de São Paulo.

É ali, na UBS (unidade básica de saúde) da Vila Prudente, mais especificamente no setor de atendimento sobre DSTs e Aids, que o ex-deputado federal Cândido Vaccarezza dá expediente.

Preso nesta sexta-feira (18) pela Operação Lava Jato, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados é médico ginecologista e voltou a exercer a medicina em 2015, meses após ter saído derrotado da campanha pela reeleição.

Colegas de trabalho não quiseram dar detalhes, mas confirmaram à Folha que o assunto dominou as conversas ao longo do dia na UBS onde ele está lotado.

Vaccarezza faz em média 25 consultas por mês, além de dar orientações a pacientes da rede de saúde, de acordo com a Prefeitura de São Paulo.

Como servidor municipal, em maio deste ano o ex-parlamentar teve um aumento de salário —passou a ganhar R$ 268 a mais, em razão de benefícios previstos no plano de carreira dos funcionários públicos.

Seu salário total é de R$ 10.735,42, segundo os dados mais recentes do Portal da Transparência, por uma jornada semanal de 20 horas de trabalho.

Na casa do ex-deputado, em São Paulo, foram encontrados nesta sexta R$ 122 mil em espécie. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, ele recebeu pelo menos US$ 478 mil (R$ 1,51 milhão no câmbio atual) em espécie por contratos da Petrobras.

Seus advogados negam que ele tenha intermediado negociações entre empresas privadas e a estatal. A defesa também contesta a prisão e tenta revogá-la.

Vaccarezza saiu do PT fazendo críticas ao partido e ao governo Dilma Rousseff. Apoiou a candidatura de Celso Russomanno (PRB-SP) a prefeito, no ano passado, e agora é filiado ao Avante (antigo PTdoB).

Nos últimos tempos, ele vem gravando vídeos para divulgar a sigla. No mais recente, de junho, afirmou que "estamos revoltados com a política e os políticos. Corrupção, desmando econômico e falta de diálogo".

"O Brasil tem jeito", disse na gravação, feita para o programa de TV e rádio da legenda, que ele preside no Estado de São Paulo.

'DISTRIBUIÇÃO DE RENDA'

No Serviço de Assistência Especializada DST/Aids Vila Prudente, Vaccarezza atende às terças e quartas-feiras, cumprindo jornada de dez horas por dia, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

Em abril, às 9h21 do dia 18, antes de comentar no Facebook a aparição de seu nome na delação da Odebrecht, ele justificou como arranjou um "tempinho" para postar na rede social durante o expediente: "Estou desde as 7:00 trabalhando. O frio e a chuva afasta ou retarda alguns pacientes [sic]".

Feita a explicação, listou diagnósticos como: "a história é estapafúrdia", "não tem nenhuma acusação objetiva", "não conheço o Marcelo Odebrecht, nos cumprimentamos apenas uma vez num restaurante" e "respondi anteriormente a dois inquéritos na Lava Jato que foram arquivados sem nenhuma denúncia contra mim".

Na postagem, reclamou que o "escarcéu" em torno das suspeitas afetava sua família, seu trabalho e suas pacientes.

Também em seu perfil no Facebook, o ex-deputado compartilhou em julho um texto sobre a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

A reflexão replicada por Vaccarezza, de autoria do advogado e professor de direito Pedro Estevam Serrano, era sobre "a humilhação a que Geddel foi exposto", revelando "uma imensa perversão coletiva, um desejo de torturar, de fazer o outro sofrer e se divertir com isso".

Em junho, a uma seguidora que o elogiou pela "defesa forte do desenvolvimento econômico e criação de empregos" e pelo "afastamento e discordância do governo Dilma", o político respondeu: "A nossa torcida é para o Brasil sair da crise e voltar a ter desenvolvimento com distribuição de renda".


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