Folha de S. Paulo


Ex-secretário do Rio é suspeito de intermediar propina no transporte

Sergio Lima - 18.11.2014/Folhapress
Rodrigo Bethlem (ao fundo), na época em que era deputado federal
Rodrigo Bethlem (ao fundo), na época em que era deputado federal

A Polícia Federal realiza na manhã desta terça-feira (15) operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-deputado Rodrigo Bethlem, ex-braço direito do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB).

A ação é um desdobramento das operações Calicute e Ponto Final. Mensagens de celular e e-mails interceptadas pelo Ministério Público Federal indicam que Bethlem atuaria como um intermediário dos empresários de ônibus.

Há indícios de que ele articularia para que um esquema de corrupção instalado na prefeitura fosse continuado na gestão de Marcelo Crivella (PRB).

Bethlem enviou mensagem no dia último dia 28 de dezembro a Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor preso na Operação Ponto Final, dizendo que "tranquilizasse a 'turma', pois o esquema seria supostamente mantido, ao que tudo indica, pela atual administração municipal".

"Meu amigo garantiu que se o atual fizer ele mantém. Entendeu?", escreveu Bethlem a Teixeira, pouco depois de pedir um encontro "urgente".

Uma das suspeitas é que a mensagem seja endereçada ao empresário Jacob Barata Filho, também preso na Ponto Final. Há diversos e-mails que indicam reuniões frequentes entre os dois.

Bethlem ocupou os cargos de secretário municipal de Ordem Pública e Assistência Social na gestão Paes até 2014. Os dois romperam após a divulgação de gravações que indicavam que ele mantinha contas na Suíça.

Na campanha do ano passado, Bethlem auxiliou Crivella, de quem se aproximou no último ano. Embora não ocupe cargo público, segue influenciando nos bastidores a atual gestão municipal.

Em mensagens trocadas no dia 2 de janeiro, Bethlem afirma a Teixeira que "este vice vai dar muito trabalho", em referência ao vice-prefeito Fernando MacDowell.

Engenheiro e ex-funcionário do metrô, MacDowell vetou o reajuste contratual da tarifa este ano. Ele acumulou a Secretaria Municipal de Transporte, onde tem protagonizado embates com as empresas de ônibus.

"Ele que criou caso. Os dois tinham se acertado", escreveu Bethlem.

O Ministério Público Federal interceptou ainda, com autorização da Justiça Federal, e-mails entre Bethlem e os ex-secretários estaduais Hudson Braga, Wilson Carlos e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) todos presos desde novembro.

Neles, há referências a possíveis ameaças do ex-secretário de Paes contra os peemedebistas, em razão do bloqueio de seus bens pela Justiça estadual.

OUTRO LADO

Em nota, a assessoria de Paes afirmou que a operação "não guarda qualquer relação com o período em que Rodrigo Bethlem foi secretário do governo do ex-prefeito".

"Aliás, ele já não mantém relações políticas com o ex-prefeito Eduardo Paes desde 2014, tendo inclusive apoiado a eleição do atual prefeito", diz a nota.

A gestão Crivella, por sua vez, declarou em nota que "repudia com veemência as insinuações descabidas de qualquer possibilidade de escândalos no setor de transporte do governo anterior ter continuado na atual gestão".

A prefeitura disse ainda "que no mês passado conseguiu impedir novamente o aumento da tarifa de ônibus urbanos do município, contrariando a reivindicação dos empresários e até decisão de primeira instância da Justiça".

"A gestão municipal, sempre à disposição das autoridades, é pautada pela transparência e respeito às leis", afirma a nota do município.


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