Folha de S. Paulo


Dodge encontra Temer fora da agenda

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Raquel Dodge informa oficialmente Rodrigo Janot sobre visita a Michel Temer
Em ofício, Raquel Dodge informa a Rodrigo Janot sobre visita a Michel Temer

Após conversar com o presidente Michel Temer na noite de terça (8) no Palácio do Jaburu, em reunião fora da agenda oficial, a futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou um ofício ao atual titular, Rodrigo Janot, informando do encontro.

No ofício, assinado digitalmente por Dodge às 10h35 de quarta (9), ela comunica que esteve no Jaburu para tratar do horário da cerimônia de sua posse na PGR, marcada para 18 de setembro no Palácio do Planalto.

Na conversa com Dodge, conforme a Folha apurou, Temer também tratou da ofensiva jurídica que tem feito contra o procurador-geral.

A visita de Dodge ao Jaburu veio a público após ser registrada por um cinegrafista da TV Globo por volta das 22h. Antes de protocolar o ofício, Dodge disse à Folha que o motivo do encontro foi discutir o horário da posse.

"Cumprimentando-o, participo a Vossa Excelência que ontem à noite [terça, 8], no Palácio do Jaburu, o presidente da República comunicou-me que deverá viajar no dia 18 de setembro para os Estados Unidos, onde participará da abertura da Assembleia Geral da ONU, que se realizará no dia seguinte", informa o documento.

"Por esta razão, tendo em vista que o mandato de Vossa Excelência terminará em 17 de setembro, a posse se dará às 10h30 da manhã do dia 18 de setembro."

O presidente trava uma batalha jurídica com Janot desde que se tornou pública a delação da JBS, em maio.

Caberá a Dodge comandar todo o trabalho da PGR, incluindo os processos da Lava Jato no Supremo.

O Palácio do Planalto confirmou o motivo da reunião. De acordo com a assessoria, o encontro não constou da agenda oficial porque foi combinado por ambos em cima da hora, por telefone.

O encontro foi no mesmo dia em que a defesa de Temer pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a suspeição de Janot, para que ele deixe de atuar em casos que atingem o presidente.

Segundo relatos, ele disse a Dodge que o pedido de suspeição não é um ataque à PGR, mas uma tentativa de restabelecer a normalidade jurídica. Temer ainda fez questão de dizer, de acordo com os relatos, que a sua intenção não é interferir na atuação investigativa do órgão.

Diferentemente de Dodge, que tomará posse no Planalto, os últimos três procuradores-gerais tomaram posse em cerimônias realizadas na PGR e só quando foram reconduzidos ao cargo, para um segundo mandato, fizeram as solenidades no palácio.

Foi assim com Janot (em 2013 e 2015), Roberto Gurgel (em 2009 e 2011) e Antonio Fernando (2005 e 2007). Não há uma norma, no entanto, para que o rito seja esse.

FORA DA AGENDA

O escândalo da JBS tem como ponto central um encontro de Temer com Joesley Batista, dono do frigorífico, no dia 7 de março no Jaburu. A conversa também ocorreu no fim da noite e não foi divulgada na agenda oficial.
Na denúncia em que acusou Temer de corrupção, suspensa pela Câmara na semana passada, Janot criticou encontros fora da agenda.

Reuniões noturnas e secretas "revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados", escreveu o procurador-geral.

A PGR ainda tem duas investigações sobre Temer, por suspeita de obstrução da Justiça e de envolvimento em organização criminosa. A expectativa é que haja nova denúncia até o fim do mandato de Janot.

Editoria de Arte/Folhapress
Agendas secretas - Mesmo após críticas pelo encontro Joesley Batista, Temer manteve reuniões às escondidas

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