Folha de S. Paulo


Movimentos tentam convencer gente de fora da política a se candidatar

Lula Marques - 15.abr.2006/Folhapress
Fim do recesso parlamentar já começa a dominar atenção de investidores
O Congresso Nacional, em Brasília; grupos querem atrair lideranças para renovar Legislativo no país

Saturados com a falta de renovação e descrentes dos partidos e políticos tradicionais, movimentos começam a se organizar com mais pressa para mapear novos candidatos a tempo de lançá-los para a eleição do ano que vem, principalmente para o Legislativo.

Além de usar a internet como lupa na busca dos nomes e como meio para divulgá-los, os projetos têm traços em comum como a desvinculação de partidos e a tentativa de convencer pessoas sem experiência a se render às urnas.

"Sei de muita gente com espírito público que ficou apartada da política com medo de se intoxicar pela forma como ela está estabelecida", afirma o produtor cultural e mestre em filosofia Alê Youssef, que lançou no início deste mês o Candidate-se.

O projeto, com vídeos no YouTube, já "provocou", como diz o idealizador, gente como o ex-judoca Flavio Canto, a pesquisadora de segurança pública e política de drogas Ilona Szabó e a ativista feminista Manoela Miklos. Destes, só Manoela falou pensar na possibilidade.

Youssef (que tem em sua biografia uma tentativa de eleição, para deputado federal, pelo PV, em 2010) fala em "naturalizar" a ideia de candidatura, "para que realmente haja novas alternativas".

O Agulha no Palheiro, outra iniciativa de garimpo dele, entrevistou no ano passado Sâmia Bomfim, eleita vereadora em São Paulo pelo PSOL.

PONTAPÉ

Na mesma linha de empurrar lideranças naturais para a vida política, a plataforma Avaaz (realizadora de abaixo-assinados como o que já coletou 489 mil apoios à saída do presidente Temer) quer que cidadãos indiquem candidatos potenciais, conhecidos em quem votariam, e deem o pontapé na campanha deles.

Lançada como uma experiência piloto na eleição de 2016, a página será turbinada para o próximo pleito, segundo Diego Casaes, da Avaaz.
Partido, afirma, pouco importa, desde que os pré-candidatos defendam bandeiras da organização como combate à corrupção e proteção dos direitos humanos. "A gente viu líder comunitário, indígenas, professores, gente de vários lugares do país", diz ele.

A abertura do mundo político para novatos move também grupos como o Nova Democracia e o Renove (Rede de Novos Vereadores, que ambiciona preparar jovens para pleitearem vagas na Câmara paulistana em 2020).

O Acredito, que tem a meta de lançar 30 candidaturas em 2018, apresenta neste sábado (29) o manifesto que estabelece as bases do movimento, autodefinido como de renovação política e suprapartidário.

"A gente não tem a ilusão de que vai ser fácil ou que todo mundo será eleito", diz o consultor José Frederico Lyra Netto, coordenador do grupo. "Mas a gente percebe que há uma indignação do brasileiro que pode ser transformada em voto e em mudança."

Os "caça-políticos" se empolgam para usar as ferramentas digitais também para fazer as campanhas e arrecadar doações. Mas ponderam: antes, será preciso romper barreiras internas dos partidos e concretizar as candidaturas.

"Sou otimista em relação a esses movimentos que respondem à crise de lideranças e extremamente pessimista quanto aos partidos", diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. "Não vejo nenhuma renovação nem no PT nem no PSDB nem no PMDB."


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