Folha de S. Paulo


Com morte de 'Getulinho', suicídio atinge três gerações da família Vargas

Reprodução/Facebook/Getúlio Dornelles Vargas Neto
Morreu, nesta segunda-feira, Getúlio Dornelles Vargas Neto, neto do ex-presidente Getúlio Vargas, aos 61 anos. O corpo do advogado, um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT), foi encontrado em seu apartamento, no bairro Moinhos do Vento, bairro nobre da capital gaúcha. A Polícia Civil afirma que Dornelles cometeu suicídio. Ele repetiu o gesto do pai, Maneco Vargas, e do avô Getúlio Vargas, ex-presidente da República, que se mataram com um tiro no peito.
Getúlio Dornelles Vargas Neto, neto do presidente Getúlio Vargas, morreu aos 61 anos

Três gerações da família Vargas foram abaladas por suicídio. Assim como o seu avô, o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), e o seu pai, Manuel Antônio Vargas (1916-1997), o advogado Getúlio Dornelles Vargas tirou a própria vida, aos 61 anos. Ele tinha o mesmo nome do avô.

"Getulinho", como era chamado por amigos, foi encontrado morto em seu apartamento no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, na última segunda-feira (17).

A Polícia Civil investiga o caso, mas confirma que a causa da morte foi suicídio com um tiro na região da têmpora.

Ele deixou uma carta para os familiares, mas não revela a motivação. "São questões bem íntimas. Ele deixou mensagens de carinho para a família", conta a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios da capital gaúcha.

O advogado morava com uma filha, que não estava no apartamento no momento do disparo.

"Infelizmente, foi mais uma tragédia nessa família", diz a delegada, em referência ao histórico de suicídio que atingiu três gerações: o avô, o pai e o neto.

HISTÓRIA

Em 1954, no dia 24 de agosto, Getúlio Vargas, o avô, tirou a própria vida, no seu quarto, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então sede da Presidência da República. O presidente se encontrava em meio a uma grave crise política.

Getúlio (1945-1954)
Lira Neto
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"Em vez de significar um gesto de fraqueza e covardia, a autoimolação de Getúlio o tornava um mártir e, para o imaginário coletivo nacional, um símbolo heroico de resistência", diz o jornalista Lira Neto, no terceiro livro da série que escreveu sobre o presidente.

Getúlio, da mesma forma que o neto, também deixou uma carta. Mas diferentemente de "Getulinho", explicou as motivações políticas para tirar a própria vida. O gaúcho terminava a carta dizendo: "Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História".

Na segunda geração, o pai de "Getulinho", também se matou. Manuel Antônio Vargas, conhecido como Maneco, foi encontrado morto na fazenda da família, em Itaqui, após um tiro no coração.

De acordo com a investigação da Polícia Civil, o advogado sofria de depressão, o que pode ter levado ao ato. "Embora ele fosse depressivo, talvez os fatos de seus antepassados contribuíram com o suicídio. Há estudos que indicam a origem genética da depressão", afirma a delegada.

Apesar da depressão, pessoas próximas a Getulinho o descrevem como uma pessoa alegre e que gostava de estar rodeado por amigos.

"Ele sempre foi uma pessoa muito querida dentro do PDT. Ele tinha muitas críticas à própria política. Mas para o PDT, por ele ser neto de quem era, sempre teve muita importância, sempre foi prestigiado", diz Juliana Brizola, deputada estadual pelo PDT.

O neto de Getúlio foi um dos fundadores do PDT, partido de Juliana e também de seu avô, Leonel Brizola (1922-2004).


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