Folha de S. Paulo


Réus que acusaram Lula recebem benefícios de Sergio Moro

Danilo Verpa - 5.set.2016/Folhapress
Leo Pinheiro da OAS chega a sede da PF em São Paulo por condução coercitiva, em nova operação da Polícia Federal chamada de
O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, em setembro de 2016

Os outros dois réus condenados na mesma ação penal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 71, receberam benefícios do juiz Sergio Moro na sentença, expedida nesta quarta-feira (12).

Ambos fizeram acusações contra o petista em depoimentos no processo.

O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, está preso desde setembro do ano passado e, pela sentença de Moro, ficará detido em regime fechado por um período de até dois anos e meio.

A mesma situação aconteceu com Agenor Franklin Medeiros, ex-executivo da OAS. O réu ficará preso em regime fechado por até dois anos, independentemente do total das penas somadas. Medeiros ficou detido por cinco meses entre 2014 e 2015.

Os dois ex-executivos já foram condenados em outras ações penais e negociam um acordo de colaboração premiada, que ainda não foi fechado com o Ministério Público Federal.

Os benefícios concedidos por Moro, porém, precisarão ser confirmados pelos juízes da segunda instância, que vão analisar o caso de Lula. Os dois também terão que pagar multas e continuar colaborando com a Justiça.

"Envolvendo o caso crimes praticados pelo mais alto mandatário da República, não é possível ignorar a relevância do depoimento de Agenor", escreveu Moro.

Sobre Pinheiro, o juiz afirmou na sentença que, ainda que tardiamente, o réu contribuiu "para o esclarecimento da verdade, prestando depoimento e fornecendo documentos".

"Sendo seu depoimento consistente com o restante do quadro probatório, especialmente com as provas documentais produzidas e tendo ele, o depoimento, relevância probatória para o julgamento, justifica-se a concessão a ele de benefícios legais."

O empreiteiro afirmou a Moro, em abril, que o apartamento tríplex foi cedido ao ex-presidente em troca de favorecimento da OAS junto ao governo federal e que os valores correspondentes foram debitados de uma espécie de "conta-corrente da propina" do PT com a construtora.

Pinheiro também já tinha sido detido anteriormente –passou cinco meses presos até abril de 2015.

Início do depoimento de Lula para Moro

Depoimento de Lula para Moro, em maio

PRECEDENTE

Não é a primeira vez que Moro concede benefícios a réus em processo de delação.

No final de junho, ele fez a mesma coisa com Renato Duque, ex-diretor da Petrobras.

Duque, na ocasião, admitiu participação no esquema e acusou o ex-presidente Lula de ter "pleno conhecimento" da corrupção na Petrobras. Ele também negocia um acordo de delação premiada.

Especialistas ouvidos pela Folha criticaram a decisão de Moro e disseram que o juiz estava antecipando benefícios que não poderia conceder, já que não participa da negociação do acordo.

Para o professor de Direito da USP Gustavo Badaró, Moro, dessa forma, incentiva os réus a fazer acordo.


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