Folha de S. Paulo


Justiça decreta prisão de policiais envolvidos em chacina no Pará

Avener Prado/Folhapress
REDENÇÃO, PARÁ, BRASIL, 26-05-2017: Cerimônia de enterro no cemitério de Redenção após a ação conjunta das polícias Militar e Civil do Pará que terminou com dez pessoas mortas na fazenda em Pau d'Arco (867 km ao sul de Belém), nesta quarta-feira (24). Trata-se do episódio mais violento ligado à disputa agrária em 21 anos, desde o massacre de Eldorado do Carajás, cidade na mesma região. Na ocasião, PMs mataram 19 sem-terra ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Secretaria Estadual de Segurança Pública do Pará afirmou que os policiais estavam cumprindo mandados de prisão de suspeitos de terem matado um segurança da fazenda Santa Lúcia, alvo de disputa agrária, no início deste mês. Ainda de acordo com a versão oficial, eles foram recebidos à bala no local e reagiram. No acampamento, teriam sido apreendidas algumas armas de fogo. Não há informação de policiais feridos. O novo massacre ocorre em meio a uma escalada de violência ligada a disputas agrárias no Pará. Ao menos 17 pessoas morreram nas últimas semanas no Estado por esse motivo, segundo a CPT. O Pará é o Estado com mais mortes no campo, de acordo com a CPT. De 2007 a 2016, foram 103 assassinatos. Cerca de dois terços dos casos ocorreu no sudeste do Pará, palco do massacre desta quarta. (Foto: Avener Prado/Folhapress, PODER) Código do Fotógrafo: 20516 ***EXCLUSIVO FOLHA***
Enterro, no cemitério de Redenção (PA), de mortos em chacina no Pará

A Justiça Estadual do Pará aceitou o pedido de prisão temporária dos 13 policiais envolvidos na morte de dez trabalhadores rurais sem-terra na Fazenda Santa Lúcia, em Pau D'Arco (867 km ao sul de Belém), em maio deste ano.

A decisão pela prisão foi tomada na última sexta-feira (7) pelo juiz Haroldo Silva da Fonseca, da comarca de Redenção (PA), a partir de pedido do Ministério Público do Estado do Pará.

O pedido foi acolhido no mesmo dia em que Rosenilton Pereira de Almeida, 44, uma das lideranças do assentamento, foi assassinado em Rio Maria, cidade a 60 km de Pau D'Arco.

Os 13 policiais –11 militares e dois civis– já se apresentaram à polícia.

As prisões têm prazo de cinco dias, mas pode serem prorrogadas por mais cinco.

As prisões foram efetuadas 45 dias após a após a ação conjunta das polícias Militar e Civil do Pará que resultou em dez mortos, todos eles camponeses, no episódio de disputa agrária mais violento desde Eldorado dos Carajás, também no Pará, em 1996.

As mortes em Pau d'Arco ocorreram na manhã de 24 de maio após um grupo de 29 policiais ter ido ao assentamento cumprir três mandados de prisão de camponeses suspeitos de matar um segurança da fazenda.

O caso está analisado em quatro frentes de investigação: Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Federal e corregedorias das polícias Civil e Militar. Nenhum dos inquéritos foi concluído.

A polícia afirma que houve um confronto entre com os camponeses e troca de tiros –hipótese descartada pelo Ministério Público do Pará.

Os promotores destacam quem não houve nenhum baleado entre os policiais que participaram da operação nem marca das de tiros nos veículos dos policiais.

Também afirmam que dois seguranças particulares da fazenda participaram da operação policial de forma irregular.

Na última semana, Polícia Civil e Polícia Federal fizeram uma reconstituição da operação em Pau D'Arco que durou três dias.

A Polícia Civil informou que ouviu cerca de 50 pessoas entre policiais, testemunhas e sobreviventes. A Polícia Miliar não vai se pronunciar até a conclusão das investigações.


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