Folha de S. Paulo


Doleiro diz que dinheiro das empresas abasteceu Odebrecht

José Lucena/Futura Press/Folhapress
RIO DE JANEIRO,RJ,03.07.2017:OPERAÇÃO-PONTO-FINAL - Movimentação na sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro (RJ), na manhã desta segunda-feira (3), durante a Operação Ponto Final, mais uma etapa da operação Lava Jato. Desta vez, o foco da ação é a cúpula do transporte rodoviário do estado. De acordo com as investigações da Operação Ponto Final, foram rastreados R$ 260 milhões em propina pagos pelos investigados a políticos do estado. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Movimentação na sede da Polícia Federal, no Rio, durante a Operação Ponto Final

A montanha de dinheiro vivo arrecadada nos ônibus que circulam pela região metropolitana do Rio ajudou o doleiro Álvaro Novis a estabelecer relação de "confiança" com a Odebrecht.

Novis afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que forneceu dinheiro dos ônibus para a empreiteira em 2006 ou 2007. A velocidade com que ofereceu os recursos em espécie para o caixa dois da empreiteira lhe abriu as portas da empresa, disse ele.

É a terceira vez que o nome do doleiro aparece nas investigações da Lava Jato, desde sua prisão em março de 2016.

Em razão das distintas ocasiões em que foi preso, Novis já foi apresentado como operador financeiro da empreiteira, do ex-governador Sérgio Cabral e, agora, das empresas de ônibus do Rio.

O relato do doleiro à PGR mostra que ele gerenciava um grande caixa de dinheiro vivo, guardado nas transportadoras de valores Trans Expert e Prosegur. Novis afirmou que o seu primeiro cliente foi a Fetranspor (federação das empresas de ônibus), um dos responsáveis pelo abastecimento de dinheiro em espécie.

No início da década de 1990, foi convidado pelo empresário José Carlos Lavoura, também alvo da Operação Ponto Final, para administrar os recursos das companhias.

Entre 2006 e 2007, um representante da Odebrecht lhe pediu R$ 800 mil em espécie. Com dinheiro da Fetranspor, Novis –sobrinho do ex-vice-presidente financeiro da empreiteira, Álvaro Pereira Novis– conseguiu entregar o valor no mesmo dia, o que garantiu relação de "respeito e confiança" com a empresa.

A geração de dinheiro vivo para o caixa dois era, segundo delatores, uma das grandes dores de cabeça das empreiteiras. Geralmente, usava-se pequenas empresas subcontratadas em obras públicas para este fim.

Novis, contudo, era abastecido, segundo as investigações, por dezenas de empresas que transportam em média 6 milhões de passageiros por dia –parte ainda paga a tarifa ou carrega os cartões RioCard com dinheiro vivo. Cabia a ele gerenciar a entrada e saída do dinheiro de modo que nunca faltasse caixa.

Na Odebrecht, passou então a ser o responsável pela distribuição de dinheiro em São Paulo e no Rio –motivo pelo qual seu apelido no "setor da propina" da Odebrecht variava de "Paulistinha" a "Carioquinha".

Novis passou a cuidar da propina de Cabral, segundo as investigações, após os doleiros Renato e Marcelo Chebar, também delatores, não conseguirem dar mais conta dos recursos que entravam para o governador. Na planilha dos irmãos, ganhou outro apelido: "enrolado".

O corretor, contudo, mostrou certa organização ao fazer sua delação. Apresentou controle de entrada e saída de recursos que identificou o pagamento de cerca de R$ 500 milhões entre 2010 e 2016 vinculados à Fetranspor.

O dinheiro de Cabral nem precisava sair das transportadoras de valores. Era necessário apenas fazer a movimentação entre as "contas imaginárias" do cofre.

A retirada do dinheiro era feita por seus funcionários. Na entrega, exigia a reprodução de uma senha –"margarida", no caso de Cabral.

O esquema, porém, mostrou vulnerabilidade. O funcionário da Prosegur Márcio Miranda desapareceu em 2014 levando R$ 40 milhões.

Procurada, a Odebrecht disse que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".


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