Folha de S. Paulo


Texto de empresário revela lobby sobre Cabral em Mangaratiba

Divulgação/Polícia Federal
Rio de Janeiro,RJ,Brasil - 17.nov.2016 - Lancha
Lancha "Manhattan", do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, apreendido na marina em Mangaratiba (RJ)

Chamada pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) como "extensão de sua residência", a casa de veraneio no condomínio Portobello, em Mangaratiba (RJ), é descrita em texto do empresário Marco Antônio de Luca, do grupo Masan, como local de negociações para obtenção de contratos do Estado.

Responsável pelo fornecimento de alimentação para presídios, polícia e escolas, Luca, preso no início do mês, afirma que o aluguel de uma casa no condomínio "dava oportunidade de alguns encontros e uma oportunidade".

"Um fds [fim de semana] fui passar no hotel Portobello e encontro com o Sc [Sérgio Cabral] lá! Começamos a conversar, contei do projeto para ele, que ficou encantado. Os meus filhos que são da mesma idade ficaram jogando bola e acabaram indo para a casa dele! Quando fui buscá-los ele me convidou para comer uma pizza à noite! Começava aí a minha chance de me aproximar e não ter q depender mais de WC [Wilson Carlos, ex-secretário de Governo] e Artur [Soares, empresário ex-dono do grupo Facility]! Fui outros fds [fins de semana] e acabei alugando uma casa", escreveu Luca em texto localizado no celular do empresário, preso no início do mês.

O texto faz parte da 12ª denúncia contra o ex-governador feita nesta quarta-feira (28) pelo Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Nela, Luca é acusado de ter repassado ao menos R$ 16,7 milhões ao esquema de Cabral.

As investigações indicam que o peemedebista cobrava 5% de propina nos principais contratos do Estado. As empresas ligadas a Luca firmaram acordos que somam R$ 900 milhões na gestão Cabral -motivo pelo qual suspeita-se que a propina paga é ainda maior.

O texto de Luca aponta que encontros em Mangaratiba eram importantes para identificar as licitações em que a empresa teria chances de vencer.

"Continuei com os fds [fins de semana] em Mangaratiba, e em um desses encontros, estava para acontecer a licitação de mão de obra de limpeza e merendeira nas escolas! Falei com ele que teria essa licitação e se eu podia entrar, querendo insinuar que se fosse atrapalhar eu abriria mão, quando ele falou: pode entrar, que é a Vera!! Com isso tinha uma sensação de segurança que não seria perseguido!", escreve Luca em outro trecho.

Além de Luca, mantinham casa no Portobello Arthur Soares, cujo grupo Facility somou mais de R$ 3 bilhões de contratos, o empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior e o empresário George Sadala, responsável pelo grupo Agiliza Rio. Todos são investigados na Lava Jato –Junior tornou-se delator.

O texto de Luca, localizado no celular apreendido na deflagração da Operação Ratatouille, revela também uma disputa com Soares. As empresas disputavam o fornecimento de mão-de-obra e alimentos para o Estado.
Também foram denunciados Carlos Emanuel Miranda e Luiz Carlos Bezerra, apontados como responsáveis por recolher a propina da quadrilha.

Em nota no dia da operação, o grupo Masan afirmou que "trabalha com o governo do Estado do Rio de Janeiro desde 2005, antes do início da administração Sérgio Cabral".

"Todas as licitações ganhas pela empresa foram pela modalidade de menor preço. A Masan ressalta ainda que nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história", dizia a nota enviada à época.
Os advogados de Cabral, Miranda e Bezerra não comentaram a denúncia até a publicação desta nota.


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