Folha de S. Paulo


Organizadores criticam ausência de Alckmin na Marcha para Jesus

Ao cancelar sua ida à Marcha para Jesus, o governador Geraldo Alckmin causou um mal-estar com o líder da igreja Renascer em Cristo, que organiza o evento.

"Alckmin não julga [a Marcha] importante. Se julgasse, estaria aqui", disse nesta quinta-feira (15) à Folha o apóstolo Estevam Hernandes, que idealizou a celebração gospel 25 anos atrás.

Hernandes afirmou não entender "por que [o governador] não veio".

Mas disse não estranhar a ausência do prefeito João Doria, que está em viagem não oficial e a quem conhece "desde os tempos da TV Manchete" (o hoje político tucano teve o programa "Show Business" na extinta emissora, nos anos 1990). "Ele viajou para o exterior."

O vice-prefeito Bruno Covas passou pelo Campo de Marte, o ponto final da caminhada, e até vestiu a camisa —no caso, o "abadá" verde-limão do evento, que traz o lema "Jesus, o Rei dos Reis".

Covas explicou que Doria tinha "uma viagem programada antes mesmo de sonhar em disputar as prévias" para ser o candidato do PSDB ao Executivo paulistano. O prefeito está em Porto Rico para o aniversário de 15 anos da filha Carolina.

"Os evangélicos no Brasil nunca dependeram de políticos para sobreviver", afirmou o deputado estadual Cezinha de Madureira (DEM-SP), ligado à Assembleia de Deus Madureira.

Vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, ele disse que o crescimento de sua religião no país é inevitável, e pior para "o governante que não olhe para isso".

"Quem não vem perde por não vir", afirmou o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP).

A primeira Marcha, em 1992, foi idealizada em seu gabinete, conta o parlamentar. Era, na época, o primeiro vereador evangélico de São Paulo.

Para Nascimento, a melhor saída para a barafunda política que assola o país seria "se o brasileiro olhasse menos para a crise e mais para Cristo".

O deputado puxou o vice-prefeito pelo braço e o usou como exemplo. "O Bruno, por exemplo, vai ser abençoado por milhares das pessoas que estão aqui."

O apóstolo Hernandes frisou que tem uma boa relação com Doria, mas adiciona: "Não fazemos questão que venha nenhum político". Quando eles vêm, são bem tratados, disse. Mas dispensáveis, em suma.

Na véspera da marcha, o bispo Leandro Miglioli Hernandes disse à reportagem que a ausência de políticos não o incomodava, pois "Jesus Cristo é a maior das autoridades". Também conhecido como bispo Lê, ele adota o sobrenome do apóstolo por considerá-lo seu "pai espiritual", homenagem repetida por outros pastores da Renascer.

A assessoria do Palácio dos Bandeirantes disse que o governador avisou à organização da marcha, na noite da véspera, que desistira de ir (havia confirmado horas antes), pois tinha um compromisso pessoal em Jaguariúna (SP).

CANDIDATOS

Entre as redes de wi-fi disponíveis no backstage da Marcha para Jesus, muitas aludiam ao tema do dia: "iGospel", "Marcha2017" etc. Uma delas se destacava pelo teor político: "Bolsonaro Presidente".

Quando o assunto é 2018, a predileção pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) agrada a 8 das 37 pessoas abordadas pela Folha no evento.

A sondagem, informal, não tem validade científica. Os entrevistados falaram espontaneamente sobre quem preferiam, sem nenhum nome apresentado de antemão.

Doria teve apoio de 15 participantes consultados pela reportagem. Já Alckmin foi a escolha de 6 fiéis.

O ex-presidente Lula e a ex-senadora Marina Silva foram mencionados por 2 participantes cada. Uma pessoa citou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e 3 apontaram o líder da igreja Renascer em Cristo, idealizadora da marcha, como seu presidente de coração.

O apóstolo Estevam Hernandes, contudo, afirmou que não pensa numa carreira política. Ele disse à Folha que sua igreja não tem "apoio fechado com ninguém" e que é "completamente contra qualquer tentativa de curral eleitoral".

Eleitora de Marina, a publicitária Ágata Bijeran, 33, afirma que para ela "não faz diferença" se sua candidata "é ou não evangélica". "Nunca votei no Garotinho, por exemplo", diz Ágata sobre o ex-presidenciável, pioneiro em usar sua fé evangélica como apelo ao segmento evangélico, na campanha de 2002.

O enfermeiro Fábio Novato, 40, vai de Bolsonaro em 2018, se candidato ele for. Considera-o "o mais autêntico" dos políticos, "que não muda de opinião para agradar ninguém".

É ainda, segundo Novato, um alento após seguidas decepções com parlamentares "que se dizem cristãos, mas não agem como tal" (cita Feliciano e o senador Magno Malta, do PR-ES).

Bolsonaro está hoje no Partido Social Cristão, mas já fala em mudar de partido, de olho numa candidatura ao Palácio do Planalto. Em 2016, ele –católico– foi batizado nas águas de Israel pelo presidente do PSC, pastor Everaldo.


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