Folha de S. Paulo


Morre aos 63 anos o jornalista Jorge Bastos Moreno

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Jornalista Jorge Bastos Moreno morreu nesta quarta-feira (14) no Rio de Janeiro
Jornalista Jorge Bastos Moreno morreu na madrugada desta quarta-feira (14) no Rio de Janeiro

Copa de 2002. Notívago, o presidenciável José Serra (PSDB) entra pela madrugada assistindo aos jogos da seleção brasileira na escura boate de uma casa do Lago Norte, em Brasília. Cinco meses depois, a cúpula petista -incluindo os escalados para assumir uma cadeira no governo do recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva- comemora a vitória eleitoral ao redor da piscina da mesma casa.

O jornalista Jorge Bastos Moreno foi esse anfitrião, capaz de convidar adversários para uma mesma mesa. Moreno morreu à 1h desta quarta-feira, aos 63 anos, no Rio. Levou com ele parte da história da Nova República.

Em 40 anos de profissão, 35 deles em "O Globo", o colunista testemunhou momentos dramáticos da política.

Em 1999, soube de madrugada da queda do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e a consequente guinada na política econômica, o que lhe rendeu o Prêmio Esso de Informação Econômica. Um ano antes, estava ao lado de Antonio Carlos Magalhães quando o então presidente do Senado foi informado da morte de seu filho, Luís Eduardo.

Moreno -que morreu de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares- deixa uma legião de discípulos.

Manhoso e ciumento, adotava jovens jornalistas recém-chegados à capital. Seus jantares reuniam políticos de todas matizes e jornalistas de todas as redações. Nascido em Cuiabá (MT), viveu em Brasília e no Rio.

Cáustico, transitou com desenvoltura por todos os gabinetes presidenciais pós-abertura, sendo o de Itamar Franco a exceção.

Pelo "Jornal de Brasília": antecipou a nomeação do general João Figueiredo como sucessor do general Ernesto Geisel. Durante o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, revelou que um Fiat Elba de propriedade do presidente tinha sido comprado pelo "fantasma" José Carlos Bonfim -determinante para seu afastamento. Moreno se deliciava ao contar detalhes dessa apuração.

No fim da década de 1990, estreou sua coluna de sábado, "Nhenhenhém", numa alusão à expressão usada pelo ex-presidente FHC às pautas jornalísticas. O tucano foi um de seus interlocutores. Dilma Rousseff também.

Há dez anos, Moreno vivia no Rio, onde mantinha um blog. Desde março, comandava o talk show "Moreno no Rádio", na CBN. Era também o âncora do programa "Preto no Branco", do Canal Brasil.

Sua primeira musa foi Maiani de Almeida, dona Mora, mulher de Ulysses Guimarães. Moreno coordenou a campanha de Ulysses em 1989. Em 2013, lançou "A história de Mora -a saga de Ulysses Guimarães".

O corpo foi velado em uma das capelas do Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio, e reuniu amigos, artistas e políticos. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, representou o presidente Michel Temer.

Ele será sepultado nesta quinta (15), em Cuiabá.

Moreno tinha muito mais para contar. Vivo, me telefonaria para reclamar de seu obituário. Ficaria um mês sem falar comigo. Infelizmente, não posso mais ouvir suas queixas nem suas histórias.


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