Folha de S. Paulo


Miguel Reale Jr. pede desfiliação após PSDB decidir ficar no governo Temer

Renato Costa - 30.mar.2016/Folhapress
#multimidia - BRASILIA, DF, BRASIL, 30/03/2016, Reunião da Comissão Especial que analisa a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, nesta quarta-feira, na Câmara, em Brasília (DF). Conforme acordado na manhã de hoje (30), o encontro tem por finalidade ouvir os advogados Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, autores do pedido que culminou no processo de impeachment. (Foto: Renato Costa/Folhapress, PODER)
O jurista Miguel Reale Junior durante participação em audiência no Congresso Nacional

O jurista Miguel Reale Junior, ex-ministro da Justiça no governo FHC, pediu desfiliação do PSDB, após a decisão do partido nesta segunda (12) de permanecer no governo Michel Temer, mesmo diante da crise eclodida com a delação da JBS.

Miguel Reale Junior foi um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Estava filiado ao partido desde 1990, após participar ativamente da campanha de Ulysses Guimarães à Presidência da República, em 1989.

"Eles [lideranças do PSDB] não avaliaram que simpatizantes e filiados do partido se opõem a essa decisão [de ficar no governo]. O PSDB não atendeu as suas bases. O eleitorado do PSDB tem a ética e a luta contra a corrupção como focos", disse ele.

Reale Junior suscitou nomes como Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso na luta pela ética, mas disse que o partido agora ignora os fatos graves revelados pela delação dos empresários Wesley e Joesley Batista, donos do frigorífico JBS.

Na delação, o presidente Michel Temer aparece numa conversa gravada por Joesley Batista no Palácio do Jaburu, sede da Vice-Presidência. Nela, o peemedebista é suspeito de dar anuência a atos de corrupção no governo.

"Com essa medida, o PSDB perde consistência, ética e eleitorado. Perde o discurso", afirmou o jurista. "O PSDB é um muro que vai acabar se tornando o seu túmulo", completou ele, que já foi candidato a deputado federal e atuou como professor universitário.

REFORMAS

Segundo o jurista, a permanência do PSDB no governo Temer nada mais é do que um acordo que visa evitar mais desgastes ao senador e presidente afastado do partido Aécio Neves (MG), ameaçado de ser preso e de ter o mandato cassado no Senado.

"Essa história de que 'está se olhando para o Brasil, para a necessidade das reformas, é só uma desculpa. Uma mão lava a outra. O presidente precisa de apoio. Além disso, há interesses de aliança eleitoral", afirmou Reale Junior.

O ex-tucano reagiu às declarações de tucanos de que novas denúncias contra Temer virão e que será necessário o partido rever posição. "É cansativo isso. Estou indignado com esse posicionamento do partido pelo qual tanto lutei", afirmou.

Reale Junior afirmou que não pretende se filiar a mais nenhum outro partido "Não tem nenhum outro [partido] que mereça a minha participação]", disse. Sobre entrar com um pedido de impeachment contra Temer, ele afirmou que não pretende tomar a medida. "Já fiz o bastante."

O PSDB nacional informou que ainda não recebeu nenhum pedido de desfiliação por parte de Miguel Reale Junior. O presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo, Mário Covas Neto, lamentou a decisão, mas afirmou que compreende o que leva o jurista a esse "desgosto".


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