Folha de S. Paulo


Jornalista Míriam Leitão relata agressão de petistas em voo

A jornalista Míriam Leitão, do grupo Globo, afirmou ter sido vítima de um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT em um voo da Avianca de Brasília para o Rio, no último dia 3.

Segundo relato em seu no blog no jornal "O Globo", Míriam Leitão disse ter sido ameaçada e ofendida com xingamentos como "terrorista, terrorista" e acusou a empresa aérea de não agir para impedir as agressões durante o voo.

"Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo", escreveu ela.

A jornalista contou que as manifestações começaram antes mesmo de entrar no avião. Segundo ela, um grupo de petistas começou com ofensas, mas em seguida, pararam. Já dentro da aeronave, eles retomaram os ataques.

"Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas", disse.

Míriam Leitão afirmou que uma comissária foi até a ela e afirmou que o comandante a convidava para sentar na frente da aeronave. Mas o convite foi recusado. "Diga ao comandante que eu comprei a [poltrona] 15C e é aqui que eu vou ficar", respondeu a jornalista à comissária.

"O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação", afirmou a jornalista, no blog.

Míriam disse que a aeromoça voltou e afirmou que agora a Polícia Federal estava mandando ela sentar na frente, sob a ameaça do avião não decolar.

"Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias", disse, no blog.

De acordo com a jornalista, a Avianca não deu nenhuma explicação sobre a "inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo". "Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo", escreveu.

"Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana [3]. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho", afirmou Míriam.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) repudiou o comportamento dos militantes do PT, classificando o ataque como "covarde e intolerante". Em nota, a associação afirmou que "não há nada que justifique assédio violento a qualquer cidadão por suas posições ou seus atos" e que "a violência, a intolerância e a incompreensão do papel da liberdade de expressão podem ferir de morte o regime democrático."

Também emitiram nota conjunta de repúdio a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), a Aner (Associação Nacional de Editores de Revista) e a ANJ (Associação Nacional de Jornais). "Atitudes como essa refletem autoritarismo, intolerância e desconhecimento do papel da imprensa – o de informar a sociedade sobre assuntos de interesse público."

OUTRO LADO

Em nota, a nova presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o partido lamenta o constrangimento sofrido pela jornalista e que orienta a militância a "não realizar manifestações políticas em locais impróprios e a não agredir qualquer pessoa por suas posições políticas, ideológicas ou por qualquer outro motivo, como confundi-las com as empresas para as quais trabalhem."

"Entendemos que esse comportamento não agrega nada ao debate democrático. Destacamos ainda que muitos integrantes do Partido dos Trabalhadores já foram vítimas de semelhante agressão dentro de aviões, aeroportos e em outros locais públicos", afirmou Gleisi, na nota.

"Não podemos, entretanto, deixar de ressaltar que a Rede Globo, empresa para a qual trabalha a jornalista Míriam Leitão, é, em grande medida, responsável pelo clima de radicalização e até de ódio por que passa o Brasil, e em nada tem contribuído para amenizar esse clima do qual é partícipe. O PT não fará com a Globo o que a Globo faz com o PT", diz a nota assinada pela senadora.

O grupo Globo informou, em nota, que o PT se equivoca. "Quem contribui para esse tipo de agressão são os mais altos dirigentes do partido que, em face das acusações que sofrem dos órgãos de investigação do país, denigrem de forma contumaz aqueles que apenas noticiam os fatos."

E completou: "A nota da senadora Gleisi Hoffman é o mais acabado exemplo disso. Transforma o que deveria ser apenas um pedido de desculpas à jornalista Miriam Leitão num ataque à TV Globo, contribuindo para essa cultura do ódio de alguns de seus militantes. Nada disso, porém, intimidará aqueles que, como a Globo, se dedicam a reportar os fatos com isenção, sejam eles positivos ou negativos, sem levar em conta os partidos a que se referem. A Globo tem demostrado isso na prática."

Também em nota, a Avianca informou que repudia ações que violem os direitos dos cidadãos. A empresa informou que a presença da Polícia Federal foi solicitada na aeronave após a tripulação detectar um tumulto a bordo que "poderia atentar à segurança operacional e à integridade dos passageiros, e que o procedimento objetivo seguido pelo comandante, no estrito cumprimento de suas funções, seguiu a praxe do setor para esses casos."


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