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Nunca o Brasil precisou tanto do PT como agora, diz Lula em São Paulo

Nelson Antoine/Folhapress
SAO PAULO, SP, 10.06.2017: PT-DIREÇÃO - A senadora Gleisi Hoffmann, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Marinho participam de cerimônia de posse do diretório do PT estadual durante a manhã deste sábado (10) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Foto: Nelson Antoine/Folhapress)
Gleisi Hoffmann, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Marinho na posse do diretório do PT

No dia seguinte ao julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que absolveu a chapa Dilma-Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que as instituições sofrem de "falta de credibilidade" e que o país passa por uma profunda crise econômica, moral e ética.

Lula não mencionou o resultado favorável à ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e ao atual mandatário, Michel Temer (PMDB), mas disse que "neste instante, o Brasil está precisando do PT". "Nunca o Brasil precisou tanto do PT como está precisando
agora", disse neste sábado (10), em evento de posse do diretório paulista do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

"Nós sabemos como fazer a economia crescer, como criar emprego", afirmou o petista, pedindo que seus correligionários mostrem à população as realizações das administrações do partido. "Haverá um dia que a gente vai se dar conta do que foi o PT". Segundo Lula, o partido mostra "que é possível uma alternativa econômica, cultural, ambiental". "Porque quando a gente chegar lá, a gente vai ter que desfazer tudo o que eles estão fazendo".

No mesmo evento, Lula brincou a respeito dos processos que responde na Justiça e disse que pensa em fazer delação ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância. "Eu estou quase falando: 'Moro, meu amigo Moro, o Joesley disse que eu tenho US$ 82 milhões. Se você quiser que eu faça uma delaçãozinha e você me der US$ 41 milhões, eu faço. O primeiro que eu entrego é ele", falou. "E aí vou lá para o tríplex".

PAZ E ÓDIO

Para o ex-presidente, que voltou a dizer que pode ser candidato se o PT quiser, seus opositores ficam irritados com pesquisas que mostram que ele tem chances de voltar ao Planalto. "E eles, que transmitiram ódio durante todos esses anos, não estão colhendo Aécio [Neves, senador], FHC [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso], [senador José] Serra, [governador Geraldo], Alckmin. Estão colhendo o [deputado federal Jair] Bolsonaro (PSC-RJ), subproduto do ódio que lançaram contra o PT".

"Agora, são eles que têm vergonha de colocar aquela camisa verde-amarelo quando se diziam ser brasileiros e nós não", comentou. Ele ainda cutucou o prefeito paulistano, João Doria (PSDB), um de seus críticos mais veementes, ao citar ações na cracolândia da capital paulista. "Essas pessoas não podem ser tratadas como caso de polícia, elas são dependentes".

No discurso, Lula brincou dizendo que colocará em seu nome o termo "Lulinha paz e amor" pelo qual ficou conhecido na eleição presidencial de 2002, a primeira que venceu depois de três tentativas.

E voltou a exaltar o PT, que encolheu nas disputais eleitorais do ano passado. "Nós sofremos uma derrota muito grande na eleição para prefeito em 2016. Teve fotografia até de enterro do PT", pontuou. "O PT ressurgiu das cinzas e vai voltar a ser um partido grande", declarou.

INTERPRETAÇÃO

Mais cedo, a nova presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) criticou o julgamento que absolveu a chapa Dilma-Temer. "O TSE mudou sua interpretação para manter Temer no governo".

Ela não considerou que a decisão de ontem era sobre a ex-presidente Dilma, mas apenas a respeito do atual mandatário. "Se fosse a Dilma, não tenho dúvida nenhuma, eles iriam continuar o mesmo processo iniciado, com a colocação de provas que não serviam naquele momento, mas iam retirá-la da presidência".

Para a senadora, Temer não tem condições de governar. Ela fez um discurso em apoio a uma nova eleição para o Planalto. "Nós vamos ficar com um presidente que está morto já, tentando se proteger e não governando o Brasil".

Gleisi, que é alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), disse que, "infelizmente", há "participação do poder judiciário no processo político do país". "E isso é muito ruim para a estabilidade das nossas instituições", avaliou.

Nesse contexto, ela denunciou uma "caçada" ao ex-presidente Lula, réu na Lava Jato. "Eles querem que o senhor não seja candidato a presidente porque se for, o senhor vai ganhar. Uma eleição neste país sem o Lula não é uma eleição, é uma fraude".


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