Folha de S. Paulo


Dono da Gol cita propina para campanha de Chalita

Lalo de Almeida/Folhapress
Temer (esq.) e Chalita (centro) no evento de lançamento da candidatura do peemedebista
Temer (esq.) e Chalita (centro) no evento de lançamento da candidatura de Chalita, em 2012

A campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012 teria sido irrigada com dinheiro de propina do empresário Henrique Constantino, acionista da Gol Linhas Aéreas. Hoje no PDT, Chalita pertencia ao PMDB à época.

A afirmação foi feita pelo empresário aos procuradores das operações Sepsis e Cui Bono?, que apuram um suposto esquema de pagamento de suborno de empresários interessados em ter acesso a dinheiro do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS).

Chalita teria recebido parte de um total de R$ 10 milhões que foi dividido entre políticos do PMDB. Não há registro de doações de empresas da família Constantino à campanha de Chalita, que perdeu a eleição para Fernando Haddad (PT).

Constantino negocia há meses um acordo de delação premiada, que ainda não foi aceito pelo Ministério Público Federal. Ele é investigado por suspeita de ter subornado políticos do PMDB para conseguir aporte do fundo a uma de suas empresas.

Após os pagamentos aos peemedebistas, a empresa Via Rondon, concessionária de rodovias que pertence à família Constantino, recebeu um empréstimo de R$ 300 milhões do FI-FGTS.

O PMDB controlava postos-chaves na Caixa Econômica Federal, que administra e libera dinheiro do fundo.

Segundo a investigação, Constantino fez contatos com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro para a liberação do aporte do fundo. Ambos estão presos na Operação Lava Jato.

Chalita também é citado em outra delação. O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse, em depoimento, que recebeu pedido de propina do presidente Michel Temer para financiar a campanha de Chalita, em 2012. O valor acertado entre ambos, segundo Machado, foi de R$ 1,5 milhão.

O pagamento teria saído dos cofres da empreiteira Queiroz Galvão. Temer, na ocasião, disse que as informações de Machado eram inverídicas.

O suposto pagamento de suborno por parte de Constantino já foi alvo da delação do ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fabio Cleto, indicado ao cargo pelo grupo de Cunha, que admitiu ter recebido propina para ajudar o empresário a conseguir dinheiro do fundo.

Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, preso nessa terça (6), também foi citado na proposta de delação de Constantino. O empresário teria relatado que Alves participou com Cunha e Funaro de uma conversa onde teriam acertado propina para o PMDB relacionada à liberação do dinheiro do FI-FGTS.

PERGUNTAS DE CUNHA

Na sexta (2) Cunha protocolou na 10ª Vara Federal de Brasília 22 perguntas ao presidente Michel Temer no âmbito do processo em que é acusado de cobrar propina de empresários em troca de liberação de dinheiro do FI-FGTS. Entre elas, há questionamentos sobre doação à campanha de Gabriel Chalita, em 2012. Também citou a demanda de Constantino no FI-FGTS.

"Vossa Excelência conhece Henrique Constantino? Esteve alguma vez com ele? Qual foi o tema? Tinha a ver com algum assunto ligado ao financiamento do FI-FGTS?", perguntou no item 16.

Em seguida, Cunha diz que "a denúncia (da Operação Cui Bono?) trata da suspeita do recebimento de vantagens indevidas" e lista várias empresas, entre elas a BR Vias, braço rodoviário das empresas da família Constantino que controla a Via Rondon.

Cunha pergunta então se Temer "tem conhecimento, como presidente do PMDB até 2016, se essas empresas fizeram doações a campanhas do PMDB? Se sim, de que forma?". Pergunta em seguida se "alguma delas fez doação para a campanha de Gabriel Chalita em 2012?". E arremata: "se positiva a resposta, houve a sua participação? Estava vinculada à liberação desses recursos da Caixa no FI-FGTS?"

OUTRO LADO

Gabriel Chalita disse que "os recursos da campanha da eleição municipal de São Paulo de prefeito, vice e vereadores vieram do PMDB nacional, que se responsabilizou pela arrecadação". Ele acrescentou que "a pequena parte arrecadada pelo comitê de campanha foi devidamente registrada no TRE e todas as contas foram aprovadas pelo TRE de São Paulo".

O advogado Rodrigo Rios, que defende o ex-deputado federal Eduardo Cunha, disse que "a respeito desses fatos irá se manifestar apenas em juízo".

Bruno Espiñeira Lemos e Victor Minervino Quintiere, que advogam para Lúcio Bolonha Funaro, enviaram nota onde dizem que seu cliente não tem nada a declarar.

O empresário Henrique Constantino disse, também em nota, que "está à disposição das autoridades para o total esclarecimento dos fatos".


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