Folha de S. Paulo


Operador cita remessas a mais um ex-secretário do 'núcleo' de Cabral

Carlos Magno/Divulgação
22/10/2012; Rio de Janeiro; Secretário de Estado Chefe da Casa Civil, Regis Fichtner na Entrevista coletiva sobre a convocação para a audiência pública que tratará da modelagem da concessão do Complexo do Maracanã; Fotos: Carlos Magno ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Regis Fichtner, secretário de Estado Chefe da Casa Civil, apresenta o plano de concessão do Maracanã

Apontado como o "carregador de malas" da quadrilha de Sérgio Cabral, Luiz Carlos Bezerra citou em depoimento mais um ex-secretário estadual do Rio, membro do núcleo mais próximo do ex-governador.

Ele afirmou ter levado dinheiro vivo para o advogado Régis Fichtner, chefe da Casa Civil por toda a gestão do peemedebista. De acordo com o relato, ele fez quatro entregas de R$ 100 mil ao ex-secretário no Palácio Guanabara e em seu escritório de advocacia.

Fichtner é um dos secretários presentes à festa que ficou conhecida como "farra dos guardanapos" —ele não aparece com o adereço na cabeça nas fotos. É a primeira vez que o nome dele é citado nas investigações.

O advogado é identificado, segundo o depoimento, com os apelidos "Alemão" e "Gaúcho" nos bilhetes e cadernos apreendidos na casa de Bezerra. As anotações funcionavam como uma contabilidade do operador de Cabral para controlar o recolhimento e entrega de dinheiro feitos a mando do ex-governador.

Sem ter ainda firmado uma delação premiada, Bezerra vem auxiliando os investigadores a desvendar a quem se referem os inúmeros apelidos de sua "contabilidade paralela".

Graças ao seu depoimento foi possível identificar a propina supostamente paga pelo empresário Marco Antônio de Luca, dono de fornecedora de refeições para o Estado. Identificado como "Louco" nos manuscritos, ele foi preso na semana passada.

A identificação de Fichtner envolve mais uma vez o "núcleo duro" da gestão Cabral, formado também por Wilson Carlos, ex-secretário de Governo preso. O ex-secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, outro participante da "farra dos guardanapos", também está detido.

Fichtner teve participação direta na execução de grandes contratos do Estado. Ficava sob sua responsabilidade, por exemplo, a execução da obra da linha 4 do metrô, alvo de investigações e que já gerou prisões e ação penal contra Cabral.

Também esteve na alçada do advogado desde 2011 o contrato de locação e manutenção de veículos com a Julio Simões para a Polícia Militar, um dos mais caros do Estado. Este acordo é tema de uma ação movida pelo Ministério Público estadual, que tem como réu o ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame –responsável pelos contratos de 2007 a 2010.

Foi ainda o responsável pelo edital de concessão do Maracanã.

Ele, contudo, não foi alvo das operações deflagradas desde novembro. O nome dele ainda não havia aparecido de forma concreta nas investigações, como agora. Cabral é acusado de obter propina de 5% nos maiores contratos do Estado em diferentes áreas.

Fichtner foi suplente de Cabral no Senado (2002 a 2006) e chefe da procuradoria da Assembleia Legislativa quando o peemedebista comandava a Casa. O ex-governador delegava ao escritório da família do advogado a sua defesa em ações populares que correm na Justiça estadual. Em fevereiro, o representante nos processos foi trocado.

OUTRO LADO

Em nota, o advogado afirmou que a acusação é "leviana e inverídica".

"Régis Fichtner nunca recebeu qualquer vantagem financeira indevida de quem quer que seja. Pelo contrário, pode comprovar que perdeu patrimônio no período em que se retirou do escritório de advocacia para atuar exclusivamente no setor público", diz nota de sua assessoria de imprensa.

"Até o momento, Regis não foi contatado pelas autoridades para tratar do tema, mas reforça que está e sempre estará à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários", diz a nota.


Endereço da página:

Links no texto: