Folha de S. Paulo


Biografia aponta como Teotônio Vilela saiu da Arena para oposição à ditadura

20.set.1978/Folhapress
Teotônio Vilela, alagoano que foi de boiadeiro a senador
Teotônio Vilela, alagoano que foi de boiadeiro a senador

No início da década de 60, Teotônio Vilela era vice-governador de Alagoas, seu Estado natal, pela UDN, partido adepto do liberalismo na economia e do conservadorismo nos costumes.

O governador era o major Luiz Cavalcante, que bem definiu o companheiro de chapa. "Os contrastes do Brasil, Teotônio, estão harmonizados em você."

A frase aparece no sétimo dos 16 capítulos da recém-lançada biografia "Senhor República - A Vida Aventurosa de Teotônio Vilela, um Político Honesto", do jornalista Carlos Marchi, autor de livros como "Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade", sobre o colunista político Carlos Castello Branco, o Castellinho.

O adjetivo "aventuroso" pode soar, à primeira vista, peça de autopromoção, mas está, de fato, em consonância com uma trajetória marcada por reviravoltas.

Sem formação universitária, Teotônio foi boiadeiro e depois dono de usina de açúcar antes de entrar para a política.

Como homem público, elegeu-se deputado estadual e vice-governador pela UDN, sempre com o apoio da elite econômica de Alagoas.

Ao tomar posse no Senado, Teotônio passou a expor sua insatisfação com a ditadura, mesmo sendo membro da Arena, partido da situação.

Ao longo dos anos 70, o confronto com o poder se acentuou até que, a convite de Ulysses Guimarães, presidente do MDB, Teotônio se filiou à legenda de oposição.

No MDB a partir de 1979, o senador ganhou notoriedade na ala do partido mais inclinada à esquerda. O caminho do usineiro surpreendia o mundo político.

Aliás, compreender as razões para essa guinada ideológica foi o maior desafio do trabalho de apuração para o livro, conta o autor.

"Concluí que dois aspectos influenciaram a mudança. Um foi a sua imersão na causa da anistia e a revelação dos porões do regime militar, que até então ele desconhecia, induzindo-o a fazer mea-culpa do apoio que dera ao golpe de 1964", afirma Marchi.

"Outro foi a influência que a futura prefeita de Fortaleza Maria Luíza Fontenele passou a exercer sobre ele –ela, que, dentro do PT, militava na radicalíssima ala do Partido Revolucionário Comunista."

Nos últimos anos de vida (morreu em 1983), Teotônio manteve caso de amor com Maria Luíza. O romance, porém, não afetou a vida familiar –era casado com Lenita, com quem teve sete filhos.

É, aliás, na fase final da vida que surgem algumas das melhores histórias.

Marchi narra como Teotônio conseguiu entrar no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo para visitar Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que estava preso no local.

Expoente do MDB com maior interlocução com os sindicalistas, o senador precisava do aval de Lula para avançar nas negociações em torno da greve de 1980.

O autor também reconstitui a criação de "Menestrel das Alagoas", de Milton Nascimento e Fernando Brant. Composta em homenagem a Teotônio, a música foi interpretada pela primeira vez por Fafá de Belém, de quem o senador se tornou amigo.

Vez ou outra, "Senhor República" cai em descrições de gosto duvidoso. Sobre o caso de amor, Marchi escreve: "A flecha de Cupido voou sobre as cabeças das pessoas e pousou suavemente no peito do velho boiadeiro de 62 anos".

Senhor República
Carlos Marchi
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São, contudo, tropeços pontuais. Prevalecem a fluência e a sobriedade, sem arroubos de estilo.

SENHOR REPÚBLICA

Autor Carlos Marchi

Editora Record (448 páginas)

Quanto R$ 62,90

Classificação muito bom


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