Folha de S. Paulo


Procuradoria suspeita de propina a Cabral por contrato na Rio-16

Daniel Marenco/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 14-06-2013, 10h30: Foi dado na manha desta sexta-feira (14), no Complexo Esportivo da Rocinha, zona sul do Rio, o pontape inicial do PAC 2. O projeto investira R$ 2,6 bilhoes em tres favelas cariocas: Rocinha, na zona sul; Jacarezinho, zona norte e Complexo do Lins, na zona oeste. Do total, R$ 1,8 bilhao cabera ao governo federal, e R$ 800 milhoes ao Estado. A cerimonia contou com as presencas da presidente Dilma Rousseff, do prefeito Eduardo Paes, governador Sergio Cabral e seu vice Luiz Fernando Pezao. Em seu discurso de cerca de 30 minutos, Dilma exaltou as obras do PAC e disse estar orgulhosa. (Foto: Daniel Marenco/Folhapress, PODER)
MPF investiga os contatos do ex-governador do Rio com a empresa Masan

O Ministério Público Federal suspeita que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB) recebeu propina por contrato firmado pela empresa Masan Serviços Especializados com o comitê organizador da Olimpíada de 2016.

No pedido de prisão do empresário Marco Antônio de Luca, sócio da Masan, a Procuradoria lista seis contratos da empresa com a Rio-16. A firma forneceu mão de obra para limpeza e atendimento, além de refeições, a partir de setembro de 2015. A procuradoria solicitou informações ao comitê sobre os acordos.

Bilhetes apreendidos na casa de Luiz Carlos Bezerra, responsável por recolher o dinheiro de propina da quadrilha, atribuem a Luca o pagamento de R$ 3,05 milhões em 2016 —são os valores indicados a "Louco", apelido dado ao empresário.

"Há indicativos de pagamento de propina após a saída do ex-governador. E foi quando a Olimpíada ocorreu. São indicativos. Vamos analisar as informações a serem enviadas pelo comitê. A partir daí, somando as informações que já temos, vamos tirar nossas conclusões", afirmou a procuradora Fabiana Schneider, da força-tarefa da Lava Jato no Rio.

O comitê organizador dos Jogos inicialmente usaria apenas recursos privados em seu orçamento. Contudo, às vésperas dos Jogos, precisou de socorro financeiro dos governos. A União viabilizou patrocínios dias antes da abertura. A Prefeitura do Rio repassou R$ 30 milhões, num convênio que previa no total R$ 150 milhões.

Parte desse dinheiro foi usados nas intervenções emergenciais na Vila dos Atletas, que apresentou problemas após a chegada dos hóspedes. Um dos contratos da Masan foi firmado justamente por esse motivo. O objeto do acordo foi "prestação de serviços de limpeza e manutenção predial em caráter emergencial na Vila dos Atletas".

A Procuradoria cita ainda no pedido de prisão preventiva de Luca a ajuda emergencial de R$ 2,9 bilhões dada pelo governo federal ao Estado para a realização do evento, além do investimento em arenas e convênios feitos com o COB (Comitê Olímpico do Brasil). Esses recursos, contudo, não passaram pelo comitê organizador dos Jogos.

OUTRO LADO

O comitê organizador afirmou que o maior contrato da Masan foi submetido a aprovação no Conselho Diretor da entidade duas vezes. O colegiado conta com dez pessoas, sendo três dos governos federal, estadual e municipal.

A entidade diz ainda que a contratação emergência da empresa de Luca ocorreu porque ela era a única capaz de fornecer mão de obra na quantidade e velocidade exigida para solucionar os problemas da Vila dos Atletas. Este contratação também foi submetida ao conselho.

"Não há a mínima chance de Cabral ter influência no conselho. E ainda devemos à Masan. Se houvesse algum apadrinhamento, ela teria recebido", disse o diretor de Comunicação da Rio-16, Mario Andrada. A dívida da entidade com a empresa é de R$ 16 milhões.

O grupo Masan afirmou em nota que todas as licitações na gestão Cabral foram obtidas por meio de licitação ganhas pela modalidade menor preço.

"A Masan ressalta ainda que nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história. A empresa sofre hoje, como todos os prestadores de serviços, com a inadimplência do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que chega à casa de R$ 70 milhões. O passivo, iniciado em 2010, vem sendo cobrado na instância administrativa. A empresa sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários sobre suas operações", diz nota.

A nota não faz menção aos acordos com a Rio-16. A defesa de Cabral disse que vai se manifestar no processo.


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