Folha de S. Paulo


Polícia Federal prende empresário de quentinhas envolvido com Cabral

Pedro Teixeira/Agência O Globo
O empresário Marco Antonio de Luca é levado pela PF em operação desta quinta (1º) no Rio
O empresário Marco Antonio de Luca é levado pela PF em operação desta quinta (1º) no Rio

A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira (1º) o empresário Marco Antônio de Luca, do grupo Masan, responsável pelo fornecimento de alimentação para o governo do Rio.

Ele é acusado de pagar propina para o esquema do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB).

A operação Ratatouille é mais um desdobramento da Lava Jato no Rio. De Luca é um dos que estavam presentes na festa em Paris com Cabral, secretários de governo e empresários, em 2009. O episódio ficou conhecido como "farra dos guardanapos"

Segundo a PF, o pagamento total de propina a agentes públicos feito pela empresa chega a R$ 12,5 milhões.

De Luca apareceu nos bilhetes apreendidos na casa de Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador financeiro do esquema de Cabral.

Com o apelido "Louco", é atribuído a ele nesses papéis o repasse de R$ 3,7 milhões entre agosto de 2014 e novembro de 2016. A última parcela, de R$ 100 mil, foi paga uma semana antes da prisão de Cabral, segundo as anotações.

O empresário já havia sido citado em delação premiada do ex-presidente do TCE-RJ, Jonas Lopes. De acordo com ele, Cabral chegou a "pechinchar" o percentual de propina pago pela transferência de R$ 60 milhões de um fundo do tribunal para o governo do Rio a fim de quitar dívidas com fornecedores de alimentos de presídios, em 2015 –já sob governo Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Segundo Lopes, o ex-governador pediu para que a taxa referente ao grupo Masan fosse reduzida de 12% para 15%. Na conversa, disse ao conselheiro licenciado que Luca era "um amigo muito próximo".

O grupo Masan fornece refeições para presídios, escolas, Polícia Militar e hospitais. De acordo com o Portal Transparência, empresas envolvidas no esquema firmaram contratos com valor total de R$ 900 milhões desde 2007 –dos quais R$ 96,2 foram assinados no governo Pezão.

A procuradora Fabiana Schneider afirmou que a propina foi paga com superfaturamento dos contratos com o Estado. "É como diz o ditado: não há quentinha grátis".

De acordo com a PF, a operação cumpre ainda nove mandados de busca e apreensão nos municípios de Mangaratiba e Duque de Caxias.

Cabral está preso desde novembro acusado de cobra 5% de propina sobre os principais contratos do Estado.

OUTRO LADO

O grupo Masan afirmou em nota que todas as licitações obtidas na gestão Cabral foram obtidas por meio de licitação ganhas pela modalidade menor preço.

"A Masan ressalta ainda que nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história. A empresa sofre hoje, como todos os prestadores de serviços, com a inadimplência do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que chega à casa de R$ 70 milhões. O passivo, iniciado em 2010, vem sendo cobrado na instância administrativa. A empresa sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários sobre suas operações", diz nota.

A nota afirma que Marco de Luca não faz parte da Masan desde agosto de 2015 e nunca participou do quadro societário da Milano –esta empresa pertence a familiares, segundo o MPF.

FARRA DOS GUARDANAPOS

Depoimento dado por Bezerra há um mês na Justiça Federal envolveu todos os empresários que aparecem nas fotos da "farra dos guardanapos". Além de Luca, ele citou Fernando Cavendish e George Sadala.

Cavendish está em prisão domiciliar em decorrência da Operação Saqueador. Sadala –identificado nos bilhetes com o apelido de "Salada"– é o único que ainda não foi alvo da Operação Lava Jato. Ele é sócio do consórcio Agiliza Rio, que foi responsável pelo Rio Poupatempo na gestão Cabral.


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