Folha de S. Paulo


Com apoio de Hélio Bicudo, Modesto Carvalhosa quer ser presidente do país

Bruno Poletti - 30.nov.2015/Folhapress
Jurista Modesto Carvalhosa se lança candidato à presidência para possível eleição indireta
Jurista Modesto Carvalhosa se lança candidato à presidência para possível eleição indireta

Nascido no ano da Revolução Constitucionalista de 1932, o jurista Modesto Carvalhosa tinha 22 anos quando Getúlio Vargas se suicidou. Fez 32 em março de 1964, mês em que os militares tomaram o poder no país. Aos 53, testemunhou o vendaval político que se seguiu à morte de Tancredo Neves. Crise igual à de 2017, contudo, nunca viu.

"Essa, realmente, é a mais grave. Não há nenhuma condição", diz.

Conta que decidiu, então, aceitar a proposta feita por amigos como Hélio Bicudo, 94, e José Carlos Dias, 78, mais "um monte de jovens da faculdade", num encontro em seu escritório de advocacia que se estendeu ao restaurante Santo Colomba, nos Jardins paulistanos. Aos 85, Modesto quer virar presidente do Brasil.

A campanha é para que o professor aposentado da Faculdade de Direito da USP seja eleito em eleições indiretas, numa eventual queda de Michel Temer. Por dez anos, superaria o atual presidente como o mais velho mandatário a assumir o Palácio do Planalto –o peemedebista tinha 75 anos na posse.

Carvalhosa não possui filiação partidária, o que poderia impedir sua candidatura. Há um impasse jurídico se um pleito decidido pelos 513 deputados e 81 senadores pode acatar nomes sem partido. A Constituição exige que, numa eleição com voto popular, só concorra quem é de uma sigla.

Para Carvalhosa, sua candidatura justamente "colocaria em choque essa posição do Congresso, para ver se [parlamentares] são fechados mesmo ou se aceitam nome da sociedade civil". Continua: "Se disserem que é 'nós com nós', mostram que não há nenhuma democracia no Brasil".

Cofundador do PT que depois assinaria o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Bicudo gravou um vídeo para manifestar apoio ao colega. "Pra mim foi uma surpresa Carvalhosa se prestar a esse serviço. Estamos precisando de uma pessoa que sirva à nação, e não se sirva dela."

O jurista seria esse alguém "de reputação ilibada, homem de grande estatura moral", afirma.

Na mesma toada vai José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça de FHC. Em seu depoimento, defende "um grande nome da sociedade civil que não esteja integrando o Congresso, mas que venha a ser aprovado [por ele] e que mereça o apoio de todos os partidos". Seria Modesto, dono de "perfil ético e inatacável".

Nos ditatoriais anos 1970, Carvalhosa presidiu a Associação de Docentes da USP e liderou uma greve contra o regime militar. Já comandou o Tribunal de Ética da OAB-SP e lançou em 1995 "O Livro Negro da Corrupção", sobre os escândalos que fizeram tombar Fernando Collor.

Hoje, se tiverem que eleger um presidente, os congressistas pendem para uma solução caseira (o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM), ou personas com carimbo político, como o senador Tasso Jereissati (PSDB) e o ex-ministro Nelson Jobim (PMDB).

Eleito fosse, sua primeira medida seria "convocar todos os parlamentares no sentido de criar condições de governabilidade maior". O alvo é claro: pôr em marcha duas reformas paralisadas, a previdenciária e a trabalhista.

Diz estar com "uma disposição muito boa" para tamanho desafio a essa altura da vida. "O importante é fazer uma nova Constituição independente para refundar a República. [O que não dá é] uma crise ontem, hoje, amanhã."


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